Num movimento, há também músculos que se contraem apenas para fixar um membro ou o tronco inteiro e, dessa maneira, dar uma base de sustentação ao músculo que de fato se desloca. Por exemplo, ao cerrar o punho, aparentemente só os músculos da mão e dos dedos trabalham; mas, se os músculos do antebraço não ficassem bem contraídos para segurar o pulso, este se dobraria junto com os dedos. Para a contração, um músculo precisa de energia. Essa energia é liberada com a quebra de moléculas da substância adenosina trifosfato (ATP).
O estímulo nervoso possui determinada eletricidade que, em contato com uma substância gelatinosa que banha o músculo, encaminha uma partícula de cálcio para dentro das fibras; o cálcio, então, ativa enzimas próprias do músculo que quebram a ATP. A única questão é haver moléculas de ATP em quantidade suficiente. O fisiologista Turíbio Leite, professor da Escola Paulista de Medicina, ensina que existem três fontes de ATP. A primeira seria uma espécie de estoque particular do músculo. A segunda é a glicólise: reações dentro do músculo transformam a glicose das fibras ou a trazida pelo sangue em ATP e ácido láctico. Esta é uma substância inibidora que, ao se acumular nas fibras, causa tanta dor que a pessoa não agüenta mais contrair o músculo.
"Esse processo", explica o professor Turíbio, "produz grande quantidade de energia, mas por tempo limitado. Por isso, é um metabolismo para atividades que exigem velocidade. "Os atletas atenuam os efeitos do ácido láctico e por isso suportam melhor um acúmulo da substância. Mas quem não é atleta cede à dor e logo pára. Do contrário, corre o risco de sentir uma cãibra, a contração involuntária do músculo cansado, que serve de sinal de alerta. É claro que as cãibras também atacam em plena madrugada, quando se está quieto, dormindo. Mas aí o problema é neurológico uma ordem equivocada para o músculo se contrair a toda velocidade, provocada muitas vezes por estresse psicológico.
Quando o mal é meramente muscular, uma massagem local ajuda de imediato. Ela provoca mecanicamente o relaxamento do músculo contraído e, ao ativar a circulação no lugar, ajuda o sangue a espalhar o ácido láctico. As massagens para aliviar a tensão funcionam da mesma maneira. Pois, quando a mente faz verdadeiras acrobacias por causa de um problema qualquer, a pessoa fica literalmente tensa culpa das ordens do cérebro para contrair certos músculos que, como em toda ginástica, ficam ali gastando energia para manter a tensão e acumulando o ácido láctico.
A última fonte de ATP, o metabolismo aeróbio, é o oxigênio trazido pelo sangue, que produz a substância em reações químicas com a glicose. Nesse caso, a "sobra", gás carbônico e água, é eliminada na expiração. Esse é o metabolismo que mais se usa no dia-a-dia: não produz velocidade, mas tem a vantagem da resistência. Todo músculo possui dois tipos de fibras: as de tipo 1, que desenvolvem mais o metabolismo aeróbico; e as de tipo 2, que realizam melhor o metabolismo da glicólise. Pesquisadores supõem que a prática de determinado esporte pode transformar uma fibra tipo 1 em tipo 2 e vice-versa. Mas isso nunca foi observado na prática. "Nascemos com a proporção de fibras 1 e 2 determinada", diz o fisiologista Turíbio Leite, "o que significa que temos predisposição genética para esportes rápidos ou de resistência."
Qualquer reação para produzir ATP no músculo acaba liberando muito calor. São os músculos, portanto, os responsáveis pelos 36 graus centígrados do corpo humano a temperatura ideal para que o organismo funcione direito. Quando o clima ameaça baixar essa temperatura, o cérebro manda os músculos se agitarem. É quando as pessoas tremem de frio.
Outra responsabilidade dos músculos é a postura corporal. Músculos enfraquecidos fazem a coluna despencar para algum lado. Por exemplo, a lordose (acentuação da curvatura lombar) é conseqüência de músculos abdominais fracos, incapazes de sustentar as vísceras; estas então caem sobre o osso da bacia que, por sua vez, joga todo o seu peso sobre a coluna lombar.
Mesmo quem não tem vocação para atleta olímpico deveria tirar o máximo proveito dos músculos que a natureza lhe deu. Está provado que músculos fortes evitam o tão doloroso endurecimento das articulações e também doenças graves como a osteoporose ou desmineralização dos ossos. Sempre se soube, por exemplo, que os músculos do braço direito de um tenista destro são mais desenvolvidos que os do braço esquerdo. O que se descobriu faz pouco tempo é que também os ossos do braço direito desse tenista são mais largos. Antigamente, acreditava-se que, com o passar dos anos, os músculos deviam ser poupados. Nada mais errado. Todos devem dançar, andar, nadar. Enfim, o segredo de tratar bem os músculos é saber que ninguém pode se dar ao luxo de ficar parado.
