Jean Piaget
(...)
"Mas é no terreno genético que procuramos evidenciar o papel das pré-inferências perceptivas. Apresentamos, por exemplo, a uma criança, durante um espaço de tempo curto, duas fileiras paralelas de quatro fichas, uma fileira estando mais espaçada que a outra: a criança terá então a impressão que a fileira maior é mais numerosa. Em seguida lhe mostramos as duas mesmas fileiras, mas tais que os elementos de uma estejam ligados aos da outra por traços introduzindo assim uma ligação material de caráter seja biunívoco (I), ou não o seja (II): nesse último caso, o primeiro elemento da primeira fileira é ligado por dois traços a dois elementos distintos da segunda fileira, o segundo e o terceiro elementos da primeira fileira estão ligados por um único traço aos elementos 3 e 4 da segunda e o elemento 4 da primeira permanece sem ligação. As crianças menores não possuindo o esquema da correspondência biunívoca, percebem uma desigualdade de fichas na figura provida de traços (I) como na figura sem traços. Num segundo nível de desenvolvimento, a criança percebe, pelo contrário, a igualdade em I (mas não a percebe sem os traços); ela a percebe também em II, se contentando então com uma ligação global e não mais biunívoca. Num terceiro nível, ela percebe a igualdade em I, mas não em II. Num quarto nível, ela a percebe novamente em II, dissociando então a percepção das fichas da percepção dos traços. Tal experiência mostra pois que os mesmos dados materiais são percebidos diferentemente segundo os esquemas que o indivíduo dispõe. A aplicacão desses esquemas ao dado atual supõe então a intervenção de elementos não atuais na percepção e por conseguinte em inferências (digamos mais certamente em pré-inferências inconscientes) a partir desses elementos, pré-inferências necessárias para conferir alguma significação aos dados atuais." (...)
PIAGET, Jean. Problemas de Psicologia Genética. São Paulo, Abril Cultural, 1978, pág. 257
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