Quando se fala em era “pós-PC” se pensa principalmente em tablets e smartphones. Nesse cenário, aparelhos como o iPad e o Galaxy Tab, ou mesmo o iPhone e o Galaxy S, estariam se tornando os novos computadores pessoais, relegando notebooks e desktops ao museu da tecnologia pessoal.
Não chame a Intel para participar dessa conversa. A maior fabricante de chips do mundo tem outra ideia sobre o que reserva o futuro da computação pessoal e doméstica. Repare como é raro ver um chip Intel em um tablet ou smartphone. A empresa busca se posicionar de outra forma: através de uma criação própria, o ultrabook, espécie de notebook bem mais leve e fino.
Foi a Intel quem desenvolveu o conceito em 2011 e o batizou com esse nome. Para a fabricante de processadores, o computador pessoal do futuro não será necessariamente um tablet.
“O tablet nunca vai substituir o PC”, decreta Cassio Tietê, diretor de estratégia e novos negócios da Intel Brasil, falando ao Link por telefone. “Ele pode vir a ser o segundo ou terceiro dispositivo da casa. As pessoas necessitam da capacidade de processamento que só o PC tem. É muito mais adequado à criação e produção de conteúdo.”
Os processadores da Intel para os ultrabooks começam em 1,4 GHz. Boa parte já está no 1,6 GHz, com alguns chegando a 1,8 GHz. Tablets como o iPad novo e Galaxy Tab, por exemplo, têm processador de 1 GHz.
As medidas também são atrativos destes notebooks diet. Eles pesam em média 1,5 quilo. Mas a tendência é que pesem cada vez menos. O recém-lançado Z330, da LG, tem 1,21 quilo. A espessura dos modelos mais esbeltos chega a 13 milímetros, o mesmo tamanho dos modelos mais grossos de celulares.
Há duas semanas, a empresa realizou em São Paulo o Intel Developers Forum, seu evento mundial mais importante. O foco era basicamente o ultrabook. A Intel botou seu bloco na rua com barulho. Foi anunciado o lançamento de vários modelos no Brasil, incluindo ultrabooks das marcas Samsung, LG, Positivo, HP e Semp Toshiba. Outros fabricantes, como Sony, Acer, Asus e Dell, já têm ultrabooks no mercado nacional.
Para o executivo da Intel, conforme mais modelos são produzidos no País, os preços devem melhorar (leia entrevista abaixo). O valor do ultrabook nas lojas brasileiras ainda é alto. Custam entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil. E o preço, maior do que o de um tablet, é um dos obstáculos para a sua popularização. Um dos primeiros modelos a ficar abaixo dessa faixa foi o Samsung Serie 5 Ultra, que sai por R$ 2.399.
Nos Estados Unidos há ultrabooks que começam em US$ 800 (cerca de R$ 1.600) e há muitos outros que ficam na casa dos R$ 2.000.
A Intel não divulgou números sobre vendas desse tipo de computador aqui no Brasil. Por ser uma novidade, ainda não devem ser expressivos. Mas, se repetida a tendência do mercado dos EUA, isso pode mudar. A Dell comunicou ter vendido quase três vezes mais unidades do seu ultrabook XPS 13 nos EUA do que o esperado.
Os ultrabooks contam com outra vantagem: existe uma larga fatia dos consumidores que não quer ou não se adaptou ao tablet. É o consumidor que quer tocar nas teclas e selecionar as coisas com o mouse (seja de mão ou de dedo). O executivo da Intel lembra outro fator de familiaridade: a presença dos sistemas operacionais Windows 7 em todos os modelos de ultrabooks. Muito terão Windows 8 depois da chegada do novo sistema no segundo semestre.
Uma das grandes reclamações do usuário de Windows (ou de críticos que não são usuários) foi resolvida nos ultrabooks: a demora para iniciar o sistema. É um dos pontos que a Intel ressalta. No geral, ultrabooks não demoram mais que 20 segundos para ligar. O executivo diz que alguns podem chegar a dois ou três segundos. Para efeito de comparação, o Link cronometrou a inicialização do novo iPad: 26 segundos.
Apesar de o termo ser cria da Intel, o MacBook Air é considerado o precursor dos ultrabooks. O computador ultrafino foi lançado pela Apple em 2008 e hoje está na quarta versão. Com a concorrência se agitando, já há notícias de que a Apple prepara o lançamento de uma nova e mais econômica versão do Air.
Com tudo isso, a Intel está realmente fora do jogo dos tablets e smartphones? “Não”, garante Cassio Tietê. “A Intel tem uma iniciativa de tablets cada vez mais forte.” Semana passada, o primeiro smartphone com chip da empresa foi lançado na Índia. É o aparelho Lava Xolo X9000, com o chip Medfield. O CEO da ARM, empresa de arquitetura de software, declarou ao Wall Street Journal que 10% dos smartphones em 2015 deverão vir com chip da Intel.
O MELHOR DE CADA APARELHO
Ultrabooks
Armazenamento | Ultrabooks com 500 GB são comuns. O tablet mais espaçoso tem 64 GB.
Inicialização | Boa parte liga em menos de 10 segundos; o novo iPad demora 26.
Processamento | A velocidade mais comum nos ultrabooks é 1,6 GHz; nos tablets fica no 1 GHz.
Teclado | Muita gente prefere teclas físicas e mouse do que fazer tudo na tela de toque.
Tablets
Resolução | Tablets têm densidade de pixels acima de 140 ppi. Ultrabooks ficam nos 117 ppi em média.
Peso | Tablets são mais leves, entre 500 g e 700 g; ultrabooks, em geral, pesam mais de 1,3 kg.
Leitura | Com telas de até 250 mm, é mais confortável segurar com uma mão; o ultrabook é mais desajeitado.
Preço | O novo iPad (sem conexão 3G/4G) não chega a R$ 2 mil, bem menos que os ultrabooks mais econômicos.
Comentários