Os três humores
Combinações entre os elementos geram os três princípios da ayurveda: são os "doshas" (tipos), ou humores, através dos quais a inteligência do universo se expressa nas pessoas.
Espaço mais Ar dão o biótipo "Vata", que representa movimento, agilidade. É a instabilidade do vento. Fogo e (pouca) Água dão "Pitta", que representa metabolismo, irritabilidade. É a combustão do fogo. Terra e (muita) Água dão "Kapha", que representa estrutura, estabilidade. É o peso da lama.
Uma piada ayurvêdica ajuda a entender como esses humores nos regem. Se um avião atrasa, o passageiro do tipo Vata reage preocupado, antevê um desastre na sua agenda e dá um jeitinho de se culpar pelo incidente: "Eu devia ter previsto isso. E agora?" O passageiro Pitta, decerto irritadíssimo, ameaça o representante da companhia e cobra uma solução, com o rosto rubro de raiva. O passageiro Kapha, bem zen, aproveita a confusão e faz uma boquinha na lanchonete.
Cada dosha tem comportamento, traços físicos e metabolismo próprios. Não que a ayurveda catalogue toda a fauna humana em três estereótipos. Ao contrário, cada pessoa é tratada como única a grande diferença em relação à medicina ocidental. Um médico indiano não cura nem gripe usando a mesma receita para dois indivíduos.
Todo mundo recebe influências de Vata, Pitta e Kapha, em proporções diferentes. É mais comum a pessoa ter um dosha dominante e outro em proporção elevada. Nesse caso é classificada como Vata-Pitta, Kapha-Vata etc. A leitura da descrição de cada dosha ajuda na identificação mas para um diagnóstico preciso só mesmo numa consulta ao vivo.
Serpente, rã e cisne
Sempre se espera um pouco, num velho sofá coberto por um pano: estamos na clínica-casa do professor-doutor Bokulla Ramachandra Reddy, maior autoridade em ayurveda em nosso continente, o único médico indiano radicado no Brasil. É dono de um monte de títulos, mas não tem jeito de medalhão. Ele mesmo atende o telefone, ele mesmo abre o portão para os pacientes. E chama a todos de "amigo" e "amiga". Na despedida, inclina-se e junta as mãos no peito em clássica saudação de "namastê" (o mesmo que "o Deus que mora em mim saúda o Deus que mora em você").
A mesa do doutor Bokulla pode ser pequena para tanto papel, mas é boa porque deixa mínima distância entre quem senta atrás e à frente dela. Fica protegida pela imagem de Ganesh, o removedor de obstáculos da mitologia hindu. Nas paredes, há fotos do médico abraçado com o amigo Deepak Chopra e com a amiga Márcia De Luca. Num sotaque forte, às vezes duro de entender, ele fala baixo e pouco, mas o que interessa mesmo é que observa, e muito.
O diagnóstico começa com o exame do pulso. Bokulla usa os dedos indicador, médio e anular para perceber as freqüências de Vata, Pitta e Kapha os três diferentes humores da ayurveda.
Com diferentes pressões, mede 15 pulsações, rastreando a situação de órgãos e tecidos e detectando desequilíbrios, antes que virem doença. "O pulso de Vata é rápido e irregular, igual ao deslizar da serpente. O de Pitta é quente e ativo como os pulos de uma rã. A pulsação de Kapha é lenta, estável como um cisne nadando", afirma.
Para o seu olhar treinado, o rosto é outro mapa do estado físico e emocional: "Rugas revelam tudo. Se houver distúrbio, estará indicado na face, o espelho da mente". Da sua visão não escapa, por exemplo, aquela linha vertical entre as sobrancelhas, que do lado direito indica emoções reprimidas no fígado, mas do lado esquerdo aponta problemas no baço.
Depois do diagnóstico, Bokulla monta um tratamento com dietas, massagens, exercícios, meditação e remédios de ervas. Tudo para purificar corpo, mente e espírito.
