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Cidade


Desde o período neolítico, quando apareceram os primeiros núcleos urbanos, as cidades desempenharam papel decisivo no desenvolvimento da civilização.

Pode-se definir cidade como um centro relativamente permanente e muito organizado, que conta com numerosa população. Segundo critérios mais descritivos, cabe acrescentar que a cidade forma uma concentração de prédios, separados ou ligados entre si por ruas, parques e praças. Seus habitantes exercem atividades econômicas diversas, salvo a agricultura e a pecuária, cujos produtos vêm de fora.

Distingue-se de outros núcleos, como os povoados ou vilas, devido ao maior número de habitantes e à complexidade de suas atividades. Os movimentos diários da população de uma cidade também são diferentes, pois os que habitam as zonas rurais movem-se em espaços muito reduzidos, enquanto nas cidades ocorrem importantes deslocamentos matinais da periferia para o centro, onde se acham os locais de trabalho. À noite, produz-se o fenômeno inverso, em direção aos bairros residenciais ou às cidades-dormitórios.

No tocante à funcionalidade, à estrutura, ao tamanho e à localização, cabe distinguir diversas formações urbanas. Assim, segundo as atividades nelas predominantes, existem cidades religiosas, como Meca ou o Vaticano; turísticas, como Toledo ou Veneza; comerciais, como Hong Kong; e administrativas ou políticas, como Brasília.

Quanto à estrutura, há cidades lineares, que cresceram ao longo de uma via de comunicação; estreladas, como as cidades defensivas construídas na França pelo conde de Vauban no século XVII; octogonais ou em forma de tabuleiro de xadrez, segundo o modelo romano recuperado na época moderna pelas cidades que os espanhóis construíram nas Américas; ou concêntricas, como Moscou e Viena.

Em função do tamanho, existe grande variedade de núcleos urbanos, que vão desde a pequena capital de província às grandes megalópoles ou às gigantescas formações urbanas que se estendem por centenas de quilômetros, como ocorre na costa leste dos Estados Unidos ou na região holandesa de Randstad.

No que toca ao fator geográfico, há cidades, como Lisboa, que se localizam na foz de um rio; São Francisco, na costa marítima; Quito, no planalto andino; e Madri, no centro do país, caso este em que influíram fatores políticos.

Finalmente, a história determinou também a existência e superposição de diferentes tipos de aglomerações urbanas com suas características peculiares: antigas, medievais, pré-colombianas, renascentistas, barrocas, orientais ou contemporâneas.


Antiguidade

As primeiras cidades apareceram no neolítico ou idade da pedra polida, quando se desenvolveram técnicas rudimentares de cultivo que asseguraram excedentes alimentícios suficientes para manter grupos de trabalhadores não-agrícolas. Esse agrupamento sedentário levou ao emprego de materiais de construção mais duráveis, como pedras e tijolos. Os progressos no padrão de vida provocaram um aumento de população e geraram a necessidade de infra-estruturas diversas para transporte, organização social e comércio. Tornou-se igualmente necessário o controle das áreas agrícolas circunjacentes para garantir a alimentação de seus habitantes.

Muito embora Jericó, na Palestina, já no sexto milênio antes da era cristã, dispusesse de um notável sistema defensivo, as primeiras cidades importantes da Mesopotâmia só surgiram em torno do ano 3000 a.C., nos vales dos rios Indo, Wei  no norte da China e Nilo. Mais tarde surgiram no Mediterrâneo as cidades fenícias de Tiro e Sidon e a cretense Cnossos.

As cidades foram inicialmente formadas por tribos diversas, que se agruparam para defender-se de povos rivais. Por isso, logo adquiriram caráter militar e a guerra constituiu o único meio possível de conservar ou expandir seu território. Daí a propriedade da terra ter sido primeiro comunal. Depois surgiu a propriedade privada de bens móveis e imóveis. Graças à diversificação do trabalho, foi possível adquirir objetos variados, mediante troca ou compra. Todas as cidades antigas já estabeleciam uma hierarquia social bem definida e cada classe desempenhava uma função específica.