O melhor da malhação
Um belo corpo, receita a Organização Mundial de Saúde, consiste em ter boa capacidade cardiorrespiratória, força, flexibilidade e obesidade sob controle. Atrás desse ideal estão as multidões que freqüentam academias de ginástica. Mas não existe nada de novo nesses saltitantes anos 80. No século passado, começou a aparecer a ginástica tal como é conhecida. Do ideal de civilização difundido pelos ingleses no seu vasto império fazia parte a aptidão física.
"A grande novidade é que hoje a Educação Física tem muito mais base científica", observa o professor Mauro Guiselini, da USP. "Existem áreas de estudo novas, como a Fisiologia do Esforço. E, graças à Biomecânica, que mostra quais músculos participam de cada movimento, pode-se tirar melhor proveito dos exercícios." A ciência, portanto, acabou esclarecendo muita coisa. Ela condena o uso de hormônios consumidos por halterofilistas - que ajudam a desenvolver os músculos, mas causam impotência sexual. Por outro lado, derrubou a idéia de que pessoas muito musculosas não têm flexibilidade. Com exercícios de alongamento para músculos e tendões, um fortíssimo culturista pode ter o jogo de cintura de um bailarino.
Outra idéia riscada é a de que quem faz muita ginástica nunca pode parar, senão os músculos "despencam". Não é bem assim. É verdade que os músculos armazenam tudo o que é ruim como toxinas por muito tempo e não guardam o que é bom, ou seja, o condicionamento físico. Para manter-se em forma, a pessoa não deve interromper a ginástica: 30 por cento de tudo o que conquistou em um ano de malhação na academia vai-se embora em apenas três ou quatro semanas de vida sedentária. Mas o pior que pode acontecer - e acontece - é os músculos voltarem a ser o que eram antes da ginástica. "Nunca ficam pior do que isso", consola o professor Guiselini.
Mais do que a musculação, a ginástica aeróbica, que chegou ao Brasil nos primeiros anos 80, é o grande sucesso de público. Não é para menos: está provado que levar o coração à freqüência de 130 batimentos por minuto, durante 20 a 30 minutos, três vezes por semana, é o suficiente para manter a bomba em excelente estado. "A aeróbica", aprova Guiselini, "tem a vantagem de utilizar a música como um elemento fundamental, tirando da ginástica a chatice do ´um, dois, três, quatro´. Além de reforçar o coração, condiciona os outros músculos e desenvolve a coordenação motora. É, portanto, um exercício completo."
O estímulo nervoso possui determinada eletricidade que, em contato com uma substância gelatinosa que banha o músculo, encaminha uma partícula de cálcio para dentro das fibras; o cálcio, então, ativa enzimas próprias do músculo que quebram a ATP. A única questão é haver moléculas de ATP em quantidade suficiente. O fisiologista Turíbio Leite, professor da Escola Paulista de Medicina, ensina que existem três fontes de ATP. A primeira seria uma espécie de estoque particular do músculo. A segunda é a glicólise: reações dentro do músculo transformam a glicose das fibras ou a trazida pelo sangue em ATP e ácido láctico. Esta é uma substância inibidora que, ao se acumular nas fibras, causa tanta dor que a pessoa não agüenta mais contrair o músculo.
"Esse processo", explica o professor Turíbio, "produz grande quantidade de energia, mas por tempo limitado. Por isso, é um metabolismo para atividades que exigem velocidade. "Os atletas atenuam os efeitos do ácido láctico e por isso suportam melhor um acúmulo da substância. Mas quem não é atleta cede à dor e logo pára. Do contrário, corre o risco de sentir uma cãibra, a contração involuntária do músculo cansado, que serve de sinal de alerta. É claro que as cãibras também atacam em plena madrugada, quando se está quieto, dormindo. Mas aí o problema é neurológico uma ordem equivocada para o músculo se contrair a toda velocidade, provocada muitas vezes por estresse psicológico.
Quando o mal é meramente muscular, uma massagem local ajuda de imediato. Ela provoca mecanicamente o relaxamento do músculo contraído e, ao ativar a circulação no lugar, ajuda o sangue a espalhar o ácido láctico. As massagens para aliviar a tensão funcionam da mesma maneira. Pois, quando a mente faz verdadeiras acrobacias por causa de um problema qualquer, a pessoa fica literalmente tensa culpa das ordens do cérebro para contrair certos músculos que, como em toda ginástica, ficam ali gastando energia para manter a tensão e acumulando o ácido láctico.
