A gestalt-terapia constitui-se numa prática de convergências onde se admite que antes de tudo há o homem: a chave de todas as coisas, o sentido de tudo quanto há. Mas também onde se percebe que este homem faz-se por si mesmo, através de seus atos.
Aventura-se causa ansiedade, mas deixar
de arriscar-se é perder a si mesmo...
E aventurar-se no sentido mais elevado é
precisamente tomar consciência de si próprio.
Soren Kierkgaard
INTRODUÇÃO
A Gestalt-terapia, a nosso ver, localiza-se como uma filosofia de vida e como uma prática psicoterápica (entre outras práticas possíveis, como a pedagógica, por exemplo) no ponto de interseção de várias correntes de pensamento. Seu mérito consiste em possibilitar a harmonização de tais correntes sem mulhar-lhes o sentido. Assim, não as reúne como uma colcha de retalhos, mas como partes de um todo harmônico. Neste trabalho vamos examinar três destas influências: o humanismo, o existencialismo e a fenomenologia.
O HUMANISMO
O humanismo é uma concepção do mundo e da existência, cuja questão central é o homem. O mundo só tem sentido se caminhar com o homem, que só pode ser pensado a partir do homem. Para Maritan4, o humanismo “tende a tornar o homem mais verdadeiramente humano, e manifestar sua original grandeza através de sua participação em tudo aquilo que possa”, para que o “homem desenvolva as virtualidades contidas em si mesmo, suas forças criadoras e a vida da razão, e trabalhe no sentido de fazer das forças do mundo físico instrumento de sua liberdade”.
É necessário, contudo, cautela com o que diz Maritain. Se, por um lado, ele enfatiza a ação do homem, ou seja, seu ser-no-mundo, por outro lado, ele fala de sua grandeza original. Neste ponto Maritan ajuda-nos a observar que não existe apenas um tipo de humanismo. Há, diz Sartre7, dois tipos de humanismo. Um deles é uma teoria que toma o homem como um fim e um valor superior. Isso implicaria que poderíamos dar um valor ao homem segundo os atos mais altos de certos homens, o que seria um absurdo. Outro entendimento de humanismo é o que toma o homem como fim, porque ele está sempre por se fazer, que recorda o homem que não há outro legislador além dele próprio. Assim, quando Maritain fala de grandeza original está falando de algo além-do-homem, ou de um humanismo que pressupõe um ser transcendental.
O humanismo com o qual nos identificamos como gestalt-terapeuta, contrário ao de Maritain, é o modo humano de ser-no-mundo comparável ao resplendor de uma luz, em cuja claridade tudo quanto existe pode tornar-se presente e revelar sua natureza própria. Os objetos não podem ser revelados sem o resplendor do homem, assim como este não pode existir sem a presença de tudo que está a sua volta, isto é, precisa de algo onde possa refletir a sua luz. Assim o homem não está fechado em si mesmo, mas presente sempre num universo humano, fazendo-o e fazendo-se.
Imaginem um belo jardim, com arbustos, folhas e flores dos mais variados matizes e cores. Imaginem todo este jardim imerso na mais profunda escuridão onde nada se vê. Percebam agora uma luz radiante a iluminá-lo e a surpreender-lhe matizes e cores. Esta luz é o homem, ou melhor, pode ser este homem, se este homem o quiser. Contudo, este homem só se realiza como homem na medida em que existe um jardim a iluminar.
Da mesma forma, o gestaltista realiza-se no trabalho terapêutico defrontando-se com outro ser; porém, para sua profunda alegria, não se trata apenas de um jardim, mas de outro ser, que, assim como ele, tem luz própria. Sua tarefa consiste em mostrar este fato. Awareness e contato são seus instrumentos.
Na gestalt-terapia o homem é o centro dos acontecimentos. É pensando no seu bem-estar que ela requer do cliente que especifique as mudanças que deseja em si mesmo, ajuda-o a incrementar a sua compreensão de como se derrota a si mesmo e auxilia-o a experimentar e mudar. Do ponto de vista gestaltista, o indivíduo é capaz de assumir as responsabilidades por si mesmo e viver plenamente como pessoa em busca de integração.
Outro ponto de convergência entre a gestalt-terapia e o humanismo é o que diz respeito à comunicação, isto é, existir automaticamente, é viver consciente de suas limitações. Esta existência possível, no entanto, só se realiza mediante a comunicação com o outro. “Eu só existo em companhia do outro; só, eu nada sou. A comunicação é, então, o fim da filosofia e é na comunicação que todos os seus demais fins se encontram, isto é, o despertar do ser, a iluminação através do amor e a conquista da paz”3.
