Barthes, Roland (1915-1980), ensaísta e
semiólogo francês, nascido em Cherbourg. A originalidade de seu pensamento –
cujo percurso atípico sempre o manteve de certo modo à margem das instituições
universitárias tradicionais na França – irradiou-se muito além dos seminários
que ele dirigia em Paris e do círculo de seus discípulos. Sociólogo, ele foi
também, nos anos 50, uma das figuras maiores da “nova crítica”.
Roland Barthes foi uma criança frágil, ameaçado, segundo seus próprios
termos, pelo “tédio, a vulnerabilidade e a aptidão ao desespero”. Órfão de pai,
foi criado por sua mãe em Bayonne, onde começou seu curso primário. Mudou-se
para Paris com oito anos, ali continuou seus estudos no Liceu Montaigne, depois
no Louis-le-Grand. Atingido por uma primeira crise de tuberculose, internou-se
numa clínica de repouso nos Pireneus em 1935, ingressando, em seguida, na
Faculdade de Letras onde fez a licenciatura. Várias recaídas da tuberculose o
obrigaram, no entanto, a interromper seus estudos para internar-se em clínicas
de repouso, de 1941 a 1946. Depois de ter ensinado em Bucareste e Alexandria,
como leitor na universidade, Roland Barthes entrou para o Centro Nacional de
Pesquisa Científica (CNRS), na França, primeiramente como estagiário de pesquisa
em lexicologia, depois como pesquisador em sociologia. Em 1962, a qualidade de
seus trabalhos fez com que fosse nomeado diretor de estudos na École Pratique
des Hautes Études, em Paris. Em 1967, defendeu sua tese de doutorado, intitulada
“Sistema da moda”.
Sua primeira obra importante, O grau zero da escritura (1953),
formula um dos conceitos–chave de seu pensamento, que reside numa definição
original do termo “escritura”: “a escritura é uma função; ela é a relação entre
a criação e a sociedade, é a linguagem literária transformada por sua destinação
social, é a forma apreendida na sua intenção humana e relacionada às grandes
crises da História”. Com Michelet (1954), Sur Racine (1966),
Essais critiques (1964) e Critique et Vérité (1966), Barthes
inaugurou um método crítico que se valia de conceitos da psicanálise, da
lingüística e do estruturalismo. Com isso, desencadeou polêmicas envolvendo os
defensores da crítica universitária tradicional, em particular Raymond Picard,
professor da Sorbonne e especialista em Racine, que atacou Barthes em “Nouvelle
Critique ou Nouvelle Imposture”(“Nova Crítica ou Nova Impostura”, 1965). Picard
acusava Barthes de imprecisão e generalizações abusivas, mas, para além dessa
querela, o que causava problema era a própria concepção do texto.
Os anos 60 foram, apesar das resistências, os da renovação da crítica:
o desenvolvimento das ciências humanas trouxe um novo instrumental para os
problemas da literatura. Paralelamente ao Nouveau roman, a nova crítica
buscou abordagens inéditas, propondo, por exemplo, uma nova concepção do
fenômeno literário, que se prendia menos às noções de obra e autor do que às de
texto. Como semiólogo, Barthes contribuiu para que fosse aceita uma concepção de
texto como sistema de signos sempre por interpretar, decifrar, de acordo com um
método empregado em Mitologias (1957), obra em que ele se detém na
análise dos conteúdos latentes dos objetos e fenômenos cotidianos. Roland
Barthes tornou-se a principal figura da semiologia francesa e foi eleito, em
1976, para o Collège de France, onde foi criada para ele a cátedra de semiologia
literária. Ele a ocupou por quatro anos, mas morreu prematuramente em 1980,
atropelado por um caminhão, em Paris.
Referência maior da intelligentsia francesa dos anos 60-70,
Roland Barthes mostrou de uma maneira original o continuum que existe
entre literatura e a crítica, chamando a atenção para o que o ensaio teórico ou
crítico podia ter de profundamente “romanesco” ou até mesmo de “autobiográfico”.
Uma prova disso é a advertência ao leitor que abre o livro Roland Barthes por
Roland Barthes (1975): “Tudo isso deve ser considerado como dito por um
personagem de romance”. É também o que demonstra o princípio de composição dos
Fragmentos de um discurso amoroso (obra de reflexão sobre o amor, à moda
de Stendhal, em De l’amour): “É, pois, um apaixonado que fala e
diz...”
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