É um conjunto de ensinamentos que explicam os segredos da formação do universo. Compõe a parte mística da Torá, o livro sagrado do Judaísmo e foi transmitida oralmente desde o início dos tempos. Um dos primeiros textos sagrados sobre o assunto foi o Sêfer Raziel, entregue por um anjo a Adão, o homem primordial. Originada do hebraico le Kabel, a palavra "cabalá" significa recebimento, por ser um conhecimento que a humanidade recebeu de Deus. Os textos da Bíblia judaica, portanto, trazem mensagens ocultas, decifráveis apenas por meio do estudo da Cabala.
Os cabalistas acreditam que o mundo é formado pela combinação das letras hebraicas, que funcionam como um código genético. "As 22 letras do alfabeto hebraico são a representação gráfica das 22 energias primárias que, combinadas, originaram o mundo", diz Cristina Tehilá, coordenadora da Academia de Cabala Rav Meir, no Rio de Janeiro. Os cabalistas são capazes de modificar o curso natural dos acontecimentos ao manipular as letras hebraicas. No caso de um doente, por exemplo, a cura é possível através da visualização de uma seqüência de letras. "Mas nada é mágico e nem acontece de uma hora para outra. A pessoa deve mudar sua conduta, estudar e entender a Cabala. É como adotar um novo sistema de vida", afirma Cristina.
No Talmude, livro que ajuda a interpretar trechos da Torá, há narrações do poder das letras cabalísticas. "Os textos bíblicos contam que Jacó, o terceiro patriarca do povo judeu, pediu ao sogro algumas cabeças de gado. O velho respondeu que só lhe daria os bezerros que nascessem com determinadas características físicas. Jacó, então, ordenou as letras sagradas em um pedaço de madeira e as colocou onde o gado bebia água. Os bezerros nasceram como o sogro havia descrito", diz o historiador da ciência José Luiz Goldfarb, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Hoje, os cientistas fazem o mesmo com a ajuda da engenharia genética.
Apenas poucos estudiosos conseguem praticar os profundos ensinamentos da Cabala. "A teoria fala sobre a criação do universo, a vida após a morte e a evolução espiritual. A prática, que ensina a modificar a estrutura e o rumo das coisas, é algo para pouquíssimos no mundo", diz o rabino ortodoxo Yakof Gerenstadt, de São Paulo. Conta a tradição que, quando o Talmude foi escrito, quatro sábios começaram a estudar a Cabala prática, mas apenas um deles se tornou cabalista. "Essa tarefa não é para qualquer um. Exige uma elevação espiritual muito grande, difícil de alcançar", afirma Yakof.
Os cabalistas usam a chamada árvore da vida, um desenho das conexões das energias que existem no universo, para representar graficamente a realidade. Cada tronco dessa árvore indica uma sefirot, um aspecto da manifestação de Deus nos seres humanos e no mundo - como a sabedoria, o entendimento e o amor. "Um eletrodoméstico explodiria se o ligássemos em uma hidrelétrica. Por isso, usamos as tomadas", afirma Cristina Tehilá. "As dez sefirot da árvore da vida são as tomadas da energia do universo. Para refinar o espírito, devemos nos aprimorar em cada uma delas."
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