Para a gestalt-terapia, pessoas e organismos podem-se comunicar entre si, o que é chamado de mitvelt – o mundo que eu e você possuímos em comum. Nós falamos uma certa linguagem, temos certas atitudes, certos comportamentos, e os dois mundos se superpõem em alguma parte. E, nesta área de superposição, a comunicação é possível.
Para comunicar, temos que estar certos de sermos emissores, o que significa que a mensagem que enviamos possa ser entendida; temos também que estar certos de sermos receptores, que queremos escutar a mensagem da outra pessoa. É muito raro as pessoas que conseguem falar e ouvir. A integração entre o falar e o ouvir é realmente uma coisa rara. “Sem comunicação não pode haver contato. Há apenas isolamento e aborrecimento”5.
O EXISTENCIALISMO
Segundo Sartre, o existencialismo é uma doutrina que torna a vida humana possível e que, por outro lado, declara que toda a verdade e toda a ação implicam um meio e uma subjetividade humana, isto é, que a existência precede a essência. Senão vejamos: quando tratamos dos objetos que nos cercam podemos constatar que cada um deles ao existir pressupõe uma atividade mental humana que lhe é anterior e que o determina.
Assim, ao produzirmos um objeto, nos inspiramos num conceito deste objeto e numa determinada técnica de produção. O objeto é produzido de certa maneira e com uma utilidade definida. Podemos falar, portanto, que nesta caso é essência – conjunto de técnicas e definições de utilidade – precede a existência.
Ao admitirmos a existência de um Deus que é o criador dos homens, estaremos aceitando a hipótese de que o conceito de homem para Deus é o mesmo que o de objeto para o industrial. Assim o homem estaria apenas materializando um conceito que já existe na mente de Deus.
Alguns filósofos do século XVIII – Diderot, Voltaire, Kant – tentaram eliminar a existência de Deus, mas ainda assim continuaram a conceber o homem como sendo determinado, desta vez através da noção de natureza humana. Assim, os homens de qualquer cultura estariam unidos por um substrato comum. O homem seria um exemplo particular de um conceito universal. Permanece, portanto, a idéia de que a essência precede a existência.
Posição inversa assume o existencialismo ateu. Segundo ele, no início, o homem não é nada e posteriormente será aquilo que se fizer de si mesmo. Não existe natureza humana porque não há um Deus para concebê-la. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: esse é o primeiro princípio do existencialismo. Embutido neste princípio, está o conceito de subjetividade. Este termo deve ser entendido como a afirmação de que a dignidade do homem é maior que a do objeto, porque ele nada mais é do que aquilo que se projeta num futuro. O homem é um projeto que vive a si mesmo subjetivamente, ao invés dos objetos.
Sendo assim, o homem é responsável pelo que é. O primeiro esforço do existencialismo é colocar todo homem na posse do que ele é, e submetê-lo à responsabilidade total de sua existência. Assim, o homem não é responsável apenas pela sua individualidade, mas é responsável por todos os homens. Escolhendo-se, escolhe todos os homens. Quando criamos o homem que queremos ser, criamos uma imagem do homem tal como julgamos que deva ser. Escolher significa atribuir um valor; assim crio a imagem do homem escolhido por mim.
Talvez possamos agora esclarecer o significado da angústia, do desamparo e do desespero. Ora, a responsabilidade que o homem tem no ato de escolher é a de tornar-se legislador. Então, quem me garante que fui eu mesmo o escolhido para impor a minha concepção de homem e minha própria escolha à humanidade. Se considero que algo é bom ou mal, eu mesmo tenho que decidir, não há sinais no mundo que me indiquem um caminho. E este só tem valor pelo fato de ter sido escolhido. A angústia, portanto, decorre da responsabilidade. Não é a angústia do quietismo, mas a da responsabilidade. O homem está condenado a ser livre, e sendo livre, é responsável por tudo o que faz. Se Deus não existe, não há valores que o orientem a priori; só se pode definir o valor de um sentimento escolhendo-o. O desamparo e o desespero decorrem da percepção de que estou só para fazer, só eu mesmo me faço.
Portanto, o quietismo é a atitude daqueles que dizem: os outros podem fazer o que eu não posso. O existencialismo diz que a realidade não existe a não ser na ação. O homem não é mais do que o seu projeto, só existe na medida em que se realiza. Para Sartre, um covarde não é assim por um determinismo orgânico ou psicológico, mas porque se fez assim.
O existencialismo não pode ser a filosofia do quietismo, pois define o homem pela ação. Não é uma descrição pessimista do homem; é otimista, porque o destino do homem está em suas próprias mãos. Não é uma tentativa de desencorajar o homem de agir, mas afirma que a única esperança está em suas mãos: só o ato permite ao homem viver.
Para o existencialismo, a verdadeira consciência é a consciência de existir. Sartre afirma que só existe autenticamente o que “se escolhe” livremente, aquele que se faz por si mesmo, aquele que é a sua própria obra. Por conseguinte, “jamais existirei se não escolher a essência que pretendo ser”7.
