Antoine Lutz, cientista associado ao Centro Waisman, da Universidade de Wisconsin, discorda. 'Houve um mal-entendido. O Dalai Lama é um humanista e tinha uma mensagem sobre a importância da pesquisa científica', diz Lutz, que já participou de dois encontros do Instituto Mind and Life. E a mensagem que o Dalai Lama passou, em sua controversa palestra, foi de novo a necessidade de aproximação entre as disciplinas. 'Embora a tradição contemplativa budista e a ciência moderna tenham evoluído a partir de raízes históricas, intelectuais e culturais diferentes, acredito que compartilhem aspectos significativos, especialmente na perspectiva filosófica e na metodologia', declarou.
Cientistas próximos ao Dalai Lama não estão livres de críticas de colegas. Um estudo de Antoine Lutz, em parceria com o psiquiatra Richard Davidson, foi alvo de controvérsias. Os pesquisadores investigaram a mente de oito monges budistas enquanto eles meditavam sobre compaixão.
Os resultados foram comparados com os de um grupo de dez colegiais, que haviam aprendido a meditar pouco antes do experimento. Os autores concluíram que os monges produziram padrões de ondas gama - associadas à concentração e ao controle emocional - muito mais fortes que os dos estudantes. Porém críticos alegam que diversos fatores, como diferença de idade entre os voluntários, podem ter influenciado o resultado. Para eles, o estudo não prova que a meditação promove emoções positivas.
'É importante preservar os rigores científicos enquanto mantemos os componentes espirituais dessas práticas. Do contrário, podemos medir algo diferente daquilo que intencionamos', pondera Andrew Newberg, professor de psiquiatria da Universidade da Pensilvânia.
Não é à toa que a meditação é um forte ponto de encontro entre budistas e cientistas. Para Daniel Goleman, todas as pesquisas relacionadas à prática possuem um objetivo comum: testar a maleabilidade do cérebro. 'Há uma década, os neurocientistas acreditavam que nossos neurônios não se modificavam ao longo da vida. Hoje já sabemos que isso não é verdade, e ganham força os estudos sobre neuroplasticidade: a noção de que o cérebro muda conforme nossas experiências', conta Goleman no livro 'Emoções Destrutivas', em que descreve os debates ocorridos em um dos encontros do Mind and Life.
Se o treino mental pode ajudar a produzir emoções positivas, a meditação parece ser a melhor 'ginástica' para atingir esse objetivo. Associadas ou não à religiosidade, as práticas meditativas são variadas. 'Algumas focam frases, imagens ou palavras, enquanto outras trabalham em uma 'limpeza' da mente e descanso no sentido de atingir a consciência pura', diz Newberg. 'Praticar meditação é questionar-se', complementa a monja zen Coen Sensei.
Outro estudo que despertou interesse na comunidade científica foi o da neurocientista Sara Lazar. Ela desenvolveu a hipótese de que a meditação não somente alteraria ondas cerebrais, mas também poderia modificar estruturas físicas do cérebro. Para testar sua idéia, mediu a espessura do córtex, a parte mais externa do cérebro, de voluntários com e sem experiência nas práticas meditativas. Sua equipe descobriu que áreas associadas à atenção e ao processamento sensorial no córtex eram mais espessas nos meditadores. Além disso, o estudo mostrou que a diferença era maior nos mais velhos, sugerindo que a regularidade da meditação pode minimizar o estreitamento do córtex, natural no envelhecimento. 'Nossas descobertas são consistentes com outros relatos, que demonstram que hábitos como tocar um instrumento musical também estão vinculados a um ganho de espessura do córtex', afirmam os autores.
Além de afetar ondas, função e estrutura, a meditação pode interferir na química cerebral. Um estudo do Instituto John F. Kennedy, na Dinamarca, demonstrou que, durante a prática, o nível de dopamina no cérebro aumenta. Esse neurotransmissor é relacionado a sensações de prazer e motivação. Embora seja importante confirmar os resultados, outros trabalhos sugerem que a meditação ajuda a reduzir o estresse e melhora o sistema imunológico. Alguns planos de saúde nos Estados Unidos já oferecem descontos para os associados que a exercitam com regularidade.
'Como a ciência ainda não dispõe de instrumentos para mensurar objetivamente nosso mundo interior, as práticas meditativas, não apenas do budismo, fornecem importantes informações sobre esse aspecto de nossa natureza', diz a psicobióloga Elisa Kazasa, pesquisadora da Unifesp. 'Elas podem complementar informações obtidas por meio de instrumentos científicos, como inventários psicológicos, aparelhos de registro fisiológico e a moderna neuroimagem funcional', opina. É o que também pensa Alan Wallace, ex-monge tibetano e um dos intérpretes do Dalai Lama nos encontros do Mind and Life. Wallace compara as práticas meditativas com um telescópio destinado a 'olhar para dentro', para que possamos conhecer nossa consciência.
