Lulistas ignoram embate entre presidente e Haddad e veem meta fiscal como ameaça a programas sociais
Para o cidadão comum, que navega e interage nas redes sociais, os assuntos ligados à economia costumam ser bastante áridos. Mas, mesmo diante de temas mais técnicos, as pessoas não se furtam