Narciso, o personagem da mitologia grega, fica tão encantado ao ver sua própria imagem refletida em um lago que acaba morrendo afogado. Com essa história nasceu o termo narcisista. Ao contrário do personagem com fim trágico, há um Narciso que não morreu: está bem vivo no coração e na mente de muitos homens irresistíveis. O detalhe é que, quando uma mulher se apaixona por um deles, é ela quem acaba se afogando em sofrimento e mágoa. Claro, ter uma dose de autoconfiança, amor-próprio e vaidade é saudável para estruturar a personalidade. Mas, quando um dos parceiros tem essas características muito exageradas, torna-se quase impossível manter a vida a dois. Num relacionamento equilibrado, ambos fazem concessões diárias e a admiração é mútua. Mas nada disso acontece quando o parceiro é um narcisista tóxico, termo cunhado pelos escritores americanos Steven Carter e Julia Sokol no livro "Socorro! Me Apaixonei por um Narcisista" (Editora Best-Seller). Esse tipo de homem é absolutamente encantado consigo mesmo, incapaz de perceber as necessidades de qualquer outro ser. Não consegue se colocar no lugar nem compreender os sentimentos dos outros. Ama apenas a si mesmo.
Cair de amores por homens assim é muito mais fácil. Os narcisistas se apresentam como "personagens de um romance interessante", como definem Steven e Julia. Só falam de si mesmos e de seus interesses -"o meu carro, a minha casa, o meu trabalho". Mas fazem isso de uma forma fascinante. A estudante Simonel, 25 anos, já viu esse filme. "Meu ex-marido me dizia: 'Homem como eu você nunca vai encontrar!'. Ele se achava o maioral, o melhor, o mais bonito, o perfeito em tudo. No começo eu também achava tudo isso, mas, depois de alguns anos de convivência, meu amor foi acabando, exatamente por esse excesso de vaidade dele."
Duas caras Na fase da conquista, os narcisistas dizem e fazem tudo aquilo que sempre se desejou ouvir de um homem: essa é a armadilha. Eles se derramam em juras de amor, fazendo a parceira acreditar que o romance ideal, tão sonhado e desejado, finalmente se tornou realidade. Tudo parece perfeito demais. É comum os narcisistas mais tóxicos incluírem rapidamente a parceira em suas vidas tão fascinantes, pois querem mostrar que fizeram uma conquista, que ganharam um troféu. Mas, quando a mulher é apresentada à família ou aos amigos dele, ela sente que é importante e interpreta isso como um sinal de envolvimento. "Lúcio* precisava desesperadamente ser o centro das atenções e o melhor em tudo", conta Fabiana Ushinaka, 24 anos, jornalista. "Comigo e nas rodas de amigos, falava muito dele mesmo e, ao mesmo tempo, se mostrava inseguro. Ficava incomodado se alguém me elogiasse e sempre dava um jeito de dizer que era mais do que eu. Quando comecei a fazer duas faculdades, então, ele surtou. Achava que estava em desvantagem. Ficava irritado com essa competição que ele mesmo criou. Com o tempo, ele ficou agressivo, insuportável, e o namoro acabou. O engraçado é que ele fez de tudo para me conquistar, mas não fez nada para que a história desse certo."
Esse comportamento inflado, na verdade, surge para esconder uma limitação, diz Raphael Boechat, psiquiatra e pesquisador da faculdade de Medicina da Universidade de Brasília. "O narcisismo é um transtorno da personalidade. Superficialmente, esse homem é alguém que busca apenas se satisfazer. Mas, inconscientemente, isso pode ser um mecanismo de defesa, pois, na verdade, ele tem mesmo um forte sentimento de inferioridade." Para não deixar que isso transpareça, procura se auto-afirmar a todo instante.
"Durante 15 anos fui casada com um homem assim", diz Patrícia, 33 anos, policial civil, separada. "Carlos* era charmoso, sempre foi supervaidoso, se olhava no espelho mais de cem vezes por dia. Até eu entrar na sua vida, ele não tinha profissão. Eu o incentivei a fazer um concurso na polícia e ele passou. Lá abri os caminhos para o Carlos, que foi me usando para conseguir tudo que queria. Eu me desdobrava para agradá-lo, mas ele não fazia nada em troca. Por exemplo, preparei festas de aniversário surpresa para ele e, na minha vez, nem um bolinho! Era difícil lidar com essa incapacidade dele me enxergar. Eu ficava mal, mas achava que ele me amava e sempre arrumava uma desculpa para as suas desatenções. Até que Carlos me traiu e me deixou sem dar explicações, com dois filhos e todas as contas para pagar."
A desatenção contínua é típica dos narcisistas tóxicos e detona a auto-estima da mulher -por mais que ela tente agradá-lo, parece que ele nem a vê. Esse comportamento é tão inexplicável que a mulher começa a achar que a culpa é dela. Para Boechat, é comum eles perderem o interesse após a conquista e abandonar a mulher ou namorada de uma hora para outra, sem explicações convincentes. Steven e Julia acreditam que os narcisistas têm pavor de compromisso.
Falso brilhante Mas por que as mulheres entram nessas histórias? Segundo Boechat, em muitos casos, elas acabam sendo vítimas da competição que estabelecem com outras mulheres. "A mulher se coloca como um objeto a ser conquistado. O jogo de sedução do narcisista costuma satisfazer o ego dela: afinal ele, que diz ser uma pessoa tão especial, a escolheu entre tantas outras." O narcisista pode também mostrar seu lado inseguro e carente para conquistar a parceira. "Isso desperta o instinto maternal na mulher. Sentir que ele precisa de ajuda pode ser bastante sedutor", explica o especialista. "Queremos ser a pessoa especial que fará ele se sentir melhor, que curará seus traumas e carências", resumem os escritores Steven e Julia. Assim, ele a convida a dar mais, mais e mais. Ela topa e vai alimentando esse comportamento superegocêntrico.