“A gestalt-terapia considera mentalmente saudável aquela pessoa em que a conscientização pode se desenvolver sem bloqueios, sempre que a sua atenção organísmica é provocada. Tal pessoa pode experimentar suas próprias necessidades e possibilidades ambientais de um modo pleno e claro, de momento a momento, aceitando-as como dados e aceitando-as no sentido de compromissos criadores”6. O fluir de estados de consciência (awareness continuum) fortalece verdadeiramente o perceber-se a si próprio.
A consciência existencial é o ser de nossa direção para o mundo. Por isso de acentua o fato de que as coisas “se dão a nós” como vivências de consciência.
O mundo vivido tanto para o existencialismo como para a gestalt-terapia deve ser colocado à luz do dia. A consciência começa a pertencer ao ambiente do “encontro”, do “ser-no-mundo”. “Sua liberdade em situação se torna presente às outras liberdades em suas obras e desta maneira cria a possibilidade de intersubjetividade e do encontro”. “A tomada de consciência é sempre a experiência subjetiva”6.
“Assim, temos sempre que considerar o segmento do mundo em que vivemos como parte de nós mesmos. Aonde quer que vamos, levamos sempre uma espécie de mundo conosco”6.
Portanto, para a gestalt-terapia, “a tomada de consciência em si – e de si mesmo – pode ter efeito de cura. Porque com uma tomada de consciência completa, você pode tornar presente a auto-regulação organísmica, pode deixar o organismo dirigir sem interferência, sem interrupções; podemos confiar na sabedoria do organismo”6.
“A realidade é a tomada de consciência da experiência que se processa, no tocar, no mover, no fazer real. A abordagem gestalt-terapêutica é uma abordagem existencial: nós existimos como um organismo, como um animal, e nos relacionamos com o mundo exterior como qualquer outro organismo da natureza”6.
A gestalt-terapia procura penetrar na própria vivência da pessoa, captar o seu modo de existir, o seu ser-no-mundo, as características do seu existir, particularmente a sua maneira de vivenciar o espaço e o tempo (hic et nunc – aqui e agora). Não nos tomem por egoístas apressados, pois trata-se de ser-no-mundo, as nossas vivências não estão contidas dentro de nós, mas se manifestam intimamente relacionadas ao ambiente, às pessoas.
O gestaltista percebe que toda a ciência (objetiva, experimental) não é suficiente para atender ao apelo vivo do cliente. As fórmulas teóricas não bastam para acalmar as pessoas. É preciso participar do existir do cliente, pois antes da técnica está a existência. “As técnicas são truques sujos”6.
Quando Maria chega ao meu consultório
é Maria que chega ao meu consultório.
Não fala de uma Maria anterior,
de uma Maria outra,
mas de si.
Em nenhum compêndio fala-se desta Maria única
que chega ao meu consultório.
Se eu puder partilhar do seu existir,
e ao mesmo tempo por mim existir,
poderá haver diálogo,
e, então, encontro.
O resto é teoria, aparência e blá-blá-blá.
A FENOMENOLOGIA
O ponto de partida de Husserl6 é a crítica às teorias científicas, particularmente as de inspiração positivista, apegadas à objetividade, a crenças de que a realidade se reduz àquilo que percebemos pelos sentidos e à noção de que o cientista e o objeto que pretende conhecer são completamente separados e independentes.
A fenomenologia surgiu como contestação ao método experimental. “Husserl nega a existência tanto do sujeito como do mundo, como puros e independentes um do outro. Afirma que o homem é um ser consciente e que a consciência é sempre intencional, ou seja, ela não existe independentemente do objeto”1. Toda consciência é consciência de alguma coisa. Quer dizer que todos os atos psíquicos, tudo que se passa em nossa mente, visa a um objeto, logo, não ocorre no vazio.
“Fenomenologia gera-se de duas expressões gregas, phainomenon e logos. Phainomenon (fenômeno) significa aquilo que se mostra por si mesmo, o manifesto. Logos é tomado como discurso esclarecedor. Dessa maneira, fenomenologia significa discurso esclarecedor a respeito daquilo que se mostra por si mesmo. Para tanto se faz necessário “ir à coisa mesma”8.
Para que se possa chegar a isso, Husserl propõe que o indivíduo suspenda todo juízo sobre os objetos que o cercam. Que nada afirme nem negue sobre as coisas, adotando uma espécie de abandono do mundo e recolhimento dentro de si mesmo. Tal atitude, denominada redução fenomenológica ou “epoquê”, leva-nos a um tipo particular de conhecimento, em oposição ao conhecimento objetivo, o categorial.
