1 | INTRODUÇÃO |
Biblioteca Nacional de Lisboa, instituição assim batizada em 1836. Desde a primeira metade do século XV, foi criada uma livraria no palácio dos reis de Portugal. Tem-se notícia de que Duarte I (1431-1438) constituiu uma valiosa biblioteca, onde, através do respectivo inventário, sabe-se que existiam duas versões do Livro das Maravilhas de Marco Polo, uma em latim e uma tradução em língua portuguesa.
Nos reinados seguintes da dinastia de Avis, particularmente no de Manuel I (1495-1521), a livraria real foi enriquecida com a aquisição de soberbos exemplares. No decurso da Monarquia Hispânica (1580-1640), a ausência permanente dos Áustrias levou a que muitas preciosidades fossem transferidas para Espanha e a livraria do Paço da Ribeira ficasse no abandono. Após a Restauração (ver Restauração em Portugal), João IV (1640-1656), grande bibliófilo e musicólogo, procurou, apesar das terríveis dificuldades militares, diplomáticas e financeiras com que se deparou, refazer a biblioteca real, mandando transferir para Lisboa a preciosa biblioteca do Paço Ducal de Vila Viçosa, formada, durante séculos, pela Casa de Bragança e, em especial, pelo Restaurador, que possuía uma valiosa coleção de partituras musicais.
Apesar da constituição da rica Biblioteca do Convento de Mafra e do melhoramento da Biblioteca da Universidade de Coimbra, seus sucessores, em particular João V (1706-1750), deram prosseguimento à política de enriquecimento da Biblioteca Real, dotando-a de exemplares preciosos, adquiridos em diversos países da Europa. No entanto, todos os esforços empreendidos pelos monarcas bragantinos foram destruídos pelo terremoto, seguido de incêndio, que, a 1º de novembro de 1755, arrasou parcialmente a capital do reino e, em particular, o Paço da Ribeira.
2 | RECONSTRUÇÃO |
José I (1750-1777) empreendeu a penosa tarefa de reconstruir a Livraria Real, adquirindo algumas valiosas bibliotecas particulares, incorporando a biblioteca do extinto Colégio dos Jesuítas de Todos-os-Santos (Ponta Delgada, Açores) e recebendo algumas valiosas doações, especialmente a da grande biblioteca pessoal do bibliógrafo Diogo Barbosa Machado. No entanto, coube ao iluminista Frei Manuel do Cenáculo Vilas-Boas, bispo de Beja e antigo Presidente da Real Mesa Censória, o desenvolvimento de esforços conducentes à fundação de uma biblioteca pública em Lisboa, projeto que já merecera a concordância do marquês de Pombal. Sensibilizados os círculos governativos, Maria I (1777-1816) criou, por alvará de 29 de fevereiro de 1796, a Real Biblioteca Pública da Corte, instalada no espaço anteriormente ocupado pela censura régia em um edifício da Praça do Comércio. A nova instituição herdava a biblioteca da Real Mesa Censória, que, por seu turno, havia absorvido as livrarias da extinta Academia Real da História Portuguesa, bem como o saldo do confisco de vários colégios jesuítas, além de um intensivo programa de aquisições efetuado por Cenáculo com verbas do subsídio literário, instituído por iniciativa do marquês de Pombal, de quem, aliás, o mesmo fora íntimo colaborador.
3 | NOVO ESTABELECIMENTO |
Com a nomeação do doutor António Ribeiro dos Santos (1796-1816), deu-se início à estruturação do novo estabelecimento cultural, à organização dos catálogos e, ainda, a um importante programa de compras, especialmente da Bíblia de Cervera (manuscrito hebraico do século XIII), da Bíblia de Gutenberg, da biblioteca de D. José Pessanha, da colecção Bodoni, do monetário Fontenelle, além de espécies adquiridas em leilões ou doações particularmente valiosas, como as que fizeram os clérigos teatinos, D. Tomás Caetano de Bem, o próprio Cenáculo e Ribeiro dos Santos. Apesar das convulsões provocadas pelas invasões francesas (1806-1812) e pela guerra civil (1829-1834), o diretor de então da biblioteca (1816-1834), monsenhor Ferreira Gordo, conseguiu preservar o essencial do seu já valioso patrimônio, apesar de ter sido obrigado, após o regresso da corte (1821), a transferir uma parte do seu acervo para a Biblioteca Real instalada no Palácio da Ajuda. Isto porque uma parte do conteúdo da livraria régia havia sido transferido para o Brasil, dando origem à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e à Biblioteca Pública da Bahia.