Na Grécia antiga, entre 1600 e 1200 a.C., floresceu a civilização micênica em cidades como Micenas, Tirinto e Argos. Seus habitantes foram magníficos construtores, que erigiram palácios atrás de espessas muralhas. Quando essa cultura chegou ao fim, a urbanização se propagou por toda a península helênica na forma de pólis ou cidade-estado. A pólis grega incluía as terras em volta e era o ponto de reunião das pessoas que viviam dentro de seus muros e fora deles. O alto grau de especialização profissional e os atritos entre as diversas classes sociais movimentavam a vida na pólis.

Havia também conflitos bélicos periódicos em que se confrontavam cidades próximas e rivais entre si. Atenas, Esparta e Tebas contam-se entre as pólis mais conhecidas.

O auge do comércio grego levou à criação de colônias organizadas segundo o modelo das metrópoles. Siracusa e Crotona, na Magna Grécia (sul da Itália), e Éfeso e Mileto adquiriram grande renome.

O domínio das cidades-estados terminou com o Império Romano, que por sua vez havia surgido de outra espécie de cidade-estado, Roma, cujo crescimento como centro econômico e administrativo do império criou novos e graves problemas urbanísticos e de controle social. Feitos romanos, como a construção de aquedutos, estradas, templos e casas de espetáculos, bem como as edificações em torno do foro e a abertura de vias perpendiculares, precisaram de séculos para serem superados. Os romanos, cujo espírito era mais prático que estético, assimilaram as arquiteturas grega e etrusca e se voltaram especialmente para as grandes obras de engenharia. Foram os primeiros a utilizar o concreto como material de construção e difundiram pela Europa o uso do tijolo cozido.

Idade Média

Depois das invasões dos bárbaros, prevaleceu na Europa ocidental a economia de subsistência; a cultura urbana entrou em declínio, pois os citadinos fugiram, temendo saques e falta de alimentos. Em torno do ano 1000, uma agricultura próspera permitiu o ressurgimento da civilização urbana e comercial, em que tiveram papel de destaque os artesãos e comerciantes. As cidades começaram a crescer e logo surgiram na Europa dezenas delas, com uma média de vinte mil habitantes. Para se defenderem das guerras, freqüentes na época feudal, algumas cidades se protegiam com muralhas e, em certas ocasiões, a população urbana refugiava-se nos castelos mais próximos. As ruas tortuosas e estreitas, próprias dessas cidades medievais, eram um recurso defensivo e uma proteção contra os rigores do clima. Entre as principais cidades que começaram a crescer no século XI cabe mencionar Rouen e Paris, na França; Hamburgo e Colônia, em terras germânicas; Gênova e Pisa, na península itálica; Santiago de Compostela  importantíssimo centro de peregrinação  e Barcelona, na Espanha.

Os modelos de crescimento urbano variaram muito entre o norte e o sul da Europa. No norte, as cidades cresceram quase a partir do nada, pois nessa região a tradição urbana era inexpressiva. Já na zona do Mediterrâneo, as antigas povoações serviram de núcleo para uma nova expansão. Na Itália, por exemplo, renasceu o conceito mediterrâneo de cidade-estado, cujo meio de vida passaria a ser o comércio. Milão, Florença e Veneza contavam-se entre as mais importantes.

Renascimento

Passado o período medieval, as cidades transformaram-se em base para a expansão da economia e do comércio. As feiras, que na Idade Média eram temporárias, tornaram-se permanentes em algumas cidades, o que propiciou o crescimento de uma classe mercantil. Paralelamente, o surgimento dos estados modernos, como ocorreu na Espanha e na França, levou ao surgimento de núcleos urbanos com uma função política de cunho centralizador, pois era a partir deles que se controlava toda a nação unificada. Por outro lado, o Renascimento inspirou, sobretudo na América, a construção de cidades ideais com plantas quadriculadas, como as romanas. As que já existiam foram urbanizadas com praças e edifícios monumentais.