“A percepção categorial é imediata, espontânea, pré-reflexiva, própria da vida cotidiana, do viver imediato – nela não há separação entre sujeito e objeto e este é captado na sua totalidade por intuição – é a percepção própria das ciências do homem”8.
A fenomenologia, como o humanismo e o existencialismo anteriormente discutidos, vê o homem como um todo. É um modo de pensar o ser da maneira como ele se apresenta. É por isso que Perls afirmava que a gestalt-terapia é baseada numa abordagem fenomenológica. Preocupa-se com aquilo que aparece, aquilo que é aparente na coisa, e que se revela por si mesmo na sua luz.
Isto remete a uma análise intencional da realidade em si e da realidade como chega à nossa mente, como é representada em nós. A maneira de existir das coisas depende do modo como são apreendidas pela consciência (“eu faço minhas coisas e você as suas”), é a consciência que lhes dá sentido (“eu sou eu, você é você”). Assim, fica clara uma relação entre consciência e objeto uma vez que a consciência é sempre consciência de alguma coisa e o objeto é sempre objeto para a consciência. Cabe à fenomenologia a elucidação da essência desta relação, pois, através dela, pode-se entender o mundo inteiro, pode-se chegar às coisas mesmas. “Nós não existe, mas é composto de eu e você (...) quando há encontro eu me transformo e você também se transforma”6.
A gestalt-terapia busca chegar à essência do homem; neste sentido, o fenômeno deixa de ser uma coisa e passa a ser um modo de o homem reagir ao mundo.
Com isso, pode-se dizer que o homem é um fenômeno que se revela lentamente, quanto mais ele se desnuda mais se aproxima de uma determinada luz, mais está em contato com a sua essência, que ele mesmo cria.
A fenomenologia é uma tentativa de clarificação da experiência humana. Tenta elucidar a relação entre o objeto e a consciência, a maneira como o objeto é apreendido pelo homem na sua consciência. As coisas se constituem na consciência através da intencionalidade. A intencionalidade faz com que as idéias sejam vivências da consciência, ela cria relação entre o sujeito e o objeto, entre o homem e o mundo. O objeto existe intencionalmente na consciência, uma vez que a consciência só é considerada como tal quando voltada para um objeto, e este só pode ser definido em relação à consciência; ele é objeto para um sujeito.
A gestalt-terapia considera a intencionalidade como uma “visada de consciência”, como aquilo que dá sentido ao homem e o seu modo de existir no mundo.
CONCLUSÃO
Pode-se perceber nestas três linhas de pensamento analisadas uma série de convergências. A gestalt-terapia constitui-se numa prática de tais convergências onde se admite que antes de tudo há o homem: a chave de todas as coisas, o sentido de tudo quanto há. Mas também onde se percebe que este homem faz-se por si mesmo, através de seus atos. Que estes atos são produzidos pela escolha livre deste homem, escolha da qual não pode fugir e pela qual é o único responsável. Que escolhendo, escolhe-se a si próprio, forjando sua essência, assim como escolhe as pessoas, as coisas, o mundo, tornando-se um ser-no-mundo-com. E que, para ser um ser-no-mundo-com, necessário se faz abstrair-se de todo o julgamento e ir às coisas mesmas.
Acreditamos que a gestalt-terapia seja isso. Ao contrário do que dizia Fernando Pessoa: “navegar é preciso, pois viver é navegar”, fazer gestalt-terapia é navegar, é viver.
BIBLIOGRAFIA
1. FORGHIERI, Y. C. Fenomenologia, existência e psicoterapia. In: Fenomenologia e
psicologia. São Paulo, Cortez, 1984.
2. HUSSERL, Edmund. Investigações lógicas: sexta investigação: elementos de uma
elucidação fenomenológica do conhecimento. In: Os Pensadores. São Paulo, Abril
Cultura, 1980.
3. JASPERS, Karl. Filosofia de existência. Rio de Janeiro, Imago, 1973.
4. MARITAIN, Jacques. Humanismo integral: uma visão da ordem cristã, 1962.
5. PERLS, Frederick S. Gestalt-terapia explicada. São Paulo, Summus, 1977.
6. ______. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro, Zahar,
1981.
7. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. In: Os Pensadores. São
Paulo, Abril Cultural, 1978.
8. TÁPIA, L.E.R. Método em fenomenologia. In: Temas fundamentais de fenomenologia.
Publicação do Centro de Estudos Fenomenológicos de São Paulo, Editora Moraes,
1984.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA•
HEIDEGGER, M. Sobre a essência do fundamento. In: Os Pensadores. São Paulo, Abril
Cultural, 1980.
MERLEAU-PONTY, M. Sobre a fenomenologia da linguagem. In: Os Pensadores. São
Paulo, Abril Cultural, 1980.
