O valor atual do vinho
Até há pouco tempo, quem definia o valor dessas obras de arte eram os próprios produtores, que levavam mais em conta a "tradição" e a "nobreza" de certas regiões. Nos últimos anos, entretanto, um homem dotado de olfato extraordinário vem abalando a rígida hierarquia do mundo dos vinhos. Trata-se do americano Robert Parker, o mais famoso crítico de vinho no mundo, que avalia cerca de 10 mil exemplares por ano. Parker costuma deixar furiosos alguns dos mais venerados produtores franceses quando estes recebem notas baixas no seu guia de vinhos The Wine Advocate (O Advogado do Vinho, sem tradução brasileira), uma publicação bimestral que tem cerca de 40 mil assinantes em todo o mundo. As notas de Parker, de 50 a 100, podem significar o sucesso ou o fracasso de uma safra. Sua credibilidade foi conquistada pelo fato de ele pagar a maioria dos vinhos que degusta e pela simplicidade de seus julgamentos.
"Eu não dou nenhum valor se a linhagem da família do produtor é do período pré-revolucionário ou se você tem uma fortuna maior do que eu possa imaginar", disse Parker recentemente numa entrevista à revista americana The Atlantic Monthly. "Se o vinho não for bom, eu vou dizer que ele não é."
De certa forma, as críticas de Parker vêm criando uma nova era do relacionamento com o vinho. Por não valorizar o nome do rótulo, ele ajudou a promover vinhos de países como África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Chile e Estados Unidos, que custam bem menos do que os franceses. Ele também ajudou a retirar da bebida a imagem esnobe, trazendo de volta o interesse genuíno pelo simples prazer da degustação. Apreciar a bebida deixa de ser um distintivo social para se tornar um símbolo de qualidade de vida.
Isso não significa, é claro, que o vinho deixará de ser "o suporte de uma mitologia variada", como já escreveu Roland Barthes em seu livro Mitologias. Afinal, que outra bebida conseguiu manter sua aura em meio a um mundo marcado pelo doce fácil dos refrigerantes? Nada contra uma Coca-Cola ou um Guaraná gelado, mas beber um vinho é como ler um bom livro. Ou, como dizia o cineasta italiano Federico Fellini, "é como um bom filme: dura um instante e deixa na boca um sabor de glória; é novo em cada gole e, como nos filmes, nasce e renasce em cada degustador". Um filme que conta mais de 7 mil anos da aventura humana numa única taça.
Frases
Os primeiros vestígios da plantação de uvas têm cerca de 7 mil anos. Durante todo esse tempo, o vinho foi a bebida sagrada usada no ritual da eucaristia para representar a última ceia (abaixo), além de alimento, anti-séptico e analgésico (acima, barris de vinho no fundo de um hospital na França durante a Primeira Guerra)
No Château d’Yquem (acima), o vinho é produzido a partir de uvas atacadas pelo fungo Botrytis cinerea. A colheita manual é tão criteriosa que cada parreira rende apenas uma única taça de vinho. O armazenamento em barris de carvalho (abaixo) ajuda a tornar a bebida ainda mais aromática
Para saber mais
Na livraria
A História do Vinho, Hugh Johnson, Companhia das Letras, 1999
Mitologias, Roland Barthes, Bertrand Brasil, 2001
Vinho e Guerra, Don e Petie Kladstrup, Jorge Zahar Editor, 2002
Na internet
Associação Brasileira de Somelliers: www.abs.sp.com.br
Até há pouco tempo, quem definia o valor dessas obras de arte eram os próprios produtores, que levavam mais em conta a "tradição" e a "nobreza" de certas regiões. Nos últimos anos, entretanto, um homem dotado de olfato extraordinário vem abalando a rígida hierarquia do mundo dos vinhos. Trata-se do americano Robert Parker, o mais famoso crítico de vinho no mundo, que avalia cerca de 10 mil exemplares por ano. Parker costuma deixar furiosos alguns dos mais venerados produtores franceses quando estes recebem notas baixas no seu guia de vinhos The Wine Advocate (O Advogado do Vinho, sem tradução brasileira), uma publicação bimestral que tem cerca de 40 mil assinantes em todo o mundo. As notas de Parker, de 50 a 100, podem significar o sucesso ou o fracasso de uma safra. Sua credibilidade foi conquistada pelo fato de ele pagar a maioria dos vinhos que degusta e pela simplicidade de seus julgamentos.
"Eu não dou nenhum valor se a linhagem da família do produtor é do período pré-revolucionário ou se você tem uma fortuna maior do que eu possa imaginar", disse Parker recentemente numa entrevista à revista americana The Atlantic Monthly. "Se o vinho não for bom, eu vou dizer que ele não é."
De certa forma, as críticas de Parker vêm criando uma nova era do relacionamento com o vinho. Por não valorizar o nome do rótulo, ele ajudou a promover vinhos de países como África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Chile e Estados Unidos, que custam bem menos do que os franceses. Ele também ajudou a retirar da bebida a imagem esnobe, trazendo de volta o interesse genuíno pelo simples prazer da degustação. Apreciar a bebida deixa de ser um distintivo social para se tornar um símbolo de qualidade de vida.
Isso não significa, é claro, que o vinho deixará de ser "o suporte de uma mitologia variada", como já escreveu Roland Barthes em seu livro Mitologias. Afinal, que outra bebida conseguiu manter sua aura em meio a um mundo marcado pelo doce fácil dos refrigerantes? Nada contra uma Coca-Cola ou um Guaraná gelado, mas beber um vinho é como ler um bom livro. Ou, como dizia o cineasta italiano Federico Fellini, "é como um bom filme: dura um instante e deixa na boca um sabor de glória; é novo em cada gole e, como nos filmes, nasce e renasce em cada degustador". Um filme que conta mais de 7 mil anos da aventura humana numa única taça.
Frases
Os primeiros vestígios da plantação de uvas têm cerca de 7 mil anos. Durante todo esse tempo, o vinho foi a bebida sagrada usada no ritual da eucaristia para representar a última ceia (abaixo), além de alimento, anti-séptico e analgésico (acima, barris de vinho no fundo de um hospital na França durante a Primeira Guerra)
No Château d’Yquem (acima), o vinho é produzido a partir de uvas atacadas pelo fungo Botrytis cinerea. A colheita manual é tão criteriosa que cada parreira rende apenas uma única taça de vinho. O armazenamento em barris de carvalho (abaixo) ajuda a tornar a bebida ainda mais aromática
Para saber mais
Na livraria
A História do Vinho, Hugh Johnson, Companhia das Letras, 1999
Mitologias, Roland Barthes, Bertrand Brasil, 2001
Vinho e Guerra, Don e Petie Kladstrup, Jorge Zahar Editor, 2002
Na internet
Associação Brasileira de Somelliers: www.abs.sp.com.br
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