sociólogo, diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil e ex-diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos, falou à coluna sobre a onda de manifestações no País.
Por que está tão difícil traçar um perfil desse movimento social?
Eu também estou tentando compreender até agora. E não é nada fácil. Acontece que as manifestações foram agregando pautas. Em um primeiro momento, era o Movimento Passe Livre. Quando a polícia foi extremamente violenta, houve uma sensação de indignação geral. Começam a surgir indícios de que existe um grande desabafo.
Como assim?
É uma espécie de grito da sociedade, rebelada contra as condições de vida nas cidades. Não se trata apenas de transporte, mas, também, de violência, educação, saúde, dívidas a pagar… E uma juventude que não consegue se empregar e não enxerga um futuro.
O movimento é difuso?
Está apontando para uma ideia de luta pelo direito à cidade, de reapropriação do espaço público. E com toda a variedade de grupos: direita, esquerda, radicais. É um momento de radicalização. Agora, nas manifestações, aparecem gritos de “sem violência” se contrapondo aos de “sem burguesia”. É muito difuso. Eu fico preocupado com os desdobramentos, porque isso pode dar em nada.
E a questão do apartidarismo?Muitos defendem manifestações apartidárias; já outros acham isso antidemocrático.
O movimento não é de esquerda nem de direita. Deveria poder contemplar e aceitar todas as manifestações. Mas uma parte dos que estão na rua não tem visão de democracia. E não quer se misturar com outra que repudia, não quer ver o movimento ganhar uma coloração partidária. Considero isso natural. Passaria a ser um problema se eles não pudessem se expressar. Mas as bandeiras continuam lá.
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