Combinações entre os elementos geram os três princípios da ayurveda: são os "doshas" (tipos), ou humores, através dos quais a inteligência do universo se expressa nas pessoas.
Espaço mais Ar dão o biótipo "Vata", que representa movimento, agilidade. É a instabilidade do vento. Fogo e (pouca) Água dão "Pitta", que representa metabolismo, irritabilidade. É a combustão do fogo. Terra e (muita) Água dão "Kapha", que representa estrutura, estabilidade. É o peso da lama.
Uma piada ayurvêdica ajuda a entender como esses humores nos regem. Se um avião atrasa, o passageiro do tipo Vata reage preocupado, antevê um desastre na sua agenda e dá um jeitinho de se culpar pelo incidente: "Eu devia ter previsto isso. E agora?" O passageiro Pitta, decerto irritadíssimo, ameaça o representante da companhia e cobra uma solução, com o rosto rubro de raiva. O passageiro Kapha, bem zen, aproveita a confusão e faz uma boquinha na lanchonete.
Cada dosha tem comportamento, traços físicos e metabolismo próprios. Não que a ayurveda catalogue toda a fauna humana em três estereótipos. Ao contrário, cada pessoa é tratada como única a grande diferença em relação à medicina ocidental. Um médico indiano não cura nem gripe usando a mesma receita para dois indivíduos.
Todo mundo recebe influências de Vata, Pitta e Kapha, em proporções diferentes. É mais comum a pessoa ter um dosha dominante e outro em proporção elevada. Nesse caso é classificada como Vata-Pitta, Kapha-Vata etc. A leitura da descrição de cada dosha ajuda na identificação mas para um diagnóstico preciso só mesmo numa consulta ao vivo.
Serpente, rã e cisne
Sempre se espera um pouco, num velho sofá coberto por um pano: estamos na clínica-casa do professor-doutor Bokulla Ramachandra Reddy, maior autoridade em ayurveda em nosso continente, o único médico indiano radicado no Brasil. É dono de um monte de títulos, mas não tem jeito de medalhão. Ele mesmo atende o telefone, ele mesmo abre o portão para os pacientes. E chama a todos de "amigo" e "amiga". Na despedida, inclina-se e junta as mãos no peito em clássica saudação de "namastê" (o mesmo que "o Deus que mora em mim saúda o Deus que mora em você").
A mesa do doutor Bokulla pode ser pequena para tanto papel, mas é boa porque deixa mínima distância entre quem senta atrás e à frente dela. Fica protegida pela imagem de Ganesh, o removedor de obstáculos da mitologia hindu. Nas paredes, há fotos do médico abraçado com o amigo Deepak Chopra e com a amiga Márcia De Luca. Num sotaque forte, às vezes duro de entender, ele fala baixo e pouco, mas o que interessa mesmo é que observa, e muito.
O diagnóstico começa com o exame do pulso. Bokulla usa os dedos indicador, médio e anular para perceber as freqüências de Vata, Pitta e Kapha os três diferentes humores da ayurveda.
Com diferentes pressões, mede 15 pulsações, rastreando a situação de órgãos e tecidos e detectando desequilíbrios, antes que virem doença. "O pulso de Vata é rápido e irregular, igual ao deslizar da serpente. O de Pitta é quente e ativo como os pulos de uma rã. A pulsação de Kapha é lenta, estável como um cisne nadando", afirma.
Para o seu olhar treinado, o rosto é outro mapa do estado físico e emocional: "Rugas revelam tudo. Se houver distúrbio, estará indicado na face, o espelho da mente". Da sua visão não escapa, por exemplo, aquela linha vertical entre as sobrancelhas, que do lado direito indica emoções reprimidas no fígado, mas do lado esquerdo aponta problemas no baço.
Depois do diagnóstico, Bokulla monta um tratamento com dietas, massagens, exercícios, meditação e remédios de ervas. Tudo para purificar corpo, mente e espírito.
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