PENHA, J. O que é existencialismo. São Paulo, Brasiliense, 1988.
RIBEIRO, J.P. Refazendo um caminho. São Paulo, Summus, 1985.
Aventura-se causa ansiedade, mas deixar
de arriscar-se é perder a si mesmo...
E aventurar-se no sentido mais elevado é
precisamente tomar consciência de si próprio.
Soren Kierkgaard
INTRODUÇÃO
A Gestalt-terapia, a nosso ver, localiza-se como uma filosofia de vida e como uma prática psicoterápica (entre outras práticas possíveis, como a pedagógica, por exemplo) no ponto de interseção de várias correntes de pensamento. Seu mérito consiste em possibilitar a harmonização de tais correntes sem mulhar-lhes o sentido. Assim, não as reúne como uma colcha de retalhos, mas como partes de um todo harmônico. Neste trabalho vamos examinar três destas influências: o humanismo, o existencialismo e a fenomenologia.
O HUMANISMO
O humanismo é uma concepção do mundo e da existência, cuja questão central é o homem. O mundo só tem sentido se caminhar com o homem, que só pode ser pensado a partir do homem. Para Maritan4, o humanismo “tende a tornar o homem mais verdadeiramente humano, e manifestar sua original grandeza através de sua participação em tudo aquilo que possa”, para que o “homem desenvolva as virtualidades contidas em si mesmo, suas forças criadoras e a vida da razão, e trabalhe no sentido de fazer das forças do mundo físico instrumento de sua liberdade”.
É necessário, contudo, cautela com o que diz Maritain. Se, por um lado, ele enfatiza a ação do homem, ou seja, seu ser-no-mundo, por outro lado, ele fala de sua grandeza original. Neste ponto Maritan ajuda-nos a observar que não existe apenas um tipo de humanismo. Há, diz Sartre7, dois tipos de humanismo. Um deles é uma teoria que toma o homem como um fim e um valor superior. Isso implicaria que poderíamos dar um valor ao homem segundo os atos mais altos de certos homens, o que seria um absurdo. Outro entendimento de humanismo é o que toma o homem como fim, porque ele está sempre por se fazer, que recorda o homem que não há outro legislador além dele próprio. Assim, quando Maritain fala de grandeza original está falando de algo além-do-homem, ou de um humanismo que pressupõe um ser transcendental.
O humanismo com o qual nos identificamos como gestalt-terapeuta, contrário ao de Maritain, é o modo humano de ser-no-mundo comparável ao resplendor de uma luz, em cuja claridade tudo quanto existe pode tornar-se presente e revelar sua natureza própria. Os objetos não podem ser revelados sem o resplendor do homem, assim como este não pode existir sem a presença de tudo que está a sua volta, isto é, precisa de algo onde possa refletir a sua luz. Assim o homem não está fechado em si mesmo, mas presente sempre num universo humano, fazendo-o e fazendo-se.
Imaginem um belo jardim, com arbustos, folhas e flores dos mais variados matizes e cores. Imaginem todo este jardim imerso na mais profunda escuridão onde nada se vê. Percebam agora uma luz radiante a iluminá-lo e a surpreender-lhe matizes e cores. Esta luz é o homem, ou melhor, pode ser este homem, se este homem o quiser. Contudo, este homem só se realiza como homem na medida em que existe um jardim a iluminar.
Da mesma forma, o gestaltista realiza-se no trabalho terapêutico defrontando-se com outro ser; porém, para sua profunda alegria, não se trata apenas de um jardim, mas de outro ser, que, assim como ele, tem luz própria. Sua tarefa consiste em mostrar este fato. Awareness e contato são seus instrumentos.
Na gestalt-terapia o homem é o centro dos acontecimentos. É pensando no seu bem-estar que ela requer do cliente que especifique as mudanças que deseja em si mesmo, ajuda-o a incrementar a sua compreensão de como se derrota a si mesmo e auxilia-o a experimentar e mudar. Do ponto de vista gestaltista, o indivíduo é capaz de assumir as responsabilidades por si mesmo e viver plenamente como pessoa em busca de integração.
Outro ponto de convergência entre a gestalt-terapia e o humanismo é o que diz respeito à comunicação, isto é, existir automaticamente, é viver consciente de suas limitações. Esta existência possível, no entanto, só se realiza mediante a comunicação com o outro. “Eu só existo em companhia do outro; só, eu nada sou. A comunicação é, então, o fim da filosofia e é na comunicação que todos os seus demais fins se encontram, isto é, o despertar do ser, a iluminação através do amor e a conquista da paz”3.
Para a gestalt-terapia, pessoas e organismos podem-se comunicar entre si, o que é chamado de mitvelt – o mundo que eu e você possuímos em comum. Nós falamos uma certa linguagem, temos certas atitudes, certos comportamentos, e os dois mundos se superpõem em alguma parte. E, nesta área de superposição, a comunicação é possível.
