Em um caixote de concreto de 13 mil metros quadrados na cidade de Ashburn, no Estado americano da Virginia, a Visa protege o cérebro de seu negócio. Ali, entre muralhas virtuais e fossos reais, a companhia construiu há três anos um verdadeiro castelo para defender um data center capaz de autorizar uma média de 150 milhões de transações com cartões de crédito no mundo por dia - o equivalente a US$ 6 trilhões ao ano - e de processar 10 mil mensagens por segundo.
O prédio foi projetado especialmente para eliminar qualquer risco imaginável à operação desse sistema informático. Trata-se de um deleite para engenheiros civis e de tecnologia de informação, justamente os profissionais responsáveis por sua idealização. "Tudo aqui é redundante", resume Michael Dreyer, o responsável pelo Centro de Operações do Leste (COE, na sigla em inglês), o nome oficial do data center.
O cérebro da Visa está em um salão de 1.858 metros quadrados sem nenhuma indicação de sua função na porta. Ali estão computadores de grande porte e matrizes de armazenamento - todos conectados por quase 5 mil quilômetros de cabos. Ruidoso, o local é impecável. Todos os equipamentos acessórios, como o controle do ar condicionado, estão na sala vizinha. Segundo Freyer, a regra é isolar ao máximo esse centro vital do contato humano e, com isso, evitar acidentes e falhas. Em toda a planta, trabalham apenas de 150 a 200 pessoas.
O comando do data center é visto por visitantes de uma ampla vidraça da sala de reuniões apenas quando as luzes se apagam. O acesso só é possível depois de se cruzar um portal onde é feita a leitura das informações funcionais contidas no crachá do responsável pela visita, bem como de seus dados biométricos e de seu rosto. Os funcionários desse centro vital, em trajes informais, trabalham em turnos de 12 horas seguidas. Para chegar ao cérebro da Visa, outros três portais são transpostos. Um deles, com câmeras capazes de enxergar o que há dentro de bolsas a cerca de quatro metros.
Operações. Toda essa estrutura opera cerca de 78 bilhões de transações ao ano, realizadas por usuários de 1,93 bilhão de cartões de crédito e nas quais estão envolvidas 15,2 mil instituições financeiras.
Uma compra pequena em um shopping de São Paulo passará, em segundos, por ali para ser aprovada. A centralização é um dos principais diferenciais da Visa em relação a seus maiores concorrentes.
Segundo Dreyer, em 1992, as fraudes identificadas pela Visa causavam um custo de 18 pontos básicos para cada operação. Atualmente, é de apenas cinco pontos básicos. Uma rede de inteligência é capaz de prevenir 1,5 bilhão de tentativas de fraudes ao ano. Perguntas sobre as tentativas de invasão do sistema por hackers e sobre espionagem industrial não são bem vindas. Dreyer recusou-se também a responder qual o custo da obra e do data center.
O restante do prédio tem a função de proteger fisicamente o cérebro da Visa, de municiá-lo com o que seja necessário para seu funcionamento e de prepará-lo para novas instalações no futuro. Cerca de metade do prédio está vazio. Do lado de fora, muralhas podem aguentar o impacto de um caminhão de grande porte em alta velocidade. Canais secos rodeiam boa parte do prédio, como fossos em castelos medievais. No interior, as paredes brancas têm 20 centímetros de concreto de espessura e compõem vários corredores de 300 metros de comprimento. Não há placas facilmente visíveis, de forma a confundir qualquer estranho.
Desastres naturais. A construção também está preparada para desastres naturais. O prédio foi construído para aguentar um terremoto de 7 graus na escala Richter, como o que destruiu Porto Príncipe, no Haiti, em janeiro de 2010, e ventanias de 270 quilômetros por hora. O teto está preparado para suportar até 60 centímetros de neve. O exagero, entretanto, aumenta quando se trata do suprimento de água e de energia elétrica.
O prédio tem um estoque de 1,5 milhão de galões de água purificada, para manter a refrigeração dos computadores, e geradores a diesel capazes de gerar eletricidade para uma cidade de 25 mil casas (22 MGW). Mas, além disso, há 10 mil baterias preparadas para, em qualquer momento de necessidade, suprir de energia por nove dias seguidos.
Em momentos de escassez na vizinha Ashburn, a planta da Visa fornece eletricidade. Em um indício de paranoia, toda a correspondência postal cai em um centro onde é possível identificar contaminação. Por exemplo, de Anthrax, uma bactéria mortal que causou pânico nos EUA em 2001.
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