Kéfera Buchmann é um fenômeno. Seu canal no YouTube tem quase sete milhões de assinantes. Seu primeiro livro já vendeu mais de 300 mil cópias, o que é muito para um país onde se lê tão pouco. Seu faturamento, dizem, chega a quase 100 mil dólares por mês — um colosso, ainda mais se levarmos em conta o baixo custo de produção de quase todos seus vídeos.
A paranaense de apenas 22 anos é um dos expoentes de uma geração de "self made stars": estrelas que fizeram a si mesmas, sem precisar do cinema ou da televisão, só de uma câmera, algumas ideias bem articuladas, bastante desinibição e um bom acesso à internet.
PC Siqueira e astros da internet estreiam humorístico na TV
Não é só no Brasil que isto acontece. Os vlogueiros — neologismo que combina um outro, blogueiros, com o "v" de vídeo — espalharam-se pelo mundo. Até o Estado Islâmico tem os seus: dissidentes que correm risco de vida ao contar como é a vida no horrendo "califado".
Como sói acontecer com tudo que vem da web, mais uma vez a TV aberta foi pega de surpresa. Enquanto que muitos executivos do ramo tentam em vão transformar suas esposas em apresentadoras competentes, uma garotada despretensiosa voa por baixo do radar e atinge um público significativo.
Um público de nicho, é verdade. Mesmo canais populares no YouTube como o Põe na Roda ou o de PC Siqueira visam segmentos bastante específicos. E a TV aberta, é óbvio, precisa atingir o maior número possível de pessoas. Não pode se dar ao luxo de falar só para uma turminha.
Mesmo assim, nomes como a própria Kéfera já foram sondados até pela Globo. A moça nasceu, sem dúvida, para falar diante das câmeras. E Deus sabe como a emissora precisa rejuvenescer seu plantel de apresentadores.
Mas, até o momento, a estrela do 5incominutos recusou todos os convites. Já ganha bem fazendo o que gosta e dizendo o que pensa. Para quê se submeter aos ditames de um diretor, ou à linha editorial adotada pela casa?
Além do mais, sair-se bem na internet não é garantia de sair-se bem na TV. Que o diga a sensação do momento, a fluminense Jout Jout, que perdeu o rebolado durante uma recente entrevista no "Programa do Jô".
É fato que o entrevistador foi inconveniente e ficou muito pior na foto do que sua entrevistada. Mas a própria Jout Jout admitiu nervosismo, por estar na frente de uma plateia e distante do ambiente controlado onde grava seus vídeos caseiros.
Por enquanto, TV aberta e vlogueiros são como água e azeite: não se misturam. Mas é difícil imaginar que esta situação permaneça para sempre. As emissoras precisam reconquistar os jovens, que perderam o hábito de ver TV. E algumas dessas estrelas da internet —não todas, aposto —farão com sucesso a transição e atingirão todo o país.
O desafio será manter o frescor e a independência que elas têm na rede. Mas talvez esta relação complexa se transforme em azeite e vinagre: continuam não se misturando, mas combinam muito bem.
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