Fomos surpreendidos na semana passada por uma greve totalmente incompreensível. A pauta principal dos grevistas era em apoio aos professores, defendendo a contratação de novos docentes em substituição às inúmeras aposentadorias dos últimos anos.
A grande surpresa é que a greve foi iniciada justamente quando a reitoria anunciou que haverá a contratação de mais de 800 docentes, de acordo com as reivindicações dos diferentes institutos. Também é surpreendente que a redução do número de docentes, que afeta primordialmente os professores, que acabam arcando com número maior de aulas, não foi deflagrada por eles.
Ao contrário: a grande maioria dos professores se posicionou contra a greve. O nosso compromisso com a excelência na pesquisa e formação dos melhores alunos e futuros cidadãos ultrapassa os muros da universidade. Não medimos esforços para que isso aconteça.
De fato, apesar da pandemia e de todas as dificuldades, continuamos como a melhor da América Latina em mais um ranking. Estamos conscientes que temos de dar um retorno à sociedade que nos mantém com seus impostos .
Isso vale para nós, professores, e para todos os alunos e funcionários. O exemplo que temos de dar é que não podemos diminuir a qualidade das pesquisas e do ensino, apesar das dificuldades. E que só podem ser resolvidas com o diálogo, não com enfrentamentos, agressões ou baderna.
E aí me pergunto, caros grevistas. Que impressão damos à população que nos sustenta com greves e depredações? O que pensam os inúmeros jovens e pais que não conseguiram o privilégio de frequentar a USP, mas que nos sustentam com seus impostos?
Como chamar de democracia um movimento em que a minoria de grevistas, muitos deles mascarados, impede a maioria dos docentes de dar aula? Onde os grandes prejudicados são justamente os alunos?
Se os grevistas acreditam em defender um pleito justo, por que cobrir os rostos com máscaras? Em nome dos docentes e pesquisadores da USP, gostaria de reforçar o que dizemos sempre aos alunos. Temos um interesse em comum: formar os melhores profissionais e cidadãos. Não mediremos esforços para que isso aconteça, não por meio da força ou de greves, mas por meio de reinvindicações justas e do diálogo construtivo
* É professora titular de Genética do Instituto de Biociências da USP e membro da Academia Nacional de Ciências. Foi Pró-reitora de Pesquisa da USP de 2005 a 2009.
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