Culturas não-européias

A cidade não foi somente um fenômeno europeu, nem característico das antigas civilizações. Cidades sempre existiram, em todas as partes do mundo e em todas as épocas. Na África, antes da colonização européia, existiam cidades importantes, que entraram em decadência sobretudo quando a Europa intensificou o tráfico de escravos. Tombuctu, capital do Sudão ocidental no século XV, era uma cidade populosa que recebia mercadorias de regiões distantes. Zanzibar também se destacou como principal porto da África oriental.
Na América pré-colombiana floresceram importantes culturas. Houve notadamente na América Central e na cordilheira andina cidades espetaculares, cujas construções eram todas de pedra. Assim, a cultura olmeca, que surgiu por volta de 1100 a.C., destacou-se pelas cidades-templos de La Venta, Izúcar e Tlatilco. Entre os séculos IV e VIII, Teotihuacan, no vale do México, estendia-se por mais de vinte quilômetros quadrados e sua influência se irradiou por toda a América Central. Não menos impressionante foi a capital asteca, Tenochtitlan, sulcada por canais, que vivia uma fase de esplendor quando chegaram os espanhóis. No império inca destacou-se Cuzco, com suas grandes vias pavimentadas e suas casas de pedra, em cujo centro erguiam-se templos e palácios. Machu Pichu, a dois mil metros de altitude, é um exemplo notável de cidade-fortaleza.

Na Índia, país de tradicional civilização urbana, as cidades cresceram em redor de grandiosos templos e centros de peregrinação, como Benares. No século XIX,  como resultado da dominação britânica, as cidades da Índia passaram a adotar muitos conceitos urbanísticos ocidentais. Na antiga China, as cidades foram construídas segundo os princípios cosmológicos que influenciavam todos os processos naturais. Entre os séculos VII e VIII, a cidade de Changan, depois Xian, capital da dinastia Tang, foi uma das maiores cidades do mundo.

A cidade contemporânea

A revolução industrial, tornando possível um aumento de produtividade, transformou a vida das cidades. Puderam assim a Europa e depois outras regiões do mundo sustentar concentrações demográficas cada vez mais densas. Tudo começou nos séculos XVIII e XIX, quando o processo de produção industrial exigiu a concentração da mão-de-obra perto das fontes de energia e transporte. As cidades industriais apareceram rapidamente no Reino Unido, no noroeste da Europa e no nordeste dos Estados Unidos. Além disso, as já existentes viram sua população crescer. Em 1850, menos de sete por cento da população mundial vivia em centros urbanos de mais de cinco mil habitantes. Por volta de 1950, essa percentagem já excedia trinta por cento, e nas nações industrializadas, o dobro.

Posteriormente, as cidades registraram uma expansão vertiginosa não apenas nos países europeus, mas também na Ásia e na África, onde a taxa de crescimento demográfico urbano superou em muito a média nacional.  Na América Latina, produziu-se um fenômeno similar nas concentrações urbanas da Cidade do México, de São Paulo, de Santo Domingo, da cidade do Panamá, de Quito e de Lima.
As grandes cidades cresceram tanto que se transformaram em megalópoles e, hoje em dia, sofrem com problemas muito diversos, como delinqüência, poluição da atmosfera, crises de habitação, especulação imobiliária, escassez de espaços verdes e de lazer e desemprego. Por isso, os governos tendem a coordenar, planificar e, na medida do possível, limitar o crescimento urbano desordenado.

Brasil

Poucas cidades brasileiras nasceram como vilas e ainda mais raras são as que surgiram com a categoria de cidades. A regra geral, entre os embriões urbanos, é o povoado, com poucas dezenas de habitantes, uma ou duas ruas, às vezes uma pequena praça (onde se ergue a capela ou igreja). Quando esses povoados crescem e se tornam vilas, sedes de distrito municipal, logo aspiram à transformação em cidades, sedes de municípios, embora essa categoria nem sempre signifique a realização completa da verdadeira vida urbana. Daí a existência de "cidades" que não passam de vilas grandes.