Cientistas próximos ao Dalai Lama não estão livres de críticas de colegas. Um estudo de Antoine Lutz, em parceria com o psiquiatra Richard Davidson, foi alvo de controvérsias. Os pesquisadores investigaram a mente de oito monges budistas enquanto eles meditavam sobre compaixão.
Os resultados foram comparados com os de um grupo de dez colegiais, que haviam aprendido a meditar pouco antes do experimento. Os autores concluíram que os monges produziram padrões de ondas gama - associadas à concentração e ao controle emocional - muito mais fortes que os dos estudantes. Porém críticos alegam que diversos fatores, como diferença de idade entre os voluntários, podem ter influenciado o resultado. Para eles, o estudo não prova que a meditação promove emoções positivas.
'É importante preservar os rigores científicos enquanto mantemos os componentes espirituais dessas práticas. Do contrário, podemos medir algo diferente daquilo que intencionamos', pondera Andrew Newberg, professor de psiquiatria da Universidade da Pensilvânia.
Não é à toa que a meditação é um forte ponto de encontro entre budistas e cientistas. Para Daniel Goleman, todas as pesquisas relacionadas à prática possuem um objetivo comum: testar a maleabilidade do cérebro. 'Há uma década, os neurocientistas acreditavam que nossos neurônios não se modificavam ao longo da vida. Hoje já sabemos que isso não é verdade, e ganham força os estudos sobre neuroplasticidade: a noção de que o cérebro muda conforme nossas experiências', conta Goleman no livro 'Emoções Destrutivas', em que descreve os debates ocorridos em um dos encontros do Mind and Life.
Se o treino mental pode ajudar a produzir emoções positivas, a meditação parece ser a melhor 'ginástica' para atingir esse objetivo. Associadas ou não à religiosidade, as práticas meditativas são variadas. 'Algumas focam frases, imagens ou palavras, enquanto outras trabalham em uma 'limpeza' da mente e descanso no sentido de atingir a consciência pura', diz Newberg. 'Praticar meditação é questionar-se', complementa a monja zen Coen Sensei.
Outro estudo que despertou interesse na comunidade científica foi o da neurocientista Sara Lazar. Ela desenvolveu a hipótese de que a meditação não somente alteraria ondas cerebrais, mas também poderia modificar estruturas físicas do cérebro. Para testar sua idéia, mediu a espessura do córtex, a parte mais externa do cérebro, de voluntários com e sem experiência nas práticas meditativas. Sua equipe descobriu que áreas associadas à atenção e ao processamento sensorial no córtex eram mais espessas nos meditadores. Além disso, o estudo mostrou que a diferença era maior nos mais velhos, sugerindo que a regularidade da meditação pode minimizar o estreitamento do córtex, natural no envelhecimento. 'Nossas descobertas são consistentes com outros relatos, que demonstram que hábitos como tocar um instrumento musical também estão vinculados a um ganho de espessura do córtex', afirmam os autores.
Além de afetar ondas, função e estrutura, a meditação pode interferir na química cerebral. Um estudo do Instituto John F. Kennedy, na Dinamarca, demonstrou que, durante a prática, o nível de dopamina no cérebro aumenta. Esse neurotransmissor é relacionado a sensações de prazer e motivação. Embora seja importante confirmar os resultados, outros trabalhos sugerem que a meditação ajuda a reduzir o estresse e melhora o sistema imunológico. Alguns planos de saúde nos Estados Unidos já oferecem descontos para os associados que a exercitam com regularidade.
'Como a ciência ainda não dispõe de instrumentos para mensurar objetivamente nosso mundo interior, as práticas meditativas, não apenas do budismo, fornecem importantes informações sobre esse aspecto de nossa natureza', diz a psicobióloga Elisa Kazasa, pesquisadora da Unifesp. 'Elas podem complementar informações obtidas por meio de instrumentos científicos, como inventários psicológicos, aparelhos de registro fisiológico e a moderna neuroimagem funcional', opina. É o que também pensa Alan Wallace, ex-monge tibetano e um dos intérpretes do Dalai Lama nos encontros do Mind and Life. Wallace compara as práticas meditativas com um telescópio destinado a 'olhar para dentro', para que possamos conhecer nossa consciência.
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