Boa notícia para os pais que se aborrecem quando o filho agitadão faz o dever de casa ouvindo rock: um estudo feito no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo mostrou que crianças hiperativas concentram-se mais em atividades motoras e não-verbais quando ouvem esse tipo de som. A música usada na pesquisa foi Trilogy, do roqueiro sueco Yngwie Malmsteen, um adepto do barulhento estilo heavy-metal. Para quem prefere os clássicos, as novidades também são animadoras. Em diversos países, como os Estados Unidos, a França, a Rússia e o Brasil, os cientistas que estudam a mente humana andam interessadíssimos na alegre Sonata para dois pianos em ré maior, que Wolfgang Amadeus Mozart compôs em 1784, aos 28 anos. Experiências com estudantes concluíram que ela aumenta o número de conexões dos neurônios e melhora o raciocínio matemático.
O interesse da ciência pelos efeitos sonoros aumentou com o auxílio decisivo da nova geração de aparelhos de diagnóstico por imagem. São máquinas capazes de detectar, com perfeição, quais partes do cérebro funcionam mais durante uma atividade (é o que fazem os equipamentos de imagem por tomografia nuclear) ou registrar as atividades elétricas do cérebro em milésimos de segundo (como faz o neuro scan, a versão mais avançada do tradicional eletroencefalograma). Apoiados nessa tecnologia, os pesquisadores estão descobrindo um mundo antes inacessível. E despertaram para a capacidade que a música tem de mexer fisiologicamente com a gente.
Bate, bate, coração
"A música não é apenas um som que entra por um ouvido e sai pelo outro", diz o neurologista Mauro Muszkat, professor de pós-graduação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Ela pode interagir com a atividade biológica dos órgãos do nosso corpo", explica. "Assim como a música, o organismo também tem um ritmo." Os pesquisadores acreditam que o corpo, tal como uma orquestra, funciona com uma regularidade sonora, formando uma cadência. É o caso dos sistemas nervoso, endócrino e digestivo, além das ondas cerebrais, do batimento cardíaco, da pressão sanguínea e do fluxo de entrada e saída do ar nos pulmões. "As vibrações sonoras de uma música entram em ressonância com essas vibrações internas do organismo e podem causar diversas reações motoras e psíquicas, ajustando o que estiver em desordem", diz a musicoterapeuta Cleo Monteiro Corrêa, também da Unifesp, que prepara uma tese de doutorado sobre a influência do som no sistema nervoso central.
A musicoterapia, aliás, está longe de ser apenas um tratamento para o paciente por meio de uma melodia suave. "É uma linha de pesquisa muito séria, que ainda tem muito a oferecer à Medicina", diz Muszkat. A música já é empregada no tratamento de derrames cerebrais e de doenças como epilepsia, males de Alzheimer e de Parkinson, autismo, esquizofrenia e depressão. Nessas terapias, não importa tanto o tipo de música ou de ritmo que o paciente ouve, e sim o modo como ele ouve ou seja, a atividade mental que faz enquanto a música toca. No caso do mal de Alzheimer, uma doença em que o cérebro se deteriora a um tal ponto que não se consegue nem lembrar o próprio nome, os terapeutas estimulam a memória com músicas que o paciente reconheça facilmente. Para o derrame, procuram-se atividades e músicas que acionem a parte do cérebro afetada. Os autistas, indiferentes a tudo, reagiram muito bem nas experiências com sons graves e de baixa freqüência, como o de batimentos cardíacos ou de água em movimento.
No outro lado do mundo, médicos do Centro de Estudos do Sono de Moscou, na Rússia, divulgaram no ano passado um método capaz de transformar em música, por meio de um computador, os gráficos de um eletroencefalograma. Com esse sistema, os pesquisadores tocaram para pacientes com insônia a música produzida pela atividade de seu próprio cérebro. Resultado: a qualidade do repouso melhorou em 88% dos casos, aumentando o sono, em média, de 5 horas e 20 minutos para 7 horas e 10. Esse indicador da combinação entre mente e música também ajuda a explicar por que alguns gagos pronunciam frases com dificuldade mas conseguem a façanha de cantar muito bem, como acontecia com o célebre Nelson Gonçalves (1919-1998). Ao cantar, o gago aciona uma parte cerebral (o hemisfério direito do cérebro, ligado às emoções) diferente da que é usada para falar (o hemisfério esquerdo, mais lógico e racional).
