Pular para o conteúdo principal

Ugo Giorgetti - Final

Por que, em seus filmes, a maior parte das cenas se passa em ambientes fechados, dentro de um único cenário?

Por falta de dinheiro, basicamente. Quer dizer, há outras razões. Mas é aí que está toda a criatividade. A criatividade não está em fazer um filme, mas em fazer o melhor filme possível dentro de um dinheiro que você supõe que vai conseguir. Por exemplo, em Festa, eu sabia que não ia encontrar no mercado mais de 250 mil dólares. Naquela época, em 1988, era uma loucura fazer cinema: não tinha nenhuma lei de incentivo, e a Embrafilme agonizava. É evidente que você pode fazer um filme com 250 mil dólares, um filme porquíssimo. Mas algo tecnicamente razoável, isto é, num nível internacional de cinema, só é possível se você controla a produção muito bem. E o lugar onde se tem o controle total é o estúdio. Fora do estúdio, tudo fica muito complicado, o diretor se defronta com o imponderável. No estúdio, há os imprevistos, mas eles são menores e mais controláveis.



Boleiros também se passa em um único espaço?

Não. Mas também em Boleiros não tem jogo. Só tem uma partida, que a gente teve de encenar, entre duas equipes pequenas, num campo pequeno, com pouca gente vendo - de propósito. A maior parte do filme se passa dentro de um bar - um cenário montado em estúdio, tudo direitinho - onde alguns boleiros estão conversando. Eles desencadeiam o filme, fazem comentários, contam histórias e casos uns para os outros. Quando fomos para a rua, foi terrível. Não temos a cultura da locação. E Boleiros tem 28 locações diferentes, infelizmente. Uma equipe grande causa problemas até geográficos: você não sabe onde colocar uma cadeira, onde vai o gerador. Cinema você aprende... E cada vez que o Brasil pára de fazer cinema, tem de recomeçar do zero ou do que restou dos filmes.



Todas as soluções de um filme estão no roteiro?

Sim. A solução para todos os filmes está no roteiro. É um engano achar que depois vai se achar uma saída para o filme.



De que tipo de cinema, de quais filmes e diretores você gosta?

Eu não sou um cinéfilo. Fui atirado ao cinema por circunstâncias absolutamente estranhas à minha vontade. Quando eu fui trabalhar com publicidade, achei que o departamento de Rádio-TV era interessante. Tinha uma aura que me parecia mais criativa. Quando eu comecei a filmar comerciais de televisão, percebi que por aquele meio talvez eu pudesse me expressar de alguma maneira. Fora isso, eu vi filmes, claro. Vi muitos filmes. Mas nunca li e jamais lerei um livro sobre cinema, é chatíssimo. Há falhas na minha cultura cinematográfica, eu diria, graves, vazios respeitáveis. Pensando bem, talvez eu tenha influência não de cineastas obscuros, mas de cineastas que estão de fora. Agrada-me muito um certo cinema italiano, muito subestimado, mas que colocou a Itália no mapa do cinema - um tipo de comédia popular feita pelo Mario Monicelli, pelo Dino Risi. Agrada-me exatamente porque se inclinou diante do povo. Era um cinema que não tinha respaldo. Antonioni, só para dar um exemplo, também faz parte dessa grande "turma" que precisa de um apoio intelectual permanente. Um filme dele, por exemplo, é de um conto de Julio Cortázar. Visconti tem Thomas Mann, Camus, embora eu concorde que tanto ele quanto Antonioni tenham roteiros originais belíssimos. Monicelli, Risi colocavam a si mesmos e tinham uma idéia importante: a noção de que cinema é entretenimento também. Foi o que fez a Itália se jogar para o mundo, e precedeu a Visconti, a Fellini, a toda essa gente.

Comentários

Postagens Mais Lidas

literatura Canadense

Em seus primórdios, a literatura canadense, em inglês e em francês, buscou narrar a luta dos colonizadores em uma região inóspita. Ao longo do século XX, a industrialização do país e a evolução da sociedade canadense levaram ao aparecimento de uma literatura mais ligada às grandes correntes internacionais. Literatura em língua inglesa. As primeiras obras literárias produzidas no Canadá foram os relatos de exploradores, viajantes e oficiais britânicos, que registravam em cartas, diários e documentos suas impressões sobre as terras da região da Nova Escócia. Frances Brooke, esposa de um capelão, escreveu o primeiro romance em inglês cuja ação transcorre no Canadá, History of Emily Montague (1769). As difíceis condições de vida e a decepção dos colonizadores com um ambiente inóspito, frio e selvagem foram descritas por Susanna Strickland Moodie em Roughing It in the Bush (1852; Dura vida no mato). John Richardson combinou história e romance de aventura em Wacousta (1832), inspirada na re

Papel de Parede 4K

Chave de Ativação do Nero 8

1K22-0867-0795-66M4-5754-6929-64KM 4C01-K0A2-98M1-25M9-KC67-E276-63K5 EC06-206A-99K5-2527-940M-3227-K7XK 9C00-E0A2-98K1-294K-06XC-MX2C-X988 4C04-5032-9953-2A16-09E3-KC8M-5C80 EC05-E087-9964-2703-05E2-88XA-51EE Elas devem ser inseridas da seguinte maneira: 1 Abra o control center (Inicial/Programas/Nero 8/Nero Toolkit/Nero controlcenter) nunca deixe ele atualizar nada!  2 Clic em: Licença  3 Clica na licença que já esta lá dentro e em remover  4 Clica em adcionar  5 Copie e cole a primeira licença que postei acima e repita com as outras 5

Como funciona o pensamento conceitual

O pensamento conceitual ou lógico opera de maneira diferente e mesmo oposta à do pensamento mítico. A primeira e fundamental diferença está no fato de que enquanto o pensamento mítico opera por bricolage (associação dos fragmentos heterogêneos), o pensamento conceitual opera por método (procedimento lógico para a articulação racional entre elementos homogêneos). Dessa diferença resultam outras: • um conceito ou uma idéia não é uma imagem nem um símbolo, mas uma descrição e uma explicação da essência ou natureza própria de um ser, referindo-se a esse ser e somente a ele; • um conceito ou uma idéia não são substitutos para as coisas, mas a compreensão intelectual delas; • um conceito ou uma idéia não são formas de participação ou de relação de nosso espírito em outra realidade, mas são resultado de uma análise ou de uma síntese dos dados da realidade ou do próprio pensamento; • um juízo e um raciocínio não permanecem no nível da experiência, nem organizam a experiência nela mesma, mas, p

Wallpaper 4K (3000x2000)

Inteligência & Linguagem

Não somos dotados apenas de inteligência prática ou instrumental, mas também de inteligência teórica e abstrata. Pensamos. O exercício da inteligência como pensamento é inseparável da linguagem, como já vimos, pois a linguagem é o que nos permite estabelecer relações, concebê-las e compreendê-las. Graças às significações escada e rede, a criança pode pensar nesses objetos e fabricá-los. A linguagem articula percepções e memórias, percepções e imaginações, oferecendo ao pensamento um fluxo temporal que conserva e interliga as idéias. O psicólogo Piaget, estudando a gênese da inteligência nas crianças, mostrou como a aquisição da linguagem e a do pensamento caminham juntas. Assim, por exemplo, uma criança de quatro anos ainda não é capaz de pensar relações reversíveis ou recíprocas porque não domina a linguagem desse tipo de relações. Se se perguntar a ela: "Você tem um irmão?", ela responderá: "Sim". Se continuarmos a perguntar: "Quem é o seu irmão?", ela r