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As ‘lições’ de Dilma que Lula não aprendeu

 Se a turma de centro-esquerda, centro e centro-direita que “fez o L” nas eleições acreditava que, desta vez, seria diferente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se incumbiu de mostrar que não será.

Prestes a completar 11 meses no governo, Lula já deu todos os sinais possíveis e imagináveis, para quem ainda tinha alguma dúvida, de que não aprendeu as “lições” deixadas pela ex-presidente Dilma Rousseff na economia. Não as lições de seus eventuais acertos, se é que eles existiram, mas de seus erros, que jogaram o País na maior recessão da história, com uma queda acumulada de 7% no PIB (Produto Interno Bruto), em 2015 e 2016.

Em vez de deixar para trás o receituário malsucedido de Dilma, que levou às chamadas “pedaladas fiscais” e ao seu impeachment, Lula está resgatando muitas das propostas e soluções implementadas por sua pupila. Fazem parte da lista o intervencionismo estatal, o excesso de gastos sem lastro, a pressão pela redução dos juros, a “proteção” da indústria nacional e a distribuição de benesses generalizadas com recursos dos pagadores de impostos.

Embora muitos dos que decidiram votar em Lula em 2022 “pela democracia” se mostrem surpresos com os rumos de seu governo, inclusive alguns economistas considerados mais “liberais” na economia, que agora recheiam o noticiário com seu chororô, já era até certo ponto previsível que isso iria acontecer.

Afinal, foi o próprio Lula quem primeiro seguiu por essa trilha, no auge da crise global de 2008, provocada pela debacle no mercado americano de hipotecas, numa tentativa de atenuar a força do “tsunami” que abalou a economia mundial e de transformá-lo numa “marolinha” sem grandes consequências no País.

O sucesso do “pacote” anticrise – centrado no aumento dos gastos públicos e dos investimentos estatais – foi tão grande na época, ao permitir que o Brasil passasse praticamente ao largo das turbulências, que o que era para ser algo temporário, acabou ganhando um caráter de política permanente. Dilma a levou às últimas consequências e o PT a incorporou ao seu programa como um contraponto ao “neoliberalismo” e à “austeridade fiscal” que o partido sempre criticou. Não seria Lula, portanto, que iria mudar o rumo das coisas agora, em seu terceiro mandato.

O problema, como mostrou a “herança maldita” deixada por Dilma, é que o uso de “anabolizantes” para alavancar a economia tem um limite e provoca uma série de efeitos colaterais. No curto prazo, ele pode até funcionar, gerando mais um “voo de galinha” e dando a ilusão de que o País está decolando para valer. Mas uma hora, mais cedo ou mais tarde, a conta acaba chegando, deixando um rastro de destruição pelo caminho, que costuma prejudicar principalmente os mais vulneráveis.

A matemática é implacável. Ainda não inventaram uma fórmula para gastar muito além do que o orçamento permite, ampliando em progressão geométrica o nível de endividamento e as despesas com o pagamento de juros, que apresente, no fim da linha, um saldo positivo. Em geral, o que acaba acontecendo é exatamente o contrário do que se pretendia alcançar a princípio com a gastança ilimitada.

Além de aumentar a dívida pública, os gastos sem lastro do governo acabam por produzir um coquetel indigesto, que inclui o aumento da inflação, a alta dos juros, a retração da economia, a elevação das incertezas dos agentes econômicos e o adiamento de novos projetos e investimentos por parte da iniciativa privada. Com isso, o desemprego, em vez de diminuir, aumenta, e a renda, em vez de crescer, encolhe. Neste cenário hostil, a arrecadação tributária também acaba por perder fôlego, agravando o rombo fiscal e tornando ainda mais difícil a reversão do problema depois.

Ao mesmo tempo, com o aumento da intervenção do governo na economia e o uso das estatais para estimular o crescimento e acomodar interesses políticos e empresariais, os riscos de malfeitos se multiplicam, como mostrou o petrolão, o esquema de corrupção em escala industrial que prosperou na Petrobras durante os governos petistas.

Ainda que as investigações e condenações dos envolvidos pela Lava Jato tenham sido anuladas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por problemas processuais, o certo é que a descoberta das falcatruas já permitiu à Petrobras recuperar pelo menos R$ 6,2 bilhões desviados de seu caixa, em decorrência de acordos de colaboração, leniência, repatriações e renúncias, segundo informações divulgadas pela própria empresa.

Apesar de tudo isso, Lula se recusa a aceitar as evidências e insiste em ressuscitar velhas ideias, com o apoio do PT e de seus aliados. E, agora, diante de sua perda de popularidade nos últimos meses e dos efeitos perversos provocados na economia pelas guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e pela desaceleração da China, tudo indica que ele deverá “dobrar a aposta” para tentar, mais uma vez, dar um gás na economia com o uso indiscriminado dos “anabolizantes” estatais. Ainda que, para amenizar o impacto nas contas públicas, tenha de abocanhar cada centavo dos contribuintes, com a adoção de uma série de medidas arrecadatórias propostas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O próprio Lula já deu a letra da trajetória deve trilhar, ao dizer que “dificilmente” o País deverá cumprir a meta de zerar o déficit fiscal em 2024, que não pretende cortar despesas e que “dinheiro bom é dinheiro transformado em obras”. “Nós temos de ser criativos. Temos que aceitar os desafios aqui. Eu, na minha vida, não aceito a ideia de que tem coisas que são impossíveis”, afirmou recentemente, reforçando sua profissão de fé na receita adotada pelos governos petistas desde o seu segundo mandato. “Na minha experiência de vida, a única coisa impossível é Deus pecar. O resto, a gente pode fazer qualquer coisa, é só querer.”

Desde já, ante as perspectivas que se apresentam e o aumento das incertezas na praça, os danos já começam a aparecer. Mesmo com a inflação sob aparente controle no momento, a expectativa dos analistas é de que o Banco Central diminua de forma preventiva o ritmo de corte dos juros. Espera-se também que o piso da taxa básica (Selic), antes estimado em cerca de 9% ao ano no fim do atual ciclo de afrouxamento monetário, fique em pelo menos 10%. Se tal previsão se confirmar, isso vai representar um gasto adicional R$ 100 bilhões ao ano para a rolagem da dívida pública, consumindo recursos preciosos do Tesouro, que poderiam ser direcionados para a área social.

Se Lula tivesse aprendido as lições de Dilma, certamente estaria indo por outro caminho. Eventualmente, no início, ele seria um pouco mais acidentado, mas mais à frente o País colheria os frutos, com a geração de um ciclo de desenvolvimento sustentável, que o tirasse do limbo em que se encontra há décadas. Lula, porém, não parece muito preocupado com os resultados de longo prazo de suas políticas e age como se tivesse descoberto a fórmula de sucesso das nações, que permite a realização ilimitada de gastos sem que isso tenha qualquer consequência no futuro.

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