O neurologista Cláudio Guimarães dos Santos, do Laboratório de Investigações Médicas da Universidade de São Paulo (USP), também é um entusiasta do uso da música em tratamentos. Mas alerta: esse é um campo de pesquisa inexplorado e a terapia depende da análise do caso de cada paciente. "Ainda não dá para pensar em fórmulas prontas e sair por aí prescrevendo a um doente Beethoven três vezes por dia ou Bach após as refeições", diz.
O interesse da ciência pelos efeitos sonoros aumentou com o auxílio decisivo da nova geração de aparelhos de diagnóstico por imagem. São máquinas capazes de detectar, com perfeição, quais partes do cérebro funcionam mais durante uma atividade (é o que fazem os equipamentos de imagem por tomografia nuclear) ou registrar as atividades elétricas do cérebro em milésimos de segundo (como faz o neuro scan, a versão mais avançada do tradicional eletroencefalograma). Apoiados nessa tecnologia, os pesquisadores estão descobrindo um mundo antes inacessível. E despertaram para a capacidade que a música tem de mexer fisiologicamente com a gente.
Bate, bate, coração
"A música não é apenas um som que entra por um ouvido e sai pelo outro", diz o neurologista Mauro Muszkat, professor de pós-graduação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Ela pode interagir com a atividade biológica dos órgãos do nosso corpo", explica. "Assim como a música, o organismo também tem um ritmo." Os pesquisadores acreditam que o corpo, tal como uma orquestra, funciona com uma regularidade sonora, formando uma cadência. É o caso dos sistemas nervoso, endócrino e digestivo, além das ondas cerebrais, do batimento cardíaco, da pressão sanguínea e do fluxo de entrada e saída do ar nos pulmões. "As vibrações sonoras de uma música entram em ressonância com essas vibrações internas do organismo e podem causar diversas reações motoras e psíquicas, ajustando o que estiver em desordem", diz a musicoterapeuta Cleo Monteiro Corrêa, também da Unifesp, que prepara uma tese de doutorado sobre a influência do som no sistema nervoso central.
A musicoterapia, aliás, está longe de ser apenas um tratamento para o paciente por meio de uma melodia suave. "É uma linha de pesquisa muito séria, que ainda tem muito a oferecer à Medicina", diz Muszkat. A música já é empregada no tratamento de derrames cerebrais e de doenças como epilepsia, males de Alzheimer e de Parkinson, autismo, esquizofrenia e depressão. Nessas terapias, não importa tanto o tipo de música ou de ritmo que o paciente ouve, e sim o modo como ele ouve ou seja, a atividade mental que faz enquanto a música toca. No caso do mal de Alzheimer, uma doença em que o cérebro se deteriora a um tal ponto que não se consegue nem lembrar o próprio nome, os terapeutas estimulam a memória com músicas que o paciente reconheça facilmente. Para o derrame, procuram-se atividades e músicas que acionem a parte do cérebro afetada. Os autistas, indiferentes a tudo, reagiram muito bem nas experiências com sons graves e de baixa freqüência, como o de batimentos cardíacos ou de água em movimento.
No outro lado do mundo, médicos do Centro de Estudos do Sono de Moscou, na Rússia, divulgaram no ano passado um método capaz de transformar em música, por meio de um computador, os gráficos de um eletroencefalograma. Com esse sistema, os pesquisadores tocaram para pacientes com insônia a música produzida pela atividade de seu próprio cérebro. Resultado: a qualidade do repouso melhorou em 88% dos casos, aumentando o sono, em média, de 5 horas e 20 minutos para 7 horas e 10. Esse indicador da combinação entre mente e música também ajuda a explicar por que alguns gagos pronunciam frases com dificuldade mas conseguem a façanha de cantar muito bem, como acontecia com o célebre Nelson Gonçalves (1919-1998). Ao cantar, o gago aciona uma parte cerebral (o hemisfério direito do cérebro, ligado às emoções) diferente da que é usada para falar (o hemisfério esquerdo, mais lógico e racional).
O neurologista Cláudio Guimarães dos Santos, do Laboratório de Investigações Médicas da Universidade de São Paulo (USP), também é um entusiasta do uso da música em tratamentos. Mas alerta: esse é um campo de pesquisa inexplorado e a terapia depende da análise do caso de cada paciente. "Ainda não dá para pensar em fórmulas prontas e sair por aí prescrevendo a um doente Beethoven três vezes por dia ou Bach após as refeições", diz.
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