No início da colonização, entre 1501 e 1530, o governo português estabeleceu feitorias na costa, para servirem de pontos de escala e entrepostos do comércio do pau-brasil, as quais apresentavam um evidente caráter militar, pelas paliçadas que as defendiam; poucas sobreviveram, tornando-se vilas e cidades (Igaraçu, Santa Cruz de Cabrália, Cabo Frio). Mais tarde fortes e postos militares apareceram, dando nascimento a diversos aglomerados urbanos surgidos a sua sombra, quer na faixa litorânea (Rio Grande, João Pessoa, Natal, Fortaleza), quer na Amazônia (Belém, Santarém, Óbidos, Manaus), como nas áreas fronteiriças (Tabatinga, Mato Grosso, Corumbá, Cáceres, Miranda, Santa Maria).
Mais típicos do passado, embora ainda presentes, são os aldeamentos de índios, criados pelos missionários católicos ou pelo antigo Serviço de Proteção aos Índios. De antigos centros de catequese resultou um número muito grande de vilas e cidades, surgidas no período colonial: na Amazônia (Bragança, Monte Alegre, Itacoatiara), no Nordeste (Caxias, Crato, Campina Grande, Palmeira dos Índios, Juazeiro, Jacobina, Camamu, Caravelas), no Sudeste (Anchieta, Guarapari, Niterói, Macaé, Valença, São Fidélis, Itaguaí, Cananéia, Itapecerica da Serra, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Embu), no Sul (Ararapira, Guarapuava, Morretes, São Borja, Santo Ângelo, São Luís Gonzaga) e no Centro-Oeste (Pedro Afonso, Dianópolis). Com a mesma origem, mas de época recente, são Barra do Corda MA, Itambacuri MG e Conceição do Araguaia PA. Antigos postos indígenas se tornaram autônomos, como Antônio Estigarribia e Getúlio Vargas, em Goiás.

Durante o bandeirismo minerador do século XVIII, multiplicaram-se de modo extraordinário os arraiais precários e instáveis, mas que acabaram por se tornar vilas e cidades. Os mais expressivos exemplos podem ser encontrados em Minas Gerais (Ouro Preto, Mariana, Sabará, São João del-Rei, Diamantina, Serro, Tiradentes, Conselheiro Lafaiete, Paracatu, Caeté, Campanha etc.), em Goiás (Goiás, Luziânia, Porto Nacional, Jaraguá, Natividade, Pirenópolis, Pires do Rio, Corumbá de Goiás) e em Mato Grosso (Cuiabá, Poconé, Diamantino, Rosário Oeste), embora também apareçam na região Sul (Curitiba, Antonina, Apiaí). A esses embriões urbanos do setecentismo correspondem, no século XX, as chamadas corrutelas das áreas do garimpo do diamante, de que já se originaram algumas cidades do Centro-Oeste (Poxoréu, Guiratinga, Aragarças, Santa Rita do Araguaia).

Os engenhos do passado e as modernas usinas de açúcar, antiurbanas por sua estrutura econômico-social auto-suficiente, não se têm destacado como criadores de cidades; mesmo assim, alguns exemplos podem ser citados em Pernambuco (Catende), em Alagoas (Maceió, Rio Largo, São Luís do Quitunde) e em São Paulo (Santa Rosa de Viterbo). Muito mais importantes, nesse particular, são as fazendas de gado, particularmente no Maranhão (Pastos Bons), no Piauí (Oeiras, Paulistana), na Bahia (Jequié, Brotas de Macaúbas, Brumado, Morro do Chapéu, Gameleira do Açuruá, Oliveira dos Brejinhos), no Paraná (Castro, Lapa, Jaguariaíva), no Rio Grande do Sul (Viamão, Vacaria, Osório, São Gabriel, Pelotas), em Mato Grosso do Sul (Paranaíba, Camapuã) e em Goiás (Jataí). Fazendas, sítios e bairros rurais deram origem a muitas cidades paulistas, quer no período colonial (Moji das Cruzes), quer a partir da expansão cafeeira (Areias, Caçapava, São Luís do Paraitinga, Piracicaba, Limeira, Rio Claro, Capivari, Jaboticabal, Itatiba, Piraju etc.). Quase sempre, a capela foi o elemento aglutinador desses aglomerados rurais, como aconteceu com muitas cidades paulistas (Itu, Sorocaba, Tietê, Amparo, Batatais, Indaiatuba, Paraibuna etc.), e de outros estados (Uberaba MG, Lajes SC, Laguna SC, Limoeiro de Anadia AL etc.).

