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Você prefere uma sociedade livre ou uma sociedade de controle?

 É uma pergunta simples: você prefere que a sociedade seja livre, que as pessoas possam fazer o que quiserem, ou prefere uma sociedade de controle, em que alguém mande ou desmande e precisemos obedecer a um comando e às vontades momentâneas?

Podemos abranger a pergunta para nossas grandes personalidades políticas em discussão no país. Por exemplo, os deputados anátemas um do outro, Jean Wyllys e Jair Bolsonaro. Qual dos dois quer uma sociedade livre? Qual dos dois quer uma sociedade de controle?

Jean Wyllys defende um Estado que garanta os “direitos das minorias” – de fato, é difícil pensar em qualquer coisa de Wyllys que não recaia, de alguma forma, nesta definição. Bolsonaro, cru, impolido, direto, sem meias palavras, é a definição de uma pessoa que soa grossa, incorreta, até mesmo preconceituosa para ouvidos sensíveis. Acusam-no, com freqüência, de ser “defensor da ditadura”.

Parece meio claro que Wyllys defende uma sociedade livre, e que Bolsonaro defende uma sociedade de controle.

Analisando toda a literatura sobre os dois modelos de sociedade, podemos ver uma espécie de trindade óbvia sobre as distopias, ou seja, as utopias invertidas – livros que descrevem não um mundo maravilhoso, mas um mundo de controle absoluto da vida. O cânone padrão contém 1984, de George Orwell, Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Além do óbvio O Processo, de Franz Kafka (imprescindível para os tempos de juristocracia do Brasil de fins de 2015), dois livros muito mais distópicos costumam ser deixados de lado: o assustadoríssimo (e o melhor de todos eles) O Zero e o Infinito (Darkness at Noon), de Arthur Koestler, e A Revolta de Atlas, de Ayn Rand.

Nestes livros, vemos algo diferente do que convencionou-se chamar “autoritarismo” desde tempos pré-modernos. Nem mesmo algo levemente similar ao absolutismo l’État c’est moi, tão não-estudado quanto criticado.

Tais livros falam de algo que parecia ter surgido apenas no século XX – ou mesmo que ainda estava em gestação nestes tempos recentes. Não era mais um povo diante do poder discricionário de um rei, tirano, imperador ou o que fosse, dono de caprichos imperiosos usando seus próprios súditos como peões em um xadrez. Tratava-se, pelo contrário, de uma sociedade planejada. Ou seja, não mais o arbítrio frugal e volúvel de reis, não mais uma sociedade sofrente por uma vontade, mas um plano racional que transformou a sociedade em algo incrivelmente mais terrível.

Uma sociedade planejada significa um ordenamento estatal que busque atingir uma sociedade ideal, ou mesmo utópica. Via de regra, algo abstrato, tentando materializar-se nas tessituras do real à força.

Em 1984, a “felicidade” como objetivo final do Estado – um Estado que quer que você seja feliz, e onde uma falha na felicidade é quase traição ao Estado (vide-se o hilário RPG Paranóia, baseado em 1984). Em Laranja Mecânica, uma sociedade de paz (também tema de A Abolição do Homem, de C. S. Lewis, um dos maiores críticos deste modelo político). Em Admirável Mundo Novo, a tecnologia e as drogas a serviço de um mundo sem confronto, em que até a reprodução é controlada apenas pelo Estado. Em O Processo, o objetivo não é claro (como não é o crime que gera a história de Na Colônia Penal, do mesmo autor), mas o processo jurídico e sua burocratização extrema e cegante é quase tangível – para a sua República Tcheca natal ou para o Brasil atual. Em O Zero e o Infinito, a construção do comunismo, de uma sociedade de iguais, de uma Revolução que pusesse fim às desigualdades e imprecisões do capitalismo. Em A Revolta de Atlas, o mesmo, de maneira lenta: como uma social-democracia iria gradualmente se transformando em comunismo, no seio do capitalismo mundial, a América.

São todos livros que refletem o que G. K. Chesterton definiu sobre revoluções, em seu imperdível texto O Vento e as Árvores:

Você não pode ver o vento; pode apenas ver que há vento. Assim, também, não se pode ver uma revolução; pode-se apenas ver que há uma revolução. E nunca houve na história do mundo uma revolução real, brutalmente ativa e decisiva, que não fosse precedida por inquietude e novos dogmas no reino das coisas invisíveis. Todas as revoluções começaram sendo abstratas. A maioria começou de forma pedantemente abstrata.

Assim, a primeira e maior característica de uma sociedade de controle é uma diferença fundamental do autoritarismo típico, praticamente o seu oposto: não se trata da potestas, a força física do Estado, agindo por capricho.

