De acordo com o código de ética do Conselho Internacional de Enfermagem, os serviços de enfermagem jamais podem ser recusados por motivos de cor, raça, nacionalidade ou situação política ou social. O principal objetivo e a própria razão de existência da enfermagem é servir à humanidade.
Arte e técnica de cuidar dos doentes, a enfermagem se exerce normalmente em coordenação com outros serviços de saúde, ou como complemento deles. A palavra designa também os serviços de enfermaria, o tratamento dos doentes e o conjunto de enfermeiros de um hospital ou clínica. O profissional de enfermagem tem entre suas atribuições cuidar do doente, realizar curativos, ministrar medicamentos e acompanhar os sinais de recuperação, além de tentar manter um ambiente físico e psicológico favorável à recuperação da saúde. A enfermagem tem também entre seus objetivos ensinar e divulgar medidas profiláticas, pelo ensino de práticas sanitárias e pelo exemplo pessoal. Enfermeiros e enfermeiras trabalham para clientes particulares ou em hospitais, clínicas, postos de saúde e prontos-socorros.
As irmãs de caridade da ordem de São Vicente de Paula realizaram em Paris, em 1633, uma das primeiras experiências em enfermaria sistematizada. Outras ordens religiosas passaram a dedicar-se ao cuidado dos doentes e o número de estabelecimentos assistenciais a cargo de freiras se multiplicou no mundo todo.
Praticada principalmente por religiosas na Europa e na América, a enfermagem só se firmou como profissão no final do século XIX, com Florence Nightingale. Graças a sua atuação nos hospitais militares ingleses da Criméia e de Scutari, recebeu apoio da população para constituir o fundo Nightingale, com o qual pôde organizar a primeira escola de enfermagem. Cerca de 25 anos mais tarde, praticamente todo o serviço de enfermagem dos hospitais ingleses era realizado por profissionais treinados. A inovação logo se estendeu a todo o mundo e a enfermagem tornou-se profissão de nível superior, com ensino ministrado em cooperação com hospitais, centros de saúde e faculdades de medicina. Tradicionalmente, a enfermagem é uma profissão majoritariamente feminina.
Organização
Os serviços de enfermagem são prestados por um departamento específico que se insere na organização geral da unidade hospitalar. O departamento se organiza segundo uma hierarquia, em que o mais alto cargo é o de diretor do serviço de enfermagem. Seus assistentes imediatos são responsáveis por cada um dos turnos: manhã, tarde e noite. Abaixo deles estão as enfermeiras supervisoras, responsáveis pela organização do serviço de enfermagem de unidades clínicas ou cirúrgicas e diretamente incumbidas da distribuição do serviço, requisição e manutenção de material, cuidado dos equipamentos e supervisão do atendimento aos pacientes. Nos hospitais em que haja escola de enfermagem, as supervisoras são também encarregadas de colaborar com o ensino. Cabe-lhes, ainda, a supervisão direta das enfermeiras-chefes.
As enfermeiras-chefes são responsáveis por unidades ou enfermarias. Ocupam-se do estoque de material, medicamentos e equipamentos de sua unidade e controlam o trabalho das enfermeiras encarregadas do cuidado direto dos pacientes, estas situadas no escalão imediatamente inferior. Finalmente vêm as atendentes, responsáveis pela limpeza.
Trabalho de equipe
A relação entre o número de enfermeiros e pacientes varia de acordo com o hospital e, principalmente, com o tipo de rotina. Um serviço clínico pode funcionar a contento com uma enfermeira para diversos doentes, ao passo que os serviços de pronto-socorro e cirurgia demandam uma enfermeira para cada dois pacientes.
Para que o corpo médico e a enfermagem trabalhem com eficiência e em harmonia, é indispensável o estrito cumprimento de certas regras de responsabilidade e comportamento. O corpo médico não está diretamente ligado à organização do serviço de enfermagem, mas dá instruções às enfermeiras encarregadas dos cuidados dos pacientes. Para evitar que essas instruções entrem em conflito com o regulamento do hospital, o corpo médico deve ter conhecimento das regras vigentes e evitar transgredi-las.
Requisitos
A atitude profissional da enfermeira em relação ao paciente é de extrema importância para a cura e convalescença deste. Ela deve estar consciente de que lida com pessoas acometidas de problemas físicos ou psicológicos, em situação que certamente acarreta dificuldades a seu trabalho diário. A benevolência deve ser uma das qualidades mais cultivadas pela enfermeira, sem prejuízo da firmeza, quando necessária. Nas relações com os parentes do doente que podem causar mais problemas que os próprios pacientes sua conduta deve ser cortês, mas firme, para que o regulamento hospitalar seja cumprido.