Lugar à parte ocupam os patrimônios religiosos, loteamentos rurais cujo núcleo era uma área doada a determinado santo da Igreja Católica; assim vieram a surgir várias cidades de São Paulo (Campinas, Ribeirão Preto, Bragança Paulista, Barretos, Olímpia, Pindamonhangaba, Bananal), e da Bahia (Caculé). A seu lado, aparecem os loteamentos de caráter leigo, resultantes da partilha de sesmarias, da organização de núcleos coloniais e da criação de patrimônios leigos.

Antigos núcleos coloniais, instalados nos séculos XIX e XX, tornar-se-iam cidades, no Espírito Santo (Linhares, Santa Leopoldina, Santa Teresa), no Rio de Janeiro (Nova Friburgo, Petrópolis), em Minas Gerais (Teófilo Otoni), em São Paulo (Americana, São Caetano do Sul, Nova Odessa, Varpa, Barão de Antonina), no Paraná (Alexandra, Araucária, Açungui, Cerro Azul, Colombo, Prudentópolis), em Santa Catarina (Joinvile, Blumenau, Brusque, São Bento do Sul, Nova Trento, Rio do Sul), no Rio Grande do Sul (São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Santa Cruz do Sul), em Goiás (Ceres) e no Pará (Tomé-Açu). Os melhores exemplos de patrimônios leigos, transformados em cidades, podem ser encontrados nas zonas pioneiras de São Paulo (Marília, Presidente Prudente, Andradina, Cafelândia, Fernandópolis, Osvaldo Cruz etc.) e no norte do Paraná (Londrina, Maringá, Apucarana, Mandaguari, Açaí, Cianorte, Cruzeiro d'Oeste).

Durante o bandeirismo e, mais tarde, quando as tropas de burros representaram papel relevante para os contatos regionais, passaram a ter importância os ranchos de tropeiros e os pousos de viajantes. Transformaram-se em cidades de Minas Gerais (Matias Barbosa, Pouso Alegre, Pouso Alto, Passa Quatro), de São Paulo (Moji-Mirim, Moji-Guaçu, Casa Branca, Franca, Lorena, Cunha), do Paraná (Ponta Grossa, Campo Largo, Rio Negro), de Mato Grosso do Sul (Coxim) e de Pernambuco (Pesqueira). Sua réplica moderna pode ser encontrada nos postos de gasolina, construídos à margem das rodovias, embriões de futuras cidades. A partir de 1870, multiplicaram-se as estações ferroviárias, muitas das quais, ao longo das linhas ou na ponta dos trilhos, fizeram nascer cidades; os exemplos são numerosos em São Paulo (Bauru, Penápolis, Araçatuba, São José do Rio Preto, Lins, Santo André), como noutras áreas do país (Nova Iguaçu RJ; Goiandira GO; Porto Velho RO).

Tipos de cidades

Tais fatores, aliados a outros, explicam os contrastes entre as cidades brasileiras. A maioria delas inclui-se na categoria das cidades espontâneas que passaram a vilas e, depois, atingiram o estágio urbano; seu plano é, em geral, desordenado e inorgânico, muitas são lineares, embora existam as que se apresentam em tabuleiro de xadrez.