Trata-se de uma sociedade que, graças a uma abstração – como a “paz” (nunca bem definida), a “igualdade”, a “fraternidade” ou o que for -, não permite que as pessoas façam o que queiram, pensem livremente sem interferência (ainda que pensem errado), acreditem no que quiserem, digam qualquer coisa, mesmo a maior bobagem, ajam como quiserem ou trabalhem e criem a riqueza que desejem, desde que sem interferir no terreno do próximo – a “busca da felicidade” das leis americanas, sua incrível noção de fronteira completamente alienígena ao Brasil.

Um ordenamento destes não surge do capricho, de um estado de sítio, de uma crise ou de um ato institucional, embora possa deles tirar vantagem: a nova ordem surge de como alguém imagina que seja uma sociedade perfeita. É uma espécie de tirania das boas intenções.

É como alguém jogando Sim City ou Age of Empires: tudo é bom se a sociedade inteira age em harmonia, como se todos se amassem, como se ninguém discordasse de ninguém, como se todos finalmente tivessem atingido um pensamento único, como se houvesse um único plano para todas as pessoas seguirem, e não vontades individuais contrárias ao que deseja o jogador que clica nos bonequinhos e lhes ordena que façam X ou Y. É mesmo uma sociedade esteticamente agradável (a harmonia e a uniformidade é conceito basilar da estética, da música aos desfiles militares), mas desde que você seja o jogador – e não uma das pessoinhas na cidade virtual que lhe obedecem sempre de bom grado, inclusive a matar e morrer em nome de seu plano.

Se em jogos de estratégia tal se dá pelo objetivo do jogador, na realidade o efeito se dá pela abstração – desde pelo menos a Revolução Francesa, não se quer mais deixar as pessoas serem livres, e sim que sigam algum plano do Estado, baseado desde em ideais (não-reais) como liberté, égalité, fraternité até algo como “nova matriz econômica” ou “ideologia de gênero” e “família não-tradicional”.

Assim, podemos começar a responder à pergunta: quem defende uma sociedade de controle: Jean Wyllys ou Jair Bolsonaro?

Numa sociedade livre, não teremos uniformidade. Podemos ter leves tentativas de convencimento, e sobretudo leis baseadas em um ideal comum (religioso e transcendente, ou as tentativas de “Estado laico”, que dependem sempre da mesma matriz religiosa, nunca tendo florescido em outra), mas não uma uniformidade completa de idéias. Eu serei católico, meu vizinho será umbandista, meu primo votará nos socialistas, meu cachorro vai torcer pro XV de Piracicaba.

Os projetos de lei apresentados ou defendidos por um deputado galeroso, tão esquematicamente universitário de Humanas como Jean Wyllys vão na direção oposta: querem criminalizar opiniões divergentes da sua, não sendo autoritário, mas buscando controle, sobretudo através de eufemismos (algo tão estudado por George Orwell): são leis “anti-homofobia” (considerando “homofobia” até mesmo a recusa de padres a celebrar o casamento católico de dois gays), são leis promovendo “ideologia de gênero”, são projetos como o kit gay, a legalização do aborto.

Para disfarçar seu vezo pelo controle (tão baseado em totalitários controladores como Marcuse ou Gramsci, cuja “filosofia” Wyllys descreve em entrevista à revista Brasileiros), chama cicladianamente seus adversários justamente de “fascistas” (depois de “homofobia”, a palavra mais usada pelo ex-BBB), definindo como fascista quem discorda de sua sociedade de controle.

De fato, discordar dos planos de Jean Wyllys pode render ser alvo de CPIs infundadas ou de uso do Estado para ser calado – fora a defesa do “controle social da mídia” ou do “marco civil da internet”, que falam por si.

Jair Bolsonaro and family, ao contrário do senso comum que costuma ser trabalhado pela imprensa, Academia e classe falante, não tem registro histórico de processos contra discordantes, não usa o Estado para perseguir opositores (mesmo Maria do Rosário, que lhe caluniou chamando-lhe de “estuprador”, demorou 11 anos para receber uma resposta mal-educada, que é absurdamente menos do que o processo que poderia ter sofrido), não defende “controles” da imprensa ou da internet para que elas só publiquem o que lhe for favorável. Ainda assim, é chamado de “defensor da ditadura” – justamente pela imprensa livre de seus caprichos.

Numa sociedade livre, as pessoas trabalham com o que querem, produzem a riqueza conforme seus próprios desígnios, podem guardar os frutos de seu trabalho para si. Numa sociedade de controle, a riqueza e o trabalho são definidos pelo Estado: é o plano geral do Estado que define se você será guardador de bibliotecas ou jogador de xadrez, e você só deve ter como riqueza “particular” (conceito que sempre pode ser revisto) o que for a riqueza nacional, dividida por cada um dos súditos (membros do Partido à parte). Se seu vizinho não estudou engenharia mecatrônica como você, preferindo beber ou ficar à toa, você deverá ganhar o mesmo que ele, em nome do ideal abstrato “igualdade”. Caso você cometa um crime, incluindo assassinato, está abonado, desde que seja em nome da dita “igualdade”.