Tratamento
O tratamento médico só deve ser ministrado por ordem escrita do médico responsável, no momento exato e com precisão. Quando a enfermeira observar qualquer sinal ou comportamento anômalo, deve dirigir-se imediatamente ao médico plantonista. À enfermeira cabe controlar a alimentação e os tratamentos dietéticos e fazer com que sejam obedecidos. É importante a observação do paciente e a anotação de suas reações a medicamentos, dietas e tratamentos. Dessa maneira, a enfermagem colabora com o médico no estabelecimento do tratamento adequado.
Ensino
Em sentido amplo, o ensino da enfermagem abrange desde o treinamento, no hospital, de atendentes e enfermeiras, para que possam desempenhar suas funções a contento, até à formação de profissionais de nível universitário, preparadas para exercer funções de chefia e supervisão nos hospitais. Na seleção dos candidatos à escola de enfermagem é importante observar características de temperamento, caráter e moral. As escolas costumam aplicar testes vocacionais especialmente preparados para a seleção de candidatos.
Enfermagem no Brasil. Os padres e irmãos da Companhia de Jesus desempenharam as primeiras atividades de enfermagem no Brasil. As santas casas, fundadas em Portugal, serviriam de modelo aos hospitais bastante modestos do período colonial. Em Olinda, estabeleceu-se em 1540 a primeira Santa Casa de Misericórdia. No Rio de Janeiro, por iniciativa do padre Anchieta, muitos doentes foram recolhidos em local improvisado, do qual originou-se a Santa Casa daquela cidade. Anchieta atuava como enfermeiro, médico e cirurgião. A ação dos jesuítas prosseguiu nos anos subseqüentes. No século XVIII, frei Fabiano de Cristo foi enfermeiro durante quarenta anos no convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro. Para cuidar dos enfermos, os padres contavam com o auxílio de fiéis, voluntários e escravos, aos quais ensinavam como desempenhar a missão. Mais tarde, chegaram ao Brasil as irmãs de caridade, que se instalaram, em 1852, na Santa Casa do Rio de Janeiro e em instituições a ela ligadas. A primeira voluntária de enfermagem no Brasil foi Francisca de Sande, que se dedicou a esse mister, na Bahia, no fim do século XVII. Em 1830 tiveram início, na Escola de Medicina da Bahia, cursos para parteira.
A maior figura da enfermagem no Brasil, Ana Néri, surgiu no século XIX. Já contava 51 anos de idade quando solicitou ao presidente da província da Bahia permissão para acompanhar seus filhos e parentes à guerra do Paraguai. Nos campos de batalha, assistiu os feridos com tal dedicação que passou a ser chamada "mãe dos brasileiros". Terminado o conflito, recebeu diversas honrarias. Seu nome foi dado à primeira escola de enfermagem do Brasil, fundada em 1923.
Em 1890, com a fundação da Escola Alfredo Pinto, procurou-se melhorar a situação inferior em que se encontrava o exercício da enfermagem, especialmente em psiquiatria. No século XX, a profissão se firmou com a fundação da Cruz Vermelha, nos moldes da instituição suíça, cujo primeiro presidente foi Osvaldo Cruz. Depois da campanha sanitária empreendida por ele, seu discípulo Carlos Chagas começou a cogitar da enfermagem voltada para a saúde pública. Quando dirigia o Departamento Nacional de Saúde Pública, Chagas fundou o serviço regular de enfermeiras visitadoras, tipo de enfermagem que funcionou precariamente até 1921, quando passou a funcionar o primeiro curso oficial, ministrado por um grupo de enfermeiras americanas. Pouco depois, sob a mesma orientação, fundou-se a Escola Ana Néri, que em 1938 foi declarada escola-padrão e, em 1945, incorporou-se à Universidade do Brasil, depois Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fundaram-se depois outras escolas, em várias cidades do Brasil, quase sempre nas capitais. Em 1926 foi fundada a Associação Brasileira de Enfermagem, no Rio de Janeiro, que desde então exerceu grande influência como associação de classe, tanto na legislação sobre o ensino e o exercício da profissão, como na divulgação de suas atividades pela Revista Brasileira de Enfermagem.
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