Os celulares, que já têm programas e serviços, devem ficar ainda mais personalizados
Aos jovens da nova geração, que crescem com a evolução do telefone com música, câmera fotográfica e internet banda larga, uma breve lição de história: há 25 anos, o celular só servia para falar.
Os primeiros dispositivos eletrônicos para redes celulares foram inventados muito antes, nos anos 1960, mas aconteceu exatamente em 1983 o lançamento do modelo 8000X do Motorola DynaTAC, um tijolão de quase 800 gramas que chegaria às mãos dos usuários no ano seguinte.
De lá para cá, o design foi algo que mudou muito. Do primeiro tijolão aos projetos ultrafinos de hoje (sem contar o iPhone), o celular evoluiu a ponto de se transformar em objeto de desejo do usuário.
"Lembra da indústria automobilística no começo? Os carros eram monocromáticos. Hoje, temos conversíveis e [carros] de todas as cores. O mesmo vale para os telefones. No começo, eles só serviam para falar mesmo", diz William Yau, designer da Nokia.
O que mudou também foi o sistema operacional que move o telefone, já que, atualmente, os celulares são praticamente PCs de bolso.
Os sistemas mais populares -Symbian, Windows Mobile, Linux e, ainda neste ano, Android, desenvolvido com incentivo do Google e parceiros-, brigam por mercado e ainda não há um grande vencedor. Correndo por fora, tem a Apple e seu Mac OS X.
"Os perfis são distintos. Quem usa o Windows quer produtividade, o Linux é bastante usado para celulares com música e o Symbian, para multimídia", explica Edson Bortolli Jr., diretor de produto da Motorola. "As operadoras também não se interessam pelo domínio de um sistema só", completa.
Praticamente todos os fabricantes de celulares e equipamentos de redes entrevistados pela Folha confirmam uma tendência para o futuro nos telefones celulares: os aparelhos serão cada vez mais personalizáveis e os serviços oferecidos por eles vão atrair cada vez mais o consumidor.
"Telefone é vitrine para serviços. Não é à toa que Yahoo!, Google e Apple estejam atrás [desse mercado]. Com serviços no aparelho, o valor da internet vai para o celular", diz Jesper Rhode, vice-presidente de multimídia da Ericsson.
Para Frederick Kitson, vice-presidente da Motorola Labs, "a personalização da interface integrada às buscas vai fazer, por exemplo, o buscador entender o contexto ao redor do usuário, o que ele faz, gosta, de uma forma natural".
Ele dá um exemplo: "Um acelerômetro embutido pode identificar quando você está parado ou em movimento e bloqueia chamadas no carro, por exemplo. Ao mesmo tempo, ele pode informar como está o trânsito."
Outro exemplo de função que pode vir a existir no futuro é citado por Alan Herring, diretor da Tibco Software. "Já existem, nos EUA, serviços que unem a experiência de comparação de preços on-line com códigos 2D em lojas físicas, permitindo comparar preços dentro da loja, em tempo real."
TELEFONE MÓVEL JÁ ERA PESQUISADO NOS ANOS 1940
O primeiro modelo da Motorola, o DynaTAC (que significa Dynamic Adaptive Total Area Coverage), chegou às lojas nos Estados Unidos em março de 1983, com o incrível preço de US$ 3.995. Mas pesquisas envolvendo redes celulares já existiam desde os anos 40 na Europa. Em 1956, a Ericsson lançou na Suécia um "sistema automático de telefonia móvel" chamado MTA (Mobile Telephony System A).
O aparelho "portátil" pesava 40 quilos. Nove anos depois, foi lançada uma versão mais leve, que pesava nove quilos. O sistema existiu até 1983.
Banda larga móvel deverá popularizar o acesso a internet
As funções dos telefones celulares só começaram a ficar sofisticadas com o início do acesso móvel à internet (páginas WAP), em 1999. Os dados chegavam ao telefone.
E eles chegarão ainda mais rápido com a oferta de serviços pela rede 3G, que veio ao país no final do ano passado e que permite que os dados trafeguem na velocidade da banda larga doméstica.
"Com o lançamento dos serviços 3G no Brasil, 2008 vai ser o ano da popularização dos smartphones", afirma André Varga, gerente de produtos da Samsung. Atualmente, há cerca de 123 milhões de celulares do Brasil, segundo a Anatel.
A terceira geração das redes celulares também é ambiente de aposta para aumentar a inclusão digital no país. "Para a grande massa de usuários, vai ser a principal alternativa às opções fixas de banda larga", conta Paulo Breviglieri, diretor de desenvolvimento de negócios da Qualcomm.
Porém, se o celular no futuro promete ficar cada vez mais rápido, como ficam as conexões a cabo ou por ADSL existentes? A resposta vem de Jesper Rhode, vice-presidente de multimídia da Ericsson. "A vantagem hoje para as operadoras fixas é que as velocidades no cabo são mais rápidas e, em breve, vão chegar a 50 ou 100 Mbps, atendendo a uma demanda para a casa digital sem fios", explica.
