O cheiro de sangue é forte e pode ser sentido de longe. No mercado a céu aberto, o cliente escolhe o animal que lhe parece mais suculento. O golpe na virilha do cachorro é rápido, mas a morte não vem depressa. O sofrimento dura alguns minutos. Os animais que recebem o golpe na jugular têm mais sorte. Mas os abatedores de cães temem a mordida e preferem atacar o animal por trás.
Essa cena se repete diariamente na China. "Que absurdo", diriam os ocidentais, para quem os cães são animais de estimação. O mesmo diria um indiano diante da forma como tratamos bois e vacas. Não há diferença entre matar um boi e um cachorro para comer. O raciocínio vale também para o esfolamento de galinhas, porcos e outros animais.
Tortura, dor, sofrimento, desolação. Animais de várias espécies são tratados como mercadoria, apenas mais um bem de consumo. Morrem covardemente e seus cadáveres são vendidos aos pedaços. Crescem em ambientes artificiais, agressivos à sua natureza. Como pode um animal tão dócil quanto uma vaca ser privado do seu instinto materno só porque a indústria requer que se separe da sua cria quando esta tem apenas alguns dias de vida? Como as aves, animais territoriais, podem viver à razão de oito animais por metro quadrado e não se tornarem neuróticas? Isso para não falar das torturas exercidas nos testes dos laboratórios científicos, mesmo existindo alternativas para o desenvolvimento de novos produtos.
Há quem ache um direito natural do homem submeter os animais a todo tipo de crueldade, assim como já foi natural, no passado, que algumas pessoas se julgassem superiores às outras pela diferença da cor da pele ou do credo religioso. Foi preciso que grupos abolicionistas e humanistas surgissem, mesmo sendo ridicularizados e discriminados no início, para que os homens enxergassem o absurdo na forma como tratavam outros seres humanos. Haverá um momento em que o homem, auxiliado por um novo tipo de abolicionistas - que falam por seres que não podem falar por si saberá que os outros animais não são sua propriedade. São seres com direito à vida.
Enquanto esse dia não chega, pagamos um alto preço sofrendo de doenças ligadas ao consumo de produtos animais. Obesidade, doenças cardiovasculares, diversos tipos de câncer, alergias e outros problemas de saúde que afetam boa parte da população de países desenvolvidos como os Estados Unidos. Bactérias se tornam mais resistentes graças ao uso em massa de antibióticos nos sistemas intensivos de criação animal.
A sociedade ganha uma dose extra de violência com rodeios, farras do boi, rinhas de cães e outras atrocidades em que as crianças aprendem desde cedo qual é a lei que impera no reinado humano. Um império cuja herança é incerta, já que 30% da devastação da floresta amazônica é destinada à formação de pastos para o gado. A população de animais de corte nos EUA produz 130 vezes mais lixo que a população humana daquele país. É sabido que quando consumimos na escala mais baixa da cadeia alimentar (vegetais), reduzimos o consumo dos recursos naturais em até 90%.
Esses são alguns dos motivos pelos quais me abstenho do consumo de qualquer produto animal, incluindo leite, ovos, mel, couro, lã, seda, cosméticos que tenham sido testados em animais etc. O termo atribuído a esse estilo de vida é vegan, chamado por alguns de vegetarianismo radical apesar de não sermos tão radicais quanto aqueles que estouram os miolos de um animal inocente apenas para sentir o sabor de sua carne por alguns segundos.
Como nutricionista, e apoiado por vasta literatura científica, posso dizer que o único produto animal essencial à nutrição humana é o leite que deve ser o da própria espécie e ingerido apenas durante o período de amamentação. Depois dessa fase, os alimentos de origem vegetal são capazes de suprir todas as necessidades nutricionais de qualquer pessoa. E com vantagens, por se tratar de uma dieta isenta de colesterol e rica em fibras, vitaminas e minerais. Para aqueles que acreditam que os alimentos de origem animal são necessários para suprir as necessidades de proteína, ferro e cálcio, recomendo um estudo mais aprofundado. É muito fácil desenhar uma dieta vegan com 200% das recomendações de ferro, 150% de proteína e 100% de cálcio. É preciso que o debate seja informado pela literatura científica e não por campanhas publicitárias pagas pela indústria da carne e do leite.
