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DEIXANDO DE FUMAR - PARTE 1

A luta para largar o cigarro é um vale-tudo. Sem muita força de vontade não há campanha ou pressão que resolva.

Há vários anos o ator Nuno Leal Maia anota todos os dias na agenda a quantidade de cigarros que fumou. Assim, descobriu que nunca ultrapassa a marca de quinze, melhor ainda, alguns dias a agenda fica em branco, prova de que não fumou nada. Essa proeza ele conseguiu submetendo-se a um treinamento curto e grosso: trancou-se um dia inteiro dentro de casa sem fumar. "Foi ai que comecei a me libertar um pouco da muleta", conta o ator, um homem bem menos simplório na vida real do que o bicheiro Tony Carrado por ele interpretado na novela Mandala. Mesmo assim, ainda não conseguiu vencer o vício: basta ficar tenso para acabar fumando. Assim como Leal Maia, um número indeterminado mas ao que parece cada vez maior de brasileiros levanta todos os dias com a disposição-inabalável porém nem tanto, como se verá de romper relações com o cigarro. Eles são a fatia arrependida de uma legião de 33 milhões de pessoas (algo como quatro em cada dez habitantes) que devem queimar este ano 168 bilhões de cigarros. É uma áspera peleja, essa de apagar o derradeiro cigarro e não tornar nunca mais a acender outro. Só os que tentaram e conseguiram sabem o quanto custa. Para começar, o candidato a ex-fumante vive num mundo onde é mais fácil ele ser estimulado a retomar o hábito do que o contrário.
Além disso, nos primeiros tempos de abstinência, os sintomas físicos e psíquicos tendem a ser desencorajadores. Por fim, como o cigarro está associado a uma série de situações prazerosas, das quais não há razão para se privar, o desejo de voltar atrás muitas vezes ameaça afogar as mais firmes promessas. Não são raros, por isso, os que acabam voltando. Estimativas sugerem que sete entre dez pessoas as desistem antes de completar um ano longe do fumo. Depois, porém, as chances de recaída diminuem drasticamente. O segredo, aparentemente, está em tentar de novo-e de novo-até vencer a batalha. Foi o que aconteceu com o pianista Arthur Moreira Lima, que fumou dos 15 aos 40 e libertou-se há anos, cansado de respirar mal e do gosto ruim que Ihe deixavam na boca os quatro maços consumidos por dia. Ele já fizera três tentativas, até que um dia decidiu procurar um acupunturista na esperança de que a aplicação de agulhas em pontos da orelha o ajudasse, como tinha ouvido dizer. "Era uma sexta-feira e a consulta estava marcada para a tarde. Aí pensei comigo: "Por que não paro agora mesmo de manhã? ", lembra-se ele com precisão. Moreira Lima não sabe, a rigor, se foi a acupuntura ou a força de vontade o que resolveu a parada. Mas recorda como se fosse ontem os heróicos tempos sem o cigarro: o primeiro fim de semana foi terrível e para me ocupar fiquei arrumando os armários de casa. O primeiro mês também foi o mais difícil. Eu comia chocolate feito doido; engordei uns 5 quilos. Mas depois fui me acalmando. Comecei até a pensar melhor".
Ex-fumante a atriz Dina Sfat também tinha tentado parar mais de uma vez, porque se sentia cansada e não respirava direito. "De repente, depois de vários fracassos, resolvi que fumar era ridículo e larguei", diz. A decisão mexeu com muita coisa em sua vida cotidiana. "Minha primeira providência foi cortar o café da manhã, para desfazer uma forte associação com o cigarro. Em compensação, passei a comer doces", lembra. Moral da história: Dina engordou 6 quilos (que perdeu um ano e meio depois à custa de muita ginástica), mas nunca mais fumou. Como Moreira Lima e Dina Sfat, muita gente engorda quando pára de fumar, algo que, nestes tempos de culto à forma física, pode submeter a dura prova uma decisão de banir o cigarro, mas na verdade é uma das evidências mais palpáveis das mudanças que ocorrem no organismo. Isso porque as células passam a respirar melhor e a metabolizar melhor os alimentos.
Não há dúvida, porém, de que se engorda também por causa de tudo que se leva à boca (e ao estômago) para compensar a falta de um cigarro nos lábios, principalmente balas, chocolates, chicletes e assemelhados. Outras válvulas de escape diminuem a tensão sem a desvantagem de aumentar o peso-no máximo, podem virar cacoetes: morder lápis, tampas de caneta, hastes de óculos ou o que estiver ao alcance da mão.
Afinal, explica o psiquiatra Arthur Kaufman, da Universidade de São Paulo, "como o cigarro representa quase um companheiro, as pessoas ficam sem apoio afetivo quando param de fumar; por isso alguns passam a consumir mais café, analgésicos e tranqüilizantes, na tentativa de substitui-lo". Em sua opinião, os motivos que levam o fumante a tentar abandonar o hábitoconselhos médico, campanhas educativas, conhecimento sobre os males do fumo, uma doença em família-não bastam logicamente para garantir a vitória na batalha. "É acima de tudo uma questão de resistir à frustração", acredita ele, credenciado por sua condição de ex-fumante.
Depois de vinte anos, Kaufman deixou de fumar pela primeira vez quando começou a escrever um artigo sobre os aspectos psicológicos do tabagismo. Duas recaídas mais tarde (a primeira ao cabo de vinte meses), recorreu à acupuntura e está sem fumar há um ano e meio. "Mas a determinação ajuda bastante", diz o médico. Resistir à frustração, como todos sabem, não é um desafio simples e é justamente quando enfrentam situações emocionais difíceis que alguns ex-fumantes acabam sucumbindo. Assim aconteceu com a assistente social Cecy Gonçalves, que parou duas vezes e duas vezes recomeçou por causa de complicações sentimentais. "Há questão de um ano resolvi segurar a barra tentar parar de vez", diz. "Por isso, conto cada cigarro que fumo-cinco em média por dia-e cada vez a consciência pesa mais, porque sei que estou me prejudicando", confessa ela.
De modo geral, problemas de saúde, menos ou mais graves, são a causa principal das decisões de abandonar o tabagismo. Não se sabe que influência em no Brasil as campanhas antifumo ou as notícias sobre restrições ao cigarro em outros países. Tampouco se sabe porque certas pessoas deixam de fumar e não sentem nada. Há quatro anos o advogado Luis Antônio Campos Arrudão descobriu que precisava fazer exercícios para baixar a taxa de gordura no sangue. Por isso ele deixou o cachimbo que fumava há dez anos. "Foi tranqüilo. Não tive qualquer tipo de ansiedade", garante.
Situação bem mais dramática-pelo motivo e pela dificuldade de parar viveu um dos fumantes mais notórios do país, o ex senador paulista Mário Covas, quatro maços por dia. Em conseqüência de uma angina, que há anos o obrigou a uma semana de hospedagem no Instituto do Coração de São Paulo, muito a contragosto Covas deixou o partido dos fumantes. Isso, porém, não o livrou de uma cirurgia de ponte de safena. O senador, que anos a fio ignorou os apelos de parentes, amigos e eleitores para aderir ao antitabagismo, ainda hoje não resiste à tentação de levar um cigarro aos lábios-felizmente para ele, o cigarro está sempre apagado. Tamanha é a força do hábito que, além disso, Covas mantinha os gestos típicos de fumante: batia o cigarro na cinzeiro e o "apaga".

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