Jean Wyllys faz parte do Partido Socialismo e Liberdade (sic). Jair Bolsonaro é defensor do capitalismo. Qual defende uma sociedade livre, qual defende uma sociedade de controle?

Wyllys defende “correções” numa desigualdade criada ad hoc para servir de mote para adolescentes. Como, por exemplo, a “desigualdade” de ganhos entre homens e mulheres (como se houvesse tal desigualdade entre homens e mulheres no mesmo cargo). Socialista, quer que um jovem que está com seu primeiro emprego de empacotador tenha o mesmo salário de um pesquisador que cure o câncer. Bolsonaro prefere que o desejo das pessoas (que formam a abstração “o mercado”) determine os ganhos. Quem defende o controle, quem defende a liberdade?

Numa sociedade livre, as pessoas são livres justamente para estarem erradas. As pessoas podem dizer o que quiserem, mesmo que isso desagrade a alguém. A única coisa proibida numa sociedade livre é a agressão e a tentativa de tomar o que é do outro à força ou por trapaça – por isto os códigos penais e civis.

Bolsonaro diz coisas desagradáveis, justamente por dizer o que pensa. Sem meias-palavras, não se submete aos ditames do politicamente correto, um código não-escrito de como se deve falar, para não ofender hipersensibilidades alheias. É alguém que nem seus mais ferrenhos opositores podem acusar de esconder suas intenções sob palavras edulcoradas.

Jean Wyllys não quer desagradar a ninguém, e prefere códigos de fala (sempre considerando “fascista” quem foge a ele) em que sexo homossexual seja “relação homoafetiva”, em que “família” seja algo definido por ele ou membros de um DCE que mal sabem pagar as contas de uma república estudantil, em que qualquer religião que não aceite o homossexualismo (seu tema único) seja considerada “fundamentalismo” (exceto, é claro, o islamismo).

Qual defende o controle, a tentativa de pensamento único, a força do Estado para criar consensos, e qual deixa que as pessoas sejam livres para o que quiserem dizer, sem uniformidade, sem um plano abstrato geral anterior à liberdade?

Jair Bolsonaro pode ser acusado de muitas coisas: grosso, incorreto, bruto, impolido – e vários outros sinônimos para quem fala sem se importar se vai pegar mal para alguém ou não. Jean Wyllys, ao contrário, além de extremamente controlador, totalitário, socialista e “regulador”, é um completo analfabeto político: chama todos os seus discordantes de “fascista”, mas é ignorante demais para saber que o fascismo é, justamente, o controle da população para um pensamento único, para não ofender as “minorias”, para que todos ganhem o mesmo controlando o mercado, para “causas sociais” que tanto atraem jovens que pouco sabem sobre o funcionamento da vida e os mecanismos entre as intenções e os resultados.

O Brasil, com seus “planos governamentais”, seu MEC, seu SUS, sua carga tributária de mais de 40%, sua economia controlada, seu marco civil, seu controle social da mídia, sua publicidade estatal, sua CUT, seu MST, sua UNE, seus programas sociais, sua legislação trabalhista, sua burocracia, sua politização absoluta da vida, é uma sociedade de controle.

O Brasil, afinal, não é um país com o padrão de vida da Suíça, do Canadá, da Austrália, de Israel, da Grã-Bretanha, da Alemanha, da Áustria ou do Japão por não ser uma sociedade livre. É, pelo contrário, um país em que vicejam bem criaturas como Jean Wyllys – de fato, é sua casa.

Países livres não são uniformes, não são “igualitários”, não são controladores e “regulamentadores”. Por conseguinte, ser “pobre” num país livre significa ter muito mais (fora a própria cultura local) do que ser “classe média” num país como o Brasil.

Nossos jovens, que sempre se acham anti-autoridade, como bem lembra Hugh Laurie, raramente o são. São os “idealistas” que mais querem controlar tudo – sobretudo, subverter o que acham que é errado, pela pressa juvenil de querer tudo em mãos, com um atalho entre seu desejo e sua consecução – o que gera a crise do Brasil atual.

A mentalidade infantilóide é o que causa o Estado de controle – o Estado de Jean Wyllys. Como bem diz Ann Coulter (também xingada de todos os nomes pelos “progressistas” de plantão), quando esquerdistas gostam de algo, eles subsidiam. Quando não gostam, proíbem. Parece mais Jean Wyllys ou Jair Bolsonaro?

Enquanto alguns hipersensíveis reclamam das palavras desabridas de Bolsonaro sobre gays ou o que for, não se tocam que, quanto mais comentamos sobre o linguajar de Bolsonaro, mais nós temos controle sobre ele – enquanto Jean Wyllys, pautando tais cabecinhas, mais nos controla.

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