George Guimarães Nutricionista, especialista em nutrição clínica e nutrição vegetariana
Essa cena se repete diariamente na China. "Que absurdo", diriam os ocidentais, para quem os cães são animais de estimação. O mesmo diria um indiano diante da forma como tratamos bois e vacas. Não há diferença entre matar um boi e um cachorro para comer. O raciocínio vale também para o esfolamento de galinhas, porcos e outros animais.
Tortura, dor, sofrimento, desolação. Animais de várias espécies são tratados como mercadoria, apenas mais um bem de consumo. Morrem covardemente e seus cadáveres são vendidos aos pedaços. Crescem em ambientes artificiais, agressivos à sua natureza. Como pode um animal tão dócil quanto uma vaca ser privado do seu instinto materno só porque a indústria requer que se separe da sua cria quando esta tem apenas alguns dias de vida? Como as aves, animais territoriais, podem viver à razão de oito animais por metro quadrado e não se tornarem neuróticas? Isso para não falar das torturas exercidas nos testes dos laboratórios científicos, mesmo existindo alternativas para o desenvolvimento de novos produtos.
Há quem ache um direito natural do homem submeter os animais a todo tipo de crueldade, assim como já foi natural, no passado, que algumas pessoas se julgassem superiores às outras pela diferença da cor da pele ou do credo religioso. Foi preciso que grupos abolicionistas e humanistas surgissem, mesmo sendo ridicularizados e discriminados no início, para que os homens enxergassem o absurdo na forma como tratavam outros seres humanos. Haverá um momento em que o homem, auxiliado por um novo tipo de abolicionistas - que falam por seres que não podem falar por si saberá que os outros animais não são sua propriedade. São seres com direito à vida.
Enquanto esse dia não chega, pagamos um alto preço sofrendo de doenças ligadas ao consumo de produtos animais. Obesidade, doenças cardiovasculares, diversos tipos de câncer, alergias e outros problemas de saúde que afetam boa parte da população de países desenvolvidos como os Estados Unidos. Bactérias se tornam mais resistentes graças ao uso em massa de antibióticos nos sistemas intensivos de criação animal.
A sociedade ganha uma dose extra de violência com rodeios, farras do boi, rinhas de cães e outras atrocidades em que as crianças aprendem desde cedo qual é a lei que impera no reinado humano. Um império cuja herança é incerta, já que 30% da devastação da floresta amazônica é destinada à formação de pastos para o gado. A população de animais de corte nos EUA produz 130 vezes mais lixo que a população humana daquele país. É sabido que quando consumimos na escala mais baixa da cadeia alimentar (vegetais), reduzimos o consumo dos recursos naturais em até 90%.
Esses são alguns dos motivos pelos quais me abstenho do consumo de qualquer produto animal, incluindo leite, ovos, mel, couro, lã, seda, cosméticos que tenham sido testados em animais etc. O termo atribuído a esse estilo de vida é vegan, chamado por alguns de vegetarianismo radical apesar de não sermos tão radicais quanto aqueles que estouram os miolos de um animal inocente apenas para sentir o sabor de sua carne por alguns segundos.
Como nutricionista, e apoiado por vasta literatura científica, posso dizer que o único produto animal essencial à nutrição humana é o leite que deve ser o da própria espécie e ingerido apenas durante o período de amamentação. Depois dessa fase, os alimentos de origem vegetal são capazes de suprir todas as necessidades nutricionais de qualquer pessoa. E com vantagens, por se tratar de uma dieta isenta de colesterol e rica em fibras, vitaminas e minerais. Para aqueles que acreditam que os alimentos de origem animal são necessários para suprir as necessidades de proteína, ferro e cálcio, recomendo um estudo mais aprofundado. É muito fácil desenhar uma dieta vegan com 200% das recomendações de ferro, 150% de proteína e 100% de cálcio. É preciso que o debate seja informado pela literatura científica e não por campanhas publicitárias pagas pela indústria da carne e do leite.
George Guimarães Nutricionista, especialista em nutrição clínica e nutrição vegetariana
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