4 | A BIBLIOTECA NACIONAL |
Com a vitória liberal e a subseqüente extinção das ordens religiosas, a Biblioteca Pública foi transferida para o antigo Convento de São Francisco da Cidade (1836), recebendo numerosas livrarias de conventos extintos, particularmente de Ribatejo, Alentejo, Estremadura e Algarve. Assim, entraram no acervo da agora rebatizada Biblioteca Nacional de Lisboa valiosas espécies manuscritas e impressas, destacando-se a famosa Livraria do Mosteiro de Alcobaça com obras dos séculos XIII a XIX.
Só muito lentamente a instituição conseguiu absorver uma tão vultuosa incorporação, adquirindo, ainda, por compra ou doação, diversos arquivos e bibliotecas particulares, em que assumem particular relevo as de dom Francisco de Melo Manuel, de Cipriano Ribeiro Freire e de Costa Lobo, a Camoniana de Tomás Norton e o arquivo da família do marquês de Pombal (Coleção Pombalina).
Com a implantação da República (1910; ver Republicanismo em Portugal), a instituição foi enriquecida com as bibliotecas das congregações religiosas extintas, sublinhando-se a Livraria do Convento do Varatojo e a do Colégio de Campolide, além de doações como a de Fialho de Almeida, aquisições várias, com relevo para o Cancioneiro Colocci-Brancuti e a biblioteca de Brito Aranha, sobretudo no fértil período de direção de Jaime Cortesão (1919-1927), que, com o apoio de Raúl Proença, implementou uma importante reforma da casa, modernizou as regras de biblioteconomia, criou um serviço de publicações e editou os Anais das Bibliotecas e Arquivos, promovendo, ainda, com António Sérgio, o famoso Grupo da Biblioteca.
5 | LETARGIA E RECUPERAÇÃO |
Na vigência da ditadura militar e do Estado Novo, a Biblioteca conheceu um longo período de letargia, sofrendo até algumas dolorosas depredações. Estas contribuíram para se fazer sentir a necessidade de profundas reformas, que passavam pela construção de novas instalações. Sob a direção de Manuel dos Santos Estevens (1951-1974), adotou-se a CDU (Classificação Decimal Universal) e foi planejado um moderno e funcional edifício, concluído em 1969.
Efetuada a transferência e ultrapassadas as seqüelas da Revolução dos Cravos (1974), foram criadas novas seções, e, a partir da direção de João Palma-Ferreira (1980-1983), a biblioteca encontrou um novo dinamismo. Efetuou-se uma profunda reestruturação, promoveu-se uma série de publicações e efetuaram-se importantes aquisições (Coleção Erasmiana de Pina Martins e doação Brito Rato).
Com Manuel Villaverde Cabral (1985-1990), a biblioteca entrou na era da informatização, com a criação da PORBASE (Base Nacional de Dados Bibliográficos), catálogo coletivo em linha que já abrange mais de uma centena de bibliotecas nacionais, encontrando-se disponível, através da Internet, 24 horas por dia. Novas e importantes aquisições têm sido promovidas pelas sucessivas direções, destacando-se a incorporação da Livraria Duarte de Sousa.
Atualmente, dispõe das seguintes seções de leitura: Geral, Periódicos, Reservados (manuscritos e impressos), Iconografia, Cartografia, Música, Especial (para deficientes visuais), arquivos Histórico, de Família (Andrade Corvo, Casa Pombal, condes de Resende e de Tarouca, entre outros) e de Cultura Portuguesa Contemporânea (mais de 50 espólios de autores portugueses, entre os quais sobressaem os de Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Florbela Espanca e Vitorino Nemésio). Dispõe de um patrimônio superior a 3 milhões de exemplares. Seu endereço na Internet é http://www.biblioteca-nacional.pt.
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