TV digital
Seja por meio de aparelhos que captam o sinal digital seja por transmissão via streaming direto para o aparelho 3G, os vídeos para telefones vieram para ficar, garantem os especialistas consultados pela Folha.
"A TV digital no telefone será um serviço que pode integrar a transmissão aberta com a interatividade [a ser] fornecida pelas operadoras. Que tal votar em quem deve ser eliminado do "Big Brother" diretamente do telefone? Além disso, nos EUA já existem redes de TV paga via celular, e isso pode vir a acontecer no Brasil no futuro", prevê Breviglieri, da Qualcomm
ULTRA-RÁPIDA
A evolução da terceira geração de telefonia celular aponta para um sistema que é conhecido hoje como 3GPP LTE (Long Term Evolution; evolução a longo prazo, em português), tecnologia que deve levar banda ultra-rápida ao celular. A promessa dos pesquisadores é de atingir mais de 250 Mbps (megabits por segundo) para download -hoje, a média é de 1 Mbps- e de 50 Mbps para upload. Os primeiros projetos são esperados para 2010.
Tradução de textos em fotos ajuda em viagens
Imagine que você está na China e não entende nada ao seu redor. Pensando nisso, foi lançado um programa de tradução de fotos para celular, o Shoot & Translate, na feira Cebit, que ocorreu há duas semanas, na Alemanha.
Ele funciona assim: você tira a foto de um texto e, por meio da tecnologia de reconhecimento de caracteres OCR, o programa o traduz. É possível ouvir em voz alta o conteúdo. O software não pode ser encontrado no Brasil.
Na internet
Hoje, é possível encontrar em sites como cellphones. about.com diversos softwares para enviar SMS do computador, converter DVDs no formato de dispositivo móvel e controlar o PC a partir do telefone.
Porém ainda não é confortável navegar e inserir conteúdo na rede pelos celulares comuns. Tanto que, aqui no Brasil, os serviços de dados -downloads e uploads- representam entre 8% e 10% da receita das operadoras.
Mas já há uma grande quantidade de serviços de fotos, vídeos, blogs, localizadores GPS e consultas bancárias.
Dentre esse conteúdo, o que mais se destaca são as músicas. Para se ter uma idéia, uma das maiores lojas de música on-line da América Latina, a Vivo Play, vende cerca de 300 mil canções na íntegra por mês, e 60% dos downloads feitos por clientes da Claro são de músicas, segundo as empresas.
Há ainda os recursos que permitem usar o telefone para blogar em sites como Blogger e Twitter, inserir fotos no Picasa e postar vídeos no YouTube -pelo celular, trafegam vídeos de cerca de 3 Mbytes.
Novas regras oferecem mais liberdade a usuários
A possibilidade de trocar de operadora sem mudar o número do celular e as novas regras de atendimento de telefonia móvel devem melhorar, ainda neste ano, a vida dos usuários.
Segundo o Procon-SP, Telefónica, Vivo, Embratel, TIM e Claro lideraram as queixas de serviços essenciais (água, luz e telefone) em 2007.
A portabildade numérica, que permite que o usuário troque de operadora sem mudar de número, deve começar a ser implantada em agosto nas regiões com códigos de área 14,17, 27, 37, 43, 62, 67 e 86. Até março do ano que vem, todos os brasileiros passarão a ter esse direito. A regra também valerá para telefonia fixa.
Novas regras
Em fevereiro último, entrou em vigor o novo regulamento para a telefonia celular, que, entre outras mudanças, estabeleceu novas regras para os usuários de pré-pagos: mesmo sem créditos, eles poderão fazer ligações a cobrar, para números 0800 e telefones de emergência, pelo prazo de 30 dias.
Além disso, quem não usar seus créditos durante o prazo de validade poderá revalidá-los na próxima recarga -mas isso só vale se o usuário não demorar mais de 60 dias para colocar créditos, pois, após esse prazo, a operadora poderá rescindir o contrato.
DIVERSÃO RODA VIA CELULAR, DIZ ESTUDO
Até 2012, 25% do entretenimento será desfrutado de forma circular. As pessoas não terão vontade de apenas consumir conteúdo, mas de compartilhá-lo, recriá-lo e reinventá-lo, passando-o para seus pequenos grupos de amigos. A tendência foi detectada pela Nokia, em estudo divulgado em dezembro de 2007.
"Vai funcionar mais ou menos assim: alguém compartilha uma gravação de vídeo, filmada pelo celular, de uma noite com um amigo. Esse amigo adiciona um MP3 à gravação -a trilha sonora daquele momento- e passa para outro amigo, que edita a filmagem, colocando fotos, e passa para outro amigo, e assim por diante", explicou Marc Selby, vice-presidente de multimídia da empresa, por meio de sua assessoria de imprensa. "O conteúdo continua circulando entre os amigos, que podem ou não estar perto geograficamente."
A pesquisa foi feita com 9.000 consumidores ativos de tecnologia, entre 16 e 35 anos, em 17 países -todos têm celular (de qualquer marca), 25% compram MP3 e 46% usam mensagens de texto.
Comentários