A última fonte de ATP, o metabolismo aeróbio, é o oxigênio trazido pelo sangue, que produz a substância em reações químicas com a glicose. Nesse caso, a "sobra", gás carbônico e água, é eliminada na expiração. Esse é o metabolismo que mais se usa no dia-a-dia: não produz velocidade, mas tem a vantagem da resistência. Todo músculo possui dois tipos de fibras: as de tipo 1, que desenvolvem mais o metabolismo aeróbico; e as de tipo 2, que realizam melhor o metabolismo da glicólise. Pesquisadores supõem que a prática de determinado esporte pode transformar uma fibra tipo 1 em tipo 2 e vice-versa. Mas isso nunca foi observado na prática. "Nascemos com a proporção de fibras 1 e 2 determinada", diz o fisiologista Turíbio Leite, "o que significa que temos predisposição genética para esportes rápidos ou de resistência."
Qualquer reação para produzir ATP no músculo acaba liberando muito calor. São os músculos, portanto, os responsáveis pelos 36 graus centígrados do corpo humano a temperatura ideal para que o organismo funcione direito. Quando o clima ameaça baixar essa temperatura, o cérebro manda os músculos se agitarem. É quando as pessoas tremem de frio.
Outra responsabilidade dos músculos é a postura corporal. Músculos enfraquecidos fazem a coluna despencar para algum lado. Por exemplo, a lordose (acentuação da curvatura lombar) é conseqüência de músculos abdominais fracos, incapazes de sustentar as vísceras; estas então caem sobre o osso da bacia que, por sua vez, joga todo o seu peso sobre a coluna lombar.
Mesmo quem não tem vocação para atleta olímpico deveria tirar o máximo proveito dos músculos que a natureza lhe deu. Está provado que músculos fortes evitam o tão doloroso endurecimento das articulações e também doenças graves como a osteoporose ou desmineralização dos ossos. Sempre se soube, por exemplo, que os músculos do braço direito de um tenista destro são mais desenvolvidos que os do braço esquerdo. O que se descobriu faz pouco tempo é que também os ossos do braço direito desse tenista são mais largos. Antigamente, acreditava-se que, com o passar dos anos, os músculos deviam ser poupados. Nada mais errado. Todos devem dançar, andar, nadar. Enfim, o segredo de tratar bem os músculos é saber que ninguém pode se dar ao luxo de ficar parado.
O melhor da malhação
Um belo corpo, receita a Organização Mundial de Saúde, consiste em ter boa capacidade cardiorrespiratória, força, flexibilidade e obesidade sob controle. Atrás desse ideal estão as multidões que freqüentam academias de ginástica. Mas não existe nada de novo nesses saltitantes anos 80. No século passado, começou a aparecer a ginástica tal como é conhecida. Do ideal de civilização difundido pelos ingleses no seu vasto império fazia parte a aptidão física.
"A grande novidade é que hoje a Educação Física tem muito mais base científica", observa o professor Mauro Guiselini, da USP. "Existem áreas de estudo novas, como a Fisiologia do Esforço. E, graças à Biomecânica, que mostra quais músculos participam de cada movimento, pode-se tirar melhor proveito dos exercícios." A ciência, portanto, acabou esclarecendo muita coisa. Ela condena o uso de hormônios consumidos por halterofilistas - que ajudam a desenvolver os músculos, mas causam impotência sexual. Por outro lado, derrubou a idéia de que pessoas muito musculosas não têm flexibilidade. Com exercícios de alongamento para músculos e tendões, um fortíssimo culturista pode ter o jogo de cintura de um bailarino.
Outra idéia riscada é a de que quem faz muita ginástica nunca pode parar, senão os músculos "despencam". Não é bem assim. É verdade que os músculos armazenam tudo o que é ruim como toxinas por muito tempo e não guardam o que é bom, ou seja, o condicionamento físico. Para manter-se em forma, a pessoa não deve interromper a ginástica: 30 por cento de tudo o que conquistou em um ano de malhação na academia vai-se embora em apenas três ou quatro semanas de vida sedentária. Mas o pior que pode acontecer - e acontece - é os músculos voltarem a ser o que eram antes da ginástica. "Nunca ficam pior do que isso", consola o professor Guiselini.
Mais do que a musculação, a ginástica aeróbica, que chegou ao Brasil nos primeiros anos 80, é o grande sucesso de público. Não é para menos: está provado que levar o coração à freqüência de 130 batimentos por minuto, durante 20 a 30 minutos, três vezes por semana, é o suficiente para manter a bomba em excelente estado. "A aeróbica", aprova Guiselini, "tem a vantagem de utilizar a música como um elemento fundamental, tirando da ginástica a chatice do ´um, dois, três, quatro´. Além de reforçar o coração, condiciona os outros músculos e desenvolve a coordenação motora. É, portanto, um exercício completo."
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