Por que, em seus filmes, a maior parte das cenas se passa em ambientes fechados, dentro de um único cenário?
Por falta de dinheiro, basicamente. Quer dizer, há outras razões. Mas é aí que está toda a criatividade. A criatividade não está em fazer um filme, mas em fazer o melhor filme possível dentro de um dinheiro que você supõe que vai conseguir. Por exemplo, em Festa, eu sabia que não ia encontrar no mercado mais de 250 mil dólares. Naquela época, em 1988, era uma loucura fazer cinema: não tinha nenhuma lei de incentivo, e a Embrafilme agonizava. É evidente que você pode fazer um filme com 250 mil dólares, um filme porquíssimo. Mas algo tecnicamente razoável, isto é, num nível internacional de cinema, só é possível se você controla a produção muito bem. E o lugar onde se tem o controle total é o estúdio. Fora do estúdio, tudo fica muito complicado, o diretor se defronta com o imponderável. No estúdio, há os imprevistos, mas eles são menores e mais controláveis.
Boleiros também se passa em um único espaço?
Não. Mas também em Boleiros não tem jogo. Só tem uma partida, que a gente teve de encenar, entre duas equipes pequenas, num campo pequeno, com pouca gente vendo - de propósito. A maior parte do filme se passa dentro de um bar - um cenário montado em estúdio, tudo direitinho - onde alguns boleiros estão conversando. Eles desencadeiam o filme, fazem comentários, contam histórias e casos uns para os outros. Quando fomos para a rua, foi terrível. Não temos a cultura da locação. E Boleiros tem 28 locações diferentes, infelizmente. Uma equipe grande causa problemas até geográficos: você não sabe onde colocar uma cadeira, onde vai o gerador. Cinema você aprende... E cada vez que o Brasil pára de fazer cinema, tem de recomeçar do zero ou do que restou dos filmes.
Todas as soluções de um filme estão no roteiro?
Sim. A solução para todos os filmes está no roteiro. É um engano achar que depois vai se achar uma saída para o filme.
De que tipo de cinema, de quais filmes e diretores você gosta?
Eu não sou um cinéfilo. Fui atirado ao cinema por circunstâncias absolutamente estranhas à minha vontade. Quando eu fui trabalhar com publicidade, achei que o departamento de Rádio-TV era interessante. Tinha uma aura que me parecia mais criativa. Quando eu comecei a filmar comerciais de televisão, percebi que por aquele meio talvez eu pudesse me expressar de alguma maneira. Fora isso, eu vi filmes, claro. Vi muitos filmes. Mas nunca li e jamais lerei um livro sobre cinema, é chatíssimo. Há falhas na minha cultura cinematográfica, eu diria, graves, vazios respeitáveis. Pensando bem, talvez eu tenha influência não de cineastas obscuros, mas de cineastas que estão de fora. Agrada-me muito um certo cinema italiano, muito subestimado, mas que colocou a Itália no mapa do cinema - um tipo de comédia popular feita pelo Mario Monicelli, pelo Dino Risi. Agrada-me exatamente porque se inclinou diante do povo. Era um cinema que não tinha respaldo. Antonioni, só para dar um exemplo, também faz parte dessa grande "turma" que precisa de um apoio intelectual permanente. Um filme dele, por exemplo, é de um conto de Julio Cortázar. Visconti tem Thomas Mann, Camus, embora eu concorde que tanto ele quanto Antonioni tenham roteiros originais belíssimos. Monicelli, Risi colocavam a si mesmos e tinham uma idéia importante: a noção de que cinema é entretenimento também. Foi o que fez a Itália se jogar para o mundo, e precedeu a Visconti, a Fellini, a toda essa gente.
Por falta de dinheiro, basicamente. Quer dizer, há outras razões. Mas é aí que está toda a criatividade. A criatividade não está em fazer um filme, mas em fazer o melhor filme possível dentro de um dinheiro que você supõe que vai conseguir. Por exemplo, em Festa, eu sabia que não ia encontrar no mercado mais de 250 mil dólares. Naquela época, em 1988, era uma loucura fazer cinema: não tinha nenhuma lei de incentivo, e a Embrafilme agonizava. É evidente que você pode fazer um filme com 250 mil dólares, um filme porquíssimo. Mas algo tecnicamente razoável, isto é, num nível internacional de cinema, só é possível se você controla a produção muito bem. E o lugar onde se tem o controle total é o estúdio. Fora do estúdio, tudo fica muito complicado, o diretor se defronta com o imponderável. No estúdio, há os imprevistos, mas eles são menores e mais controláveis.
Boleiros também se passa em um único espaço?
Não. Mas também em Boleiros não tem jogo. Só tem uma partida, que a gente teve de encenar, entre duas equipes pequenas, num campo pequeno, com pouca gente vendo - de propósito. A maior parte do filme se passa dentro de um bar - um cenário montado em estúdio, tudo direitinho - onde alguns boleiros estão conversando. Eles desencadeiam o filme, fazem comentários, contam histórias e casos uns para os outros. Quando fomos para a rua, foi terrível. Não temos a cultura da locação. E Boleiros tem 28 locações diferentes, infelizmente. Uma equipe grande causa problemas até geográficos: você não sabe onde colocar uma cadeira, onde vai o gerador. Cinema você aprende... E cada vez que o Brasil pára de fazer cinema, tem de recomeçar do zero ou do que restou dos filmes.
Todas as soluções de um filme estão no roteiro?
Sim. A solução para todos os filmes está no roteiro. É um engano achar que depois vai se achar uma saída para o filme.
De que tipo de cinema, de quais filmes e diretores você gosta?
Eu não sou um cinéfilo. Fui atirado ao cinema por circunstâncias absolutamente estranhas à minha vontade. Quando eu fui trabalhar com publicidade, achei que o departamento de Rádio-TV era interessante. Tinha uma aura que me parecia mais criativa. Quando eu comecei a filmar comerciais de televisão, percebi que por aquele meio talvez eu pudesse me expressar de alguma maneira. Fora isso, eu vi filmes, claro. Vi muitos filmes. Mas nunca li e jamais lerei um livro sobre cinema, é chatíssimo. Há falhas na minha cultura cinematográfica, eu diria, graves, vazios respeitáveis. Pensando bem, talvez eu tenha influência não de cineastas obscuros, mas de cineastas que estão de fora. Agrada-me muito um certo cinema italiano, muito subestimado, mas que colocou a Itália no mapa do cinema - um tipo de comédia popular feita pelo Mario Monicelli, pelo Dino Risi. Agrada-me exatamente porque se inclinou diante do povo. Era um cinema que não tinha respaldo. Antonioni, só para dar um exemplo, também faz parte dessa grande "turma" que precisa de um apoio intelectual permanente. Um filme dele, por exemplo, é de um conto de Julio Cortázar. Visconti tem Thomas Mann, Camus, embora eu concorde que tanto ele quanto Antonioni tenham roteiros originais belíssimos. Monicelli, Risi colocavam a si mesmos e tinham uma idéia importante: a noção de que cinema é entretenimento também. Foi o que fez a Itália se jogar para o mundo, e precedeu a Visconti, a Fellini, a toda essa gente.
Comentários