Os quase 650 músculos do corpo humano jamais param de trabalhar. Tudo o que fazemos são eles que fazem. E a ciência ensina como usá-los melhor.
Viver é mesmo uma ginástica. O coração se contorce para bombear o sangue que, por sua vez, corre o corpo inteiro. A respiração estica e encolhe os pulmões. O aparelho digestivo se dobra e desdobra com o alimento.Tudo na vida animal é movimento - músculos que se contraem, músculos que se estendem. Graças a cerca de 650 músculos o homem pode, além de viver, ficar em pé andar, dançar, falar, piscar os olhos, cair na gargalhada, prorromper em lágrimas, expressar no rosto suas emoções, escrever e ler este texto. Portanto, o desempenho da musculatura é muito mais forte que mera força bruta. Ao ver o movimento dos músculos do corpo, os antigos talvez tivessem a impressão de que existiam ratinhos caminhando sob a pele. Pois em latim musculus é o diminutivo de mus, ou camundongo. Na verdade, o músculo é um feixe com milhões de fibras capazes de se contrair. São 78 por cento água, 20 por cento proteína, 1 por cento carboidrato e, ainda, em quantidades mínimas, sais minerais e gordura.
As fibras podem ser milimétricas, como as dos músculos dos dedos, ou ter até 10 centímetros de comprimento, como as dos músculos da coxa; mas são sempre finíssimas, com um diâmetro nunca maior do que 1 décimo de milímetro.
As fibras musculares surgiram com os primeiros seres vivos que tinham de se deslocar em busca de água ou comida ou ainda para se reproduzir portanto, animais pluricelulares, que apareceram na Terra há 570 milhões de anos. É a contração de músculos especiais que faz as lulas e águas-vivas expulsar os jatos de água que as impulsionam. Já com o aparecimento dos vertebrados, a musculatura passou também a cumprir uma tarefa essencial sustentar o esqueleto.
A forma e o tamanho de um músculo variam conforme a sua função. A musculatura humana, que representa 40 por cento do peso do corpo, foi herdada dos outros mamíferos e precisou sofrer adaptações para manter o tronco em pé - essa tão envaidecedora peculiaridade humana. As mãos, livres do solo, tiveram de modificar os músculos típicos dos quadrúpedes, a fim de poder fazer movimentos complexos e elaborados.
No fundo, todo músculo faz o mesmíssimo movimento, que é contrair-se. Alguns músculos, porém, não obedecem à vontade de seus donos conscientes. São os músculos chamados lisos ou involuntários, que funcionam sob as ordens do sistema nervoso autônomo do organismo. São certos bizarros músculos involuntários, por exemplo, que deixam uma pessoa arrepiada de frio. Com apenas 1 milímetro de comprimento, ficam junto da raiz dos pêlos, que se eriçam quando ocorre a contração. Com os pêlos arrepiados como os de um gato em noite fria, o homem estaria mais protegido do clima. Essa função não faz mais sentido, pois no processo de evolução o homem deixou de ser um bicho peludo.
Mas quase todos os músculos involuntários são fundamentais, como os ciliares do olho. O olho humano pode ser comparado a uma máquina fotográfica que precisa focalizar um objeto de acordo com a distância em que se encontra dele. O dispositivo que usa para isso é uma estreita faixa de fibras musculares atrás da íris - o disco colorido do olho. Ao se contrair, aumenta a curvatura do cristalino, uma espécie de lente natural. A curvatura acentuada é necessária para se enxergar de perto. Por isso, certas atividades, como a leitura prolongada, podem "cansar" a vista, ou seja, cansar esses músculos que ficam contraídos por muito tempo. Eis também por que focalizar um ponto distante é um colírio para os olhos: a curvatura precisa diminuir e os músculos se estendem.