Para comunicar, temos que estar certos de sermos emissores, o que significa que a mensagem que enviamos possa ser entendida; temos também que estar certos de sermos receptores, que queremos escutar a mensagem da outra pessoa. É muito raro as pessoas que conseguem falar e ouvir. A integração entre o falar e o ouvir é realmente uma coisa rara. “Sem comunicação não pode haver contato. Há apenas isolamento e aborrecimento”5.
O EXISTENCIALISMO
Segundo Sartre, o existencialismo é uma doutrina que torna a vida humana possível e que, por outro lado, declara que toda a verdade e toda a ação implicam um meio e uma subjetividade humana, isto é, que a existência precede a essência. Senão vejamos: quando tratamos dos objetos que nos cercam podemos constatar que cada um deles ao existir pressupõe uma atividade mental humana que lhe é anterior e que o determina.
Assim, ao produzirmos um objeto, nos inspiramos num conceito deste objeto e numa determinada técnica de produção. O objeto é produzido de certa maneira e com uma utilidade definida. Podemos falar, portanto, que nesta caso é essência – conjunto de técnicas e definições de utilidade – precede a existência.
Ao admitirmos a existência de um Deus que é o criador dos homens, estaremos aceitando a hipótese de que o conceito de homem para Deus é o mesmo que o de objeto para o industrial. Assim o homem estaria apenas materializando um conceito que já existe na mente de Deus.
Alguns filósofos do século XVIII – Diderot, Voltaire, Kant – tentaram eliminar a existência de Deus, mas ainda assim continuaram a conceber o homem como sendo determinado, desta vez através da noção de natureza humana. Assim, os homens de qualquer cultura estariam unidos por um substrato comum. O homem seria um exemplo particular de um conceito universal. Permanece, portanto, a idéia de que a essência precede a existência.
Posição inversa assume o existencialismo ateu. Segundo ele, no início, o homem não é nada e posteriormente será aquilo que se fizer de si mesmo. Não existe natureza humana porque não há um Deus para concebê-la. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: esse é o primeiro princípio do existencialismo. Embutido neste princípio, está o conceito de subjetividade. Este termo deve ser entendido como a afirmação de que a dignidade do homem é maior que a do objeto, porque ele nada mais é do que aquilo que se projeta num futuro. O homem é um projeto que vive a si mesmo subjetivamente, ao invés dos objetos.
Sendo assim, o homem é responsável pelo que é. O primeiro esforço do existencialismo é colocar todo homem na posse do que ele é, e submetê-lo à responsabilidade total de sua existência. Assim, o homem não é responsável apenas pela sua individualidade, mas é responsável por todos os homens. Escolhendo-se, escolhe todos os homens. Quando criamos o homem que queremos ser, criamos uma imagem do homem tal como julgamos que deva ser. Escolher significa atribuir um valor; assim crio a imagem do homem escolhido por mim.
Talvez possamos agora esclarecer o significado da angústia, do desamparo e do desespero. Ora, a responsabilidade que o homem tem no ato de escolher é a de tornar-se legislador. Então, quem me garante que fui eu mesmo o escolhido para impor a minha concepção de homem e minha própria escolha à humanidade. Se considero que algo é bom ou mal, eu mesmo tenho que decidir, não há sinais no mundo que me indiquem um caminho. E este só tem valor pelo fato de ter sido escolhido. A angústia, portanto, decorre da responsabilidade. Não é a angústia do quietismo, mas a da responsabilidade. O homem está condenado a ser livre, e sendo livre, é responsável por tudo o que faz. Se Deus não existe, não há valores que o orientem a priori; só se pode definir o valor de um sentimento escolhendo-o. O desamparo e o desespero decorrem da percepção de que estou só para fazer, só eu mesmo me faço.
Portanto, o quietismo é a atitude daqueles que dizem: os outros podem fazer o que eu não posso. O existencialismo diz que a realidade não existe a não ser na ação. O homem não é mais do que o seu projeto, só existe na medida em que se realiza. Para Sartre, um covarde não é assim por um determinismo orgânico ou psicológico, mas porque se fez assim.
O existencialismo não pode ser a filosofia do quietismo, pois define o homem pela ação. Não é uma descrição pessimista do homem; é otimista, porque o destino do homem está em suas próprias mãos. Não é uma tentativa de desencorajar o homem de agir, mas afirma que a única esperança está em suas mãos: só o ato permite ao homem viver.
Para o existencialismo, a verdadeira consciência é a consciência de existir. Sartre afirma que só existe autenticamente o que “se escolhe” livremente, aquele que se faz por si mesmo, aquele que é a sua própria obra. Por conseguinte, “jamais existirei se não escolher a essência que pretendo ser”7.