Bem menor é o número das cidades criadas ou artificiais, resultantes de um plano urbanístico preestabelecido; Salvador e Rio de Janeiro foram planejadas em suas origens, embora os melhores exemplos possam ser encontrados a partir do século XIX, sobretudo em algumas capitais, como Teresina (1851), Aracaju (1858), Belo Horizonte (1897), Goiânia (1937) e Brasília (1960). Algumas cidades espontâneas, como é o caso de São Paulo, possuem numerosos bairros "criados", os chamados bairros-jardins, ao passo que outras, "criadas", como Belo Horizonte, passaram a conter bairros de crescimento espontâneo e desordenado.

Muitas apresentam todas as características das cidades vivas, dinâmicas; podem ser encontradas particularmente no planalto ocidental paulista, no norte do Paraná e oeste de Santa Catarina, sem falar nas maiores cidades do país. Fatores econômicos e político-administrativos explicam tal vitalidade. Outras muitas atingiram sua estabilidade progredindo em ritmo mais lento, senhoras de seu destino; surgem em diferentes regiões do país, notadamente no Brasil atlântico. No entanto, um certo número inclui-se na categoria das cidades mortas, vítimas de "morte" aparente ou relativa, já que continuam a existir; foram vivas no passado, mas entraram em decadência:  Barcelos AM, Alcântara MA, Oeiras PI, São Cristóvão SE, Goiás GO, Mato Grosso MT, Parati RJ, Bananal e Areias SP, entre outras, acham-se nesse caso, algumas delas já tendo sido capitais. Mas há exemplos de morte verdadeira, do desaparecimento total, como sucedeu a São João Marcos RJ, que teve dias de glória e hoje jaz sepultada sob as águas da represa de Ribeirão das Lajes.

Também se podem observar contrastes no que diz respeito às funções urbanas. Além das cidades que são sedes político-administrativas do país, como Brasília e as capitais de todos os estados, outras, por força da influência econômica e cultural exercida sobre as áreas que as circundam, merecem igualmente o título de capitais regionais: no Maranhão, Caxias; no Ceará, Crato; no Rio Grande do Norte, Mossoró; na Paraíba, Campina Grande; em Pernambuco, Caruaru; na Bahia, Juazeiro, Vitória da Conquista e Itabuna; em Minas Gerais, Teófilo Otoni, Governador Valadares, Juiz de Fora e Uberaba; no Rio de Janeiro, Campos; em São Paulo, Taubaté, Ribeirão Preto, Bauru, São José do Rio Preto; no Paraná, Londrina; em Santa Catarina, Blumenau; no Rio Grande do Sul, Caxias do Sul; em Goiás, Anápolis, entre outras.

Em relação a umas poucas, a área de influência ultrapassa as próprias fronteiras dos estados onde se acham, transformando-as em verdadeiras metrópoles regionais: é o caso de Belém, metrópole da Amazônia; Recife, do Nordeste; São Paulo, de toda a área compreendida pelo estado de São Paulo, sul de Minas Gerais, Triângulo Mineiro, sul de Goiás, Mato Grosso do Sul e norte do Paraná; e de Porto Alegre, cuja influência alcança Santa Catarina. A par disso, cumpre lembrar a existência de cidades-mercados, como Santos (café), Ilhéus (cacau), Vitória (minério de ferro), Henrique Lage (carvão), Macau (sal); cidades como Campina Grande PB, Caruaru PE, Feira de Santana BA etc., celebrizadas por suas feiras de âmbito regional; cidades industriais como Santo André, São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo e Diadema, na região paulista do ABCD, Volta Redonda RJ e Paulista PE; cidades religiosas, como Aparecida SP, Congonhas MG e Bom Jesus da Lapa BA, centros de peregrinação; cidades estações-de-saúde, por seu clima ou por suas inúmeras estâncias hidro-minerais, as cidades de veraneio e outras.

©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

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