Apesar de toda a sua importância, os músculos involuntários são minoria. No corpo humano, predominam os quase 500 músculos voluntários que atendem aos comandos do sistema nervoso central. Como possuem estrias microscópicas, também são chamados estriados. Existe ainda um terceiro nome para eles: esqueléticos, porque terminam em forma de tendões, que são como cordas de fibras mais fortes, agarradas a ossos. O músculo cardíaco, o mais importante de todos, é considerado um tipo à parte porque, embora seja estriado, se contrai graças a um sistema nervoso próprio.
Qualquer que seja o músculo, suas fibras já estão formadas a partir da sexta semana de vida intra-uterina. A partir de então, cada fibra pode crescer isoladamente. Mas o número de fibras será sempre igual. Um atleta musculoso de 20 anos possui a mesma quantidade de fibras que tinha ao nascer. O que elas fizeram ao longo da vida e à custa de muito exercício foi desenvolver-se. Mesmo entre pessoas diferentes não há grandes diferenças: nos músculos de Maguila e nos equivalentes de Lucélia Santos, o número de fibras é praticamente igual pode até ser que, em dado músculo, a suave Lucélia tenha mais fibra que o temível Maguila.
Músculos parecem gostar de trabalho, pois ficam mais ágeis e fortes à medida que são usados. Até quando se está dormindo, os músculos se mantêm num estado de pequena contração, mais conhecida como tônus muscular. Em pacientes de paralisia infantil, por exemplo, o músculo nem sequer sustenta essa ligeira contração danificado, o nervo não consegue transmitir-lhe a ordem. Sem o exercício constante do tônus, o músculo acaba por se atrofiar.
Cada fibra muscular segue a lei do tudo-ou-nada: ou se contrai ao máximo ou se ignora o estímulo nervoso. Apesar disso, ninguém se movimenta aos trancos como uma caricatura de robô. Isso porque, em primeiro lugar, as fibras de um mesmo músculo se excitam em graus diferentes: algumas, mais sensíveis, iniciam a contração 4 milésimos de segundo após um estímulo; outras fibras respondem num período muito maior, caso o cérebro insista na ordem. Outro fator importante é o número de células nervosas motoras que o cérebro escalou para levar a ordem ao músculo, assim como o número de fibras que cada uma dessas células nervosas, por sua vez, controla.
As mínimas gradações de movimento dos dedos de um músico instrumentista, por exemplo, apenas são possíveis porque seus nervos motores controlam um número limitado de fibras. É claro que em situações muito especiais o cérebro pode perder temporariamente esse incessante controle sobre os movimentos. Quando a mão toca uma superfície quente, nervos sensitivos da pele e dos próprios músculos dão o alarme; diante disso, antes mesmo de verificar o que aconteceu a mão encostou numa panela e se queimou -, o cérebro ordena uma contração súbita de todas as fibras daquela parte do corpo. O resultado será um movimento espasmódico.
Um músculo não precisa de duas ordens: basta que lhe mandem contrair-se. A extensão ocorre naturalmente quando cessa a ordem de contração. Assim, o popular bíceps músculo da frente do braço se contrai e diminui a distância entre os ossos, usando as articulações do cotovelo: essa é uma ação concêntrica, que qualquer pessoa executa no mero gesto de levar uma xícara aos lábios. Já para segurá-la na altura da boca é preciso uma ação isométrica, ou seja, capaz de manter a contração sem causar movimento. O cérebro consegue essa proeza bombardeando o músculo com cerca de 45 estímulos por segundo uma ordem que deve se fundir com outra, sem dar tempo para o músculo se estender. Finalmente, a ação excêntrica é quando se abaixa a xícara. Mais uma vez o cérebro controla o movimento interrompendo gradualmente os estímulos às fibras.
Na realidade, um movimento qualquer nunca é obra de um único músculo. No exemplo de dobrar o braço, ao mesmo tempo em que o bíceps se contrai, um músculo oposto o tríceps se estende. E, quando o braço abaixa, é o tríceps que se contrai, puxando o antebraço para fora e obrigando o bíceps a se estender. O músculo contraído de qualquer movimento chama-se agonista; o estendido é antagonista. Todo músculo dança conforme a música, ou seja, pode ser tanto agonista como antagonista - depende do movimento.