“A gestalt-terapia considera mentalmente saudável aquela pessoa em que a conscientização pode se desenvolver sem bloqueios, sempre que a sua atenção organísmica é provocada. Tal pessoa pode experimentar suas próprias necessidades e possibilidades ambientais de um modo pleno e claro, de momento a momento, aceitando-as como dados e aceitando-as no sentido de compromissos criadores”6. O fluir de estados de consciência (awareness continuum) fortalece verdadeiramente o perceber-se a si próprio.
A consciência existencial é o ser de nossa direção para o mundo. Por isso de acentua o fato de que as coisas “se dão a nós” como vivências de consciência.
O mundo vivido tanto para o existencialismo como para a gestalt-terapia deve ser colocado à luz do dia. A consciência começa a pertencer ao ambiente do “encontro”, do “ser-no-mundo”. “Sua liberdade em situação se torna presente às outras liberdades em suas obras e desta maneira cria a possibilidade de intersubjetividade e do encontro”. “A tomada de consciência é sempre a experiência subjetiva”6.
“Assim, temos sempre que considerar o segmento do mundo em que vivemos como parte de nós mesmos. Aonde quer que vamos, levamos sempre uma espécie de mundo conosco”6.
Portanto, para a gestalt-terapia, “a tomada de consciência em si – e de si mesmo – pode ter efeito de cura. Porque com uma tomada de consciência completa, você pode tornar presente a auto-regulação organísmica, pode deixar o organismo dirigir sem interferência, sem interrupções; podemos confiar na sabedoria do organismo”6.
“A realidade é a tomada de consciência da experiência que se processa, no tocar, no mover, no fazer real. A abordagem gestalt-terapêutica é uma abordagem existencial: nós existimos como um organismo, como um animal, e nos relacionamos com o mundo exterior como qualquer outro organismo da natureza”6.
A gestalt-terapia procura penetrar na própria vivência da pessoa, captar o seu modo de existir, o seu ser-no-mundo, as características do seu existir, particularmente a sua maneira de vivenciar o espaço e o tempo (hic et nunc – aqui e agora). Não nos tomem por egoístas apressados, pois trata-se de ser-no-mundo, as nossas vivências não estão contidas dentro de nós, mas se manifestam intimamente relacionadas ao ambiente, às pessoas.
O gestaltista percebe que toda a ciência (objetiva, experimental) não é suficiente para atender ao apelo vivo do cliente. As fórmulas teóricas não bastam para acalmar as pessoas. É preciso participar do existir do cliente, pois antes da técnica está a existência. “As técnicas são truques sujos”6.
Quando Maria chega ao meu consultório
é Maria que chega ao meu consultório.
Não fala de uma Maria anterior,
de uma Maria outra,
mas de si.
Em nenhum compêndio fala-se desta Maria única
que chega ao meu consultório.
Se eu puder partilhar do seu existir,
e ao mesmo tempo por mim existir,
poderá haver diálogo,
e, então, encontro.
O resto é teoria, aparência e blá-blá-blá.
A FENOMENOLOGIA
O ponto de partida de Husserl6 é a crítica às teorias científicas, particularmente as de inspiração positivista, apegadas à objetividade, a crenças de que a realidade se reduz àquilo que percebemos pelos sentidos e à noção de que o cientista e o objeto que pretende conhecer são completamente separados e independentes.
A fenomenologia surgiu como contestação ao método experimental. “Husserl nega a existência tanto do sujeito como do mundo, como puros e independentes um do outro. Afirma que o homem é um ser consciente e que a consciência é sempre intencional, ou seja, ela não existe independentemente do objeto”1. Toda consciência é consciência de alguma coisa. Quer dizer que todos os atos psíquicos, tudo que se passa em nossa mente, visa a um objeto, logo, não ocorre no vazio.
“Fenomenologia gera-se de duas expressões gregas, phainomenon e logos. Phainomenon (fenômeno) significa aquilo que se mostra por si mesmo, o manifesto. Logos é tomado como discurso esclarecedor. Dessa maneira, fenomenologia significa discurso esclarecedor a respeito daquilo que se mostra por si mesmo. Para tanto se faz necessário “ir à coisa mesma”8.
Para que se possa chegar a isso, Husserl propõe que o indivíduo suspenda todo juízo sobre os objetos que o cercam. Que nada afirme nem negue sobre as coisas, adotando uma espécie de abandono do mundo e recolhimento dentro de si mesmo. Tal atitude, denominada redução fenomenológica ou “epoquê”, leva-nos a um tipo particular de conhecimento, em oposição ao conhecimento objetivo, o categorial.
