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Psicologia da Gestast

Em oposição ao associacionismo e ao behaviorismo radical surgiu uma maneira de “ver” os fenômenos humanos bastante singular. Capitaneadas por Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka uma série de investigações relacionadas com o estudo da percepção, da aprendizagem e da solução de problemas foram realizadas. O resultado do conjunto destas investigações possibilitou a construção de uma teoria psicológica denominada Psicologia da Gestalt.
A Psicologia da Gestalt, como a própria nomenclatura em alemão sugere (forma, configuração, reunião das partes que se distingue do somatório das partes) propõe que a aprendizagem, por exemplo, não pode ser entendida como uma aquisição específica. Advoga, ao contrário, que tal aquisição se faz pela percepção do campo visto como um todo. Isto nos conduz a uma súbita alteração do campo perceptual e nos coloca em contato com uma série de comportamentos novos.
Os teóricos da Gestalt insistindo no estudo da percepção propuseram uma série de princípios que a regem, tais como: proximidade, similaridade, direção, disposição objetiva, destino comum e pragnanz. Também como conceitos básicos destacam-se: o todo e a parte (onde ressalta-se a concepção estruturalista desta escola – o problema para o gestaltista não é como o dado é solucionado, mas como é estruturado), figura e fundo (do todo uma parte emerge e vira figura, ficando o restante indiferenciado ou num fundo) e aqui e agora (a experiência passada da percepção de um objeto ou forma tem menor influência na visão de um objeto que se está vendo aqui e agora do que a experiência da percepção aqui e agora).
A aplicação destes princípios e conceitos em psicoterapia é bastante vasta e fecunda. Mostra-nos claramente a diferença entre realidade psíquica (o que eu percebo) e realidade objetiva (o mundo das coisas) e assegura-nos a adequação da proposição fenomenológica de que não existe sujeito e objeto puros e independentes um do outro: a consciência é sempre consciência de alguma coisa e o objeto é objeto para a consciência.
A noção de parte e todo leva-nos a evitar a fragmentação do cliente. Conduz-nos a observar o desvelar das partes do cliente e à compreensão do seu ser todo. Da mesma forma que uma casa não é uma soma de tijolos, cimento, areia, etc, mas um todo diferenciado: uma casa; um cliente também não é um conjunto de queixas mas um ser-no-mundo.
O conceito de figura e fundo mostra-nos como o cliente forja a sua essência, ou seja, como ele se escolhe e escolhe o mundo. Como o cliente estrutura-se para escolher uma figura para emergir do vasto fundo. Veja-se aqui o gênio de Perls. Formulações teóricas aparentemente desconectadas entre si como o existencialismo sartreano e a teoria da Gestalt reunidas pelo que de comum possuem: eu escolho e forjo minha essência; de um fundo faço surgir uma figura e desvelo a minha escolha.
A proposição da importância do aqui e agora é bem conhecida dos gestalt-terapeutas. A compreensão de que a força está no presente dá ao cliente e ao terapeuta, ao lado de uma perspectiva otimista do ser humano, enorme poder. Poder no sentido de colocar a ambos como sujeitos de suas vidas. Sujeitos com S maiúsculo, ou seja, senhores de suas vidas, capazes de aqui e agora modificá-la na direção que lhes aprouver. A proposição do poder no presente retira-os de posição de sujeito sujeitado ao passado, submetido a forças das quais não possui a posse e formas de reagir.


A TEORIA DE CAMPO (DE LEWIN)

Para Kurt Lewin a teoria de campo é um conjunto de conceitos por meio dos quais se pode representar a realidade psicológica. Estes conceitos devem ser bastante amplos para serem aplicáveis a todas as formas de comportamento e, ao mesmo tempo, bastante específicos para representarem uma pessoa definida em sua situação concreta.
As características principais da teoria de campo de Lewin podem ser assim resumidas: 1) o comportamento é função do campo que existe no momento em que ele ocorre; 2) a análise começa com a situação como um todo, e da qual são diferenciadas as partes concretas; 3) a pessoa concreta, em uma situação concreta, pode ser representada matematicamente.
Por outro lado Lewin fala também do princípio de concreção que afirma que só os fatos concretos no espaço vital podem produzir efeitos e do princípio de contemporaneidade, segundo o qual só os fatos presentes podem criar um comportamento atual. Além das noções de energia (força presente no ser humano localizada em algum sistema), tensão (estado alterado de uma região com relação a outra região), valência (valor que se dá a necessidade) e vetor (força que pode operar mudança e que possui direção, energia e ponto de aplicação).
A teoria de campo de Lewin também contribuiu para algumas formulações da Gestalt-terapia. Tal contribuição, a nosso ver, faz-se a partir dos conceitos dinâmicos desta teoria e não a partir da parte mais difundida da mesma que são os seus conceitos estruturais e topológicos. Tais conceitos, ousamos dizer, são no fundo supérfluos posto que face ao dinamismo da vida humana, de nada vale um retrato que se faça da mesma. Como dizia Heráclito de Êfeso não se toma banho duas vezes no mesmo rio. Face a milhões de possibilidades que minha vida pode assumir que fazer com o retrato estático do que fui um segundo atrás.
Por outro lado vemos grande valor terapêutico nos princípios de concreção e de contemporaneidade. Leva-nos a lidar com o que existe e está presente agora, evitando especulações arqueológicas que podem ser um empreendimento interessante mas desnecessário, pelo menos em psicoterapia.
Igualmente importante são as noções de energia, tensão, necessidade, valência e vetor. Como bem colocou Jorge Ponciano Ribeiro “após o cliente ter descoberto algo, com que tipo de energia ele pode contar, onde exatamente começar ou o que exatamente fazer. Ele tem que saber o que, de fato, quer. Não basta o cliente saber que descobriu o que o preocupa. O problema é como sair do conflito”.

A TEORIA ORGANÍSMICA (DE GOLDSTEIN)

Estudioso da neurologia Goldstein chegou à conclusão de que um sintoma não podia ser considerado ou compreendido a partir apenas de uma lesão orgânica, senão a partir apenas de uma lesão orgânica, senão a partir da consideração do organismo-como-um-todo. “O organismo é uma só unidade, o que ocorre em uma parte, afeta o todo”.
Uma teoria organísmica assume que: 1) a pessoa é una, integrada e consistente; 2) o organismo é um sistema organizado, com o todo diferenciado em suas partes; 3) o homem possui um impulso dominante de auto-regulação pelo qual é permanentemente motivado; 4) o homem tem dentro dele as potencialidades que regulam seu próprio crescimento, embora possa e receba influências positivas de crescimento do meio exterior, as quais ele seleciona e utiliza; 5) a utilização dos princípios da Psicologia da Gestalt, enquanto funções isoladas, como percepção e aprendizagem ajudam na compreensão do organismo total; 6) se pode aprender mais em um estudo compreensivo da pessoa do que em uma investigação exclusiva de uma função psicológica isolada e abstrata de muitos indivíduos.
Goldstein, além dos conceitos estruturais de figura e fundo (onde distingue figura natural como aquela em que existe um comportamento ordenado, flexível e apropriado para a situação de figura não-natural como aquela que se apresenta isolada do organismo total), apresenta alguns como: realização (atividades voluntárias e conscientes), atitudes (sentimentos e outras experiências internas) e processos (funções orgânicas experimentadas indiretamente).
Os principais conceitos dinâmicos de Goldstein são os de:
a. equalização e centragem do organismo: processo de re-distribuição de energia pelo organismo, que o leva a um estado de tensão normal;
b. auto-realização: é o motivo único do organismo, ou seja, é o princípio orgânico pelo qual o organismo se desenvolve plenamente;
c. “por-se de acordo” (composição) com o ambiente: harmonização do organismo com o próprio organismo compondo-se com o ambiente e a partir daí, num segundo momento, sobreposição aos problemas que surgem a partir de contato com o mundo.
São várias as contribuições de Goldstein para a Gestalt-terapia. O postulado do organismo-como-um-todo, por exemplo, que vai além da proposição fragmentada da Teoria da Gestalt, o faz assumir uma postura holística com visíveis repercussões terapêuticas. Com isso a dicotomia cartesiana de mente e corpo mostra-se superada. Não há trabalho corporal, não há trabalho psíquico. Trabalhamos um todo, uma pessoa una. Uma ação no corpo tem reflexos no psíquico e vice-versa.
A noção de equalização e centragem do organismo diz-nos que uma pessoa normal não é aquela que sabe distribuí-la. Decorre disto o lógico de toda terapia que objetiva a catar-se, a descarga de energia. Por isso Perls dizia que a energia é preciosa demais para ser jogada fora.
O conceito de auto-realização revela a concepção positiva do homem nítida na Gestalt-terapia; o conceito de “composição” com o ambiente fornece os subsídios para as noções de se assumir o que se é e de atualização propostas por Perls: “uma águia é uma águia, um elefante é um elefante, eles são o que são... só o homem tenta ser o que não é. Posso apenas atualizar o que sou”.

CONCLUSÃO

As três teorias acima sumarizadas constituem os fundamentos teóricos da Gestalt-terapia. Percebemos que uma completa outra. A Gestalt-terapia, para ser adequadamente entendida, não pode ser desvinculada dos seus pressupostos filosóficos encontrados no humanismo, no existencialismo e na fenomenologia, bem como nas experiências pessoais de seu primeiro formulador Fritz Perls.

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