Viver é mesmo uma ginástica. O coração se contorce para bombear o sangue que, por sua vez, corre o corpo inteiro. A respiração estica e encolhe os pulmões. O aparelho digestivo se dobra e desdobra com o alimento.Tudo na vida animal é movimento - músculos que se contraem, músculos que se estendem. Graças a cerca de 650 músculos o homem pode, além de viver, ficar em pé andar, dançar, falar, piscar os olhos, cair na gargalhada, prorromper em lágrimas, expressar no rosto suas emoções, escrever e ler este texto. Portanto, o desempenho da musculatura é muito mais forte que mera força bruta. Ao ver o movimento dos músculos do corpo, os antigos talvez tivessem a impressão de que existiam ratinhos caminhando sob a pele. Pois em latim musculus é o diminutivo de mus, ou camundongo. Na verdade, o músculo é um feixe com milhões de fibras capazes de se contrair. São 78 por cento água, 20 por cento proteína, 1 por cento carboidrato e, ainda, em quantidades mínimas, sais minerais e gordura.
As fibras podem ser milimétricas, como as dos músculos dos dedos, ou ter até 10 centímetros de comprimento, como as dos músculos da coxa; mas são sempre finíssimas, com um diâmetro nunca maior do que 1 décimo de milímetro.
As fibras musculares surgiram com os primeiros seres vivos que tinham de se deslocar em busca de água ou comida ou ainda para se reproduzir portanto, animais pluricelulares, que apareceram na Terra há 570 milhões de anos. É a contração de músculos especiais que faz as lulas e águas-vivas expulsar os jatos de água que as impulsionam. Já com o aparecimento dos vertebrados, a musculatura passou também a cumprir uma tarefa essencial sustentar o esqueleto.
A forma e o tamanho de um músculo variam conforme a sua função. A musculatura humana, que representa 40 por cento do peso do corpo, foi herdada dos outros mamíferos e precisou sofrer adaptações para manter o tronco em pé - essa tão envaidecedora peculiaridade humana. As mãos, livres do solo, tiveram de modificar os músculos típicos dos quadrúpedes, a fim de poder fazer movimentos complexos e elaborados.
No fundo, todo músculo faz o mesmíssimo movimento, que é contrair-se. Alguns músculos, porém, não obedecem à vontade de seus donos conscientes. São os músculos chamados lisos ou involuntários, que funcionam sob as ordens do sistema nervoso autônomo do organismo. São certos bizarros músculos involuntários, por exemplo, que deixam uma pessoa arrepiada de frio. Com apenas 1 milímetro de comprimento, ficam junto da raiz dos pêlos, que se eriçam quando ocorre a contração. Com os pêlos arrepiados como os de um gato em noite fria, o homem estaria mais protegido do clima. Essa função não faz mais sentido, pois no processo de evolução o homem deixou de ser um bicho peludo.
Mas quase todos os músculos involuntários são fundamentais, como os ciliares do olho. O olho humano pode ser comparado a uma máquina fotográfica que precisa focalizar um objeto de acordo com a distância em que se encontra dele. O dispositivo que usa para isso é uma estreita faixa de fibras musculares atrás da íris - o disco colorido do olho. Ao se contrair, aumenta a curvatura do cristalino, uma espécie de lente natural. A curvatura acentuada é necessária para se enxergar de perto. Por isso, certas atividades, como a leitura prolongada, podem "cansar" a vista, ou seja, cansar esses músculos que ficam contraídos por muito tempo. Eis também por que focalizar um ponto distante é um colírio para os olhos: a curvatura precisa diminuir e os músculos se estendem.
Apesar de toda a sua importância, os músculos involuntários são minoria. No corpo humano, predominam os quase 500 músculos voluntários que atendem aos comandos do sistema nervoso central. Como possuem estrias microscópicas, também são chamados estriados. Existe ainda um terceiro nome para eles: esqueléticos, porque terminam em forma de tendões, que são como cordas de fibras mais fortes, agarradas a ossos. O músculo cardíaco, o mais importante de todos, é considerado um tipo à parte porque, embora seja estriado, se contrai graças a um sistema nervoso próprio.