“A percepção categorial é imediata, espontânea, pré-reflexiva, própria da vida cotidiana, do viver imediato – nela não há separação entre sujeito e objeto e este é captado na sua totalidade por intuição – é a percepção própria das ciências do homem”8.
A fenomenologia, como o humanismo e o existencialismo anteriormente discutidos, vê o homem como um todo. É um modo de pensar o ser da maneira como ele se apresenta. É por isso que Perls afirmava que a gestalt-terapia é baseada numa abordagem fenomenológica. Preocupa-se com aquilo que aparece, aquilo que é aparente na coisa, e que se revela por si mesmo na sua luz.
Isto remete a uma análise intencional da realidade em si e da realidade como chega à nossa mente, como é representada em nós. A maneira de existir das coisas depende do modo como são apreendidas pela consciência (“eu faço minhas coisas e você as suas”), é a consciência que lhes dá sentido (“eu sou eu, você é você”). Assim, fica clara uma relação entre consciência e objeto uma vez que a consciência é sempre consciência de alguma coisa e o objeto é sempre objeto para a consciência. Cabe à fenomenologia a elucidação da essência desta relação, pois, através dela, pode-se entender o mundo inteiro, pode-se chegar às coisas mesmas. “Nós não existe, mas é composto de eu e você (...) quando há encontro eu me transformo e você também se transforma”6.
A gestalt-terapia busca chegar à essência do homem; neste sentido, o fenômeno deixa de ser uma coisa e passa a ser um modo de o homem reagir ao mundo.
Com isso, pode-se dizer que o homem é um fenômeno que se revela lentamente, quanto mais ele se desnuda mais se aproxima de uma determinada luz, mais está em contato com a sua essência, que ele mesmo cria.
A fenomenologia é uma tentativa de clarificação da experiência humana. Tenta elucidar a relação entre o objeto e a consciência, a maneira como o objeto é apreendido pelo homem na sua consciência. As coisas se constituem na consciência através da intencionalidade. A intencionalidade faz com que as idéias sejam vivências da consciência, ela cria relação entre o sujeito e o objeto, entre o homem e o mundo. O objeto existe intencionalmente na consciência, uma vez que a consciência só é considerada como tal quando voltada para um objeto, e este só pode ser definido em relação à consciência; ele é objeto para um sujeito.
A gestalt-terapia considera a intencionalidade como uma “visada de consciência”, como aquilo que dá sentido ao homem e o seu modo de existir no mundo.
CONCLUSÃO
Pode-se perceber nestas três linhas de pensamento analisadas uma série de convergências. A gestalt-terapia constitui-se numa prática de tais convergências onde se admite que antes de tudo há o homem: a chave de todas as coisas, o sentido de tudo quanto há. Mas também onde se percebe que este homem faz-se por si mesmo, através de seus atos. Que estes atos são produzidos pela escolha livre deste homem, escolha da qual não pode fugir e pela qual é o único responsável. Que escolhendo, escolhe-se a si próprio, forjando sua essência, assim como escolhe as pessoas, as coisas, o mundo, tornando-se um ser-no-mundo-com. E que, para ser um ser-no-mundo-com, necessário se faz abstrair-se de todo o julgamento e ir às coisas mesmas.
Acreditamos que a gestalt-terapia seja isso. Ao contrário do que dizia Fernando Pessoa: “navegar é preciso, pois viver é navegar”, fazer gestalt-terapia é navegar, é viver.
BIBLIOGRAFIA
1. FORGHIERI, Y. C. Fenomenologia, existência e psicoterapia. In: Fenomenologia e
psicologia. São Paulo, Cortez, 1984.
2. HUSSERL, Edmund. Investigações lógicas: sexta investigação: elementos de uma
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Cultura, 1980.
3. JASPERS, Karl. Filosofia de existência. Rio de Janeiro, Imago, 1973.
4. MARITAIN, Jacques. Humanismo integral: uma visão da ordem cristã, 1962.
5. PERLS, Frederick S. Gestalt-terapia explicada. São Paulo, Summus, 1977.
6. ______. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro, Zahar,
1981.
7. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. In: Os Pensadores. São
Paulo, Abril Cultural, 1978.
8. TÁPIA, L.E.R. Método em fenomenologia. In: Temas fundamentais de fenomenologia.
Publicação do Centro de Estudos Fenomenológicos de São Paulo, Editora Moraes,
1984.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA•
HEIDEGGER, M. Sobre a essência do fundamento. In: Os Pensadores. São Paulo, Abril
Cultural, 1980.
MERLEAU-PONTY, M. Sobre a fenomenologia da linguagem. In: Os Pensadores. São
Paulo, Abril Cultural, 1980.
PENHA, J. O que é existencialismo. São Paulo, Brasiliense, 1988.
RIBEIRO, J.P. Refazendo um caminho. São Paulo, Summus, 1985.
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