Saber por que esses homens são tão atraentes é importante para não cair na mesma armadilha várias vezes. Mas, se a escolha for ficar com um parceiro assim, se vale a pena por outros motivos, é bom saber que, segundo Steven e Julia, "você não será capaz de corrigir, mudar e curar o narcisista que faz parte da sua vida. O melhor é parar de tentar compreendê-lo e respeitar suas próprias vontades."
Cair de amores por homens assim é muito mais fácil. Os narcisistas se apresentam como "personagens de um romance interessante", como definem Steven e Julia. Só falam de si mesmos e de seus interesses -"o meu carro, a minha casa, o meu trabalho". Mas fazem isso de uma forma fascinante. A estudante Simonel, 25 anos, já viu esse filme. "Meu ex-marido me dizia: 'Homem como eu você nunca vai encontrar!'. Ele se achava o maioral, o melhor, o mais bonito, o perfeito em tudo. No começo eu também achava tudo isso, mas, depois de alguns anos de convivência, meu amor foi acabando, exatamente por esse excesso de vaidade dele."
Duas caras Na fase da conquista, os narcisistas dizem e fazem tudo aquilo que sempre se desejou ouvir de um homem: essa é a armadilha. Eles se derramam em juras de amor, fazendo a parceira acreditar que o romance ideal, tão sonhado e desejado, finalmente se tornou realidade. Tudo parece perfeito demais. É comum os narcisistas mais tóxicos incluírem rapidamente a parceira em suas vidas tão fascinantes, pois querem mostrar que fizeram uma conquista, que ganharam um troféu. Mas, quando a mulher é apresentada à família ou aos amigos dele, ela sente que é importante e interpreta isso como um sinal de envolvimento. "Lúcio* precisava desesperadamente ser o centro das atenções e o melhor em tudo", conta Fabiana Ushinaka, 24 anos, jornalista. "Comigo e nas rodas de amigos, falava muito dele mesmo e, ao mesmo tempo, se mostrava inseguro. Ficava incomodado se alguém me elogiasse e sempre dava um jeito de dizer que era mais do que eu. Quando comecei a fazer duas faculdades, então, ele surtou. Achava que estava em desvantagem. Ficava irritado com essa competição que ele mesmo criou. Com o tempo, ele ficou agressivo, insuportável, e o namoro acabou. O engraçado é que ele fez de tudo para me conquistar, mas não fez nada para que a história desse certo."
Esse comportamento inflado, na verdade, surge para esconder uma limitação, diz Raphael Boechat, psiquiatra e pesquisador da faculdade de Medicina da Universidade de Brasília. "O narcisismo é um transtorno da personalidade. Superficialmente, esse homem é alguém que busca apenas se satisfazer. Mas, inconscientemente, isso pode ser um mecanismo de defesa, pois, na verdade, ele tem mesmo um forte sentimento de inferioridade." Para não deixar que isso transpareça, procura se auto-afirmar a todo instante.
"Durante 15 anos fui casada com um homem assim", diz Patrícia, 33 anos, policial civil, separada. "Carlos* era charmoso, sempre foi supervaidoso, se olhava no espelho mais de cem vezes por dia. Até eu entrar na sua vida, ele não tinha profissão. Eu o incentivei a fazer um concurso na polícia e ele passou. Lá abri os caminhos para o Carlos, que foi me usando para conseguir tudo que queria. Eu me desdobrava para agradá-lo, mas ele não fazia nada em troca. Por exemplo, preparei festas de aniversário surpresa para ele e, na minha vez, nem um bolinho! Era difícil lidar com essa incapacidade dele me enxergar. Eu ficava mal, mas achava que ele me amava e sempre arrumava uma desculpa para as suas desatenções. Até que Carlos me traiu e me deixou sem dar explicações, com dois filhos e todas as contas para pagar."
A desatenção contínua é típica dos narcisistas tóxicos e detona a auto-estima da mulher -por mais que ela tente agradá-lo, parece que ele nem a vê. Esse comportamento é tão inexplicável que a mulher começa a achar que a culpa é dela. Para Boechat, é comum eles perderem o interesse após a conquista e abandonar a mulher ou namorada de uma hora para outra, sem explicações convincentes. Steven e Julia acreditam que os narcisistas têm pavor de compromisso.
Falso brilhante Mas por que as mulheres entram nessas histórias? Segundo Boechat, em muitos casos, elas acabam sendo vítimas da competição que estabelecem com outras mulheres. "A mulher se coloca como um objeto a ser conquistado. O jogo de sedução do narcisista costuma satisfazer o ego dela: afinal ele, que diz ser uma pessoa tão especial, a escolheu entre tantas outras." O narcisista pode também mostrar seu lado inseguro e carente para conquistar a parceira. "Isso desperta o instinto maternal na mulher. Sentir que ele precisa de ajuda pode ser bastante sedutor", explica o especialista. "Queremos ser a pessoa especial que fará ele se sentir melhor, que curará seus traumas e carências", resumem os escritores Steven e Julia. Assim, ele a convida a dar mais, mais e mais. Ela topa e vai alimentando esse comportamento superegocêntrico.
Saber por que esses homens são tão atraentes é importante para não cair na mesma armadilha várias vezes. Mas, se a escolha for ficar com um parceiro assim, se vale a pena por outros motivos, é bom saber que, segundo Steven e Julia, "você não será capaz de corrigir, mudar e curar o narcisista que faz parte da sua vida. O melhor é parar de tentar compreendê-lo e respeitar suas próprias vontades."
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