Qualquer que seja o músculo, suas fibras já estão formadas a partir da sexta semana de vida intra-uterina. A partir de então, cada fibra pode crescer isoladamente. Mas o número de fibras será sempre igual. Um atleta musculoso de 20 anos possui a mesma quantidade de fibras que tinha ao nascer. O que elas fizeram ao longo da vida e à custa de muito exercício foi desenvolver-se. Mesmo entre pessoas diferentes não há grandes diferenças: nos músculos de Maguila e nos equivalentes de Lucélia Santos, o número de fibras é praticamente igual pode até ser que, em dado músculo, a suave Lucélia tenha mais fibra que o temível Maguila.
Músculos parecem gostar de trabalho, pois ficam mais ágeis e fortes à medida que são usados. Até quando se está dormindo, os músculos se mantêm num estado de pequena contração, mais conhecida como tônus muscular. Em pacientes de paralisia infantil, por exemplo, o músculo nem sequer sustenta essa ligeira contração danificado, o nervo não consegue transmitir-lhe a ordem. Sem o exercício constante do tônus, o músculo acaba por se atrofiar.
Cada fibra muscular segue a lei do tudo-ou-nada: ou se contrai ao máximo ou se ignora o estímulo nervoso. Apesar disso, ninguém se movimenta aos trancos como uma caricatura de robô. Isso porque, em primeiro lugar, as fibras de um mesmo músculo se excitam em graus diferentes: algumas, mais sensíveis, iniciam a contração 4 milésimos de segundo após um estímulo; outras fibras respondem num período muito maior, caso o cérebro insista na ordem. Outro fator importante é o número de células nervosas motoras que o cérebro escalou para levar a ordem ao músculo, assim como o número de fibras que cada uma dessas células nervosas, por sua vez, controla.
As mínimas gradações de movimento dos dedos de um músico instrumentista, por exemplo, apenas são possíveis porque seus nervos motores controlam um número limitado de fibras. É claro que em situações muito especiais o cérebro pode perder temporariamente esse incessante controle sobre os movimentos. Quando a mão toca uma superfície quente, nervos sensitivos da pele e dos próprios músculos dão o alarme; diante disso, antes mesmo de verificar o que aconteceu a mão encostou numa panela e se queimou -, o cérebro ordena uma contração súbita de todas as fibras daquela parte do corpo. O resultado será um movimento espasmódico.
Um músculo não precisa de duas ordens: basta que lhe mandem contrair-se. A extensão ocorre naturalmente quando cessa a ordem de contração. Assim, o popular bíceps músculo da frente do braço se contrai e diminui a distância entre os ossos, usando as articulações do cotovelo: essa é uma ação concêntrica, que qualquer pessoa executa no mero gesto de levar uma xícara aos lábios. Já para segurá-la na altura da boca é preciso uma ação isométrica, ou seja, capaz de manter a contração sem causar movimento. O cérebro consegue essa proeza bombardeando o músculo com cerca de 45 estímulos por segundo uma ordem que deve se fundir com outra, sem dar tempo para o músculo se estender. Finalmente, a ação excêntrica é quando se abaixa a xícara. Mais uma vez o cérebro controla o movimento interrompendo gradualmente os estímulos às fibras.
Na realidade, um movimento qualquer nunca é obra de um único músculo. No exemplo de dobrar o braço, ao mesmo tempo em que o bíceps se contrai, um músculo oposto o tríceps se estende. E, quando o braço abaixa, é o tríceps que se contrai, puxando o antebraço para fora e obrigando o bíceps a se estender. O músculo contraído de qualquer movimento chama-se agonista; o estendido é antagonista. Todo músculo dança conforme a música, ou seja, pode ser tanto agonista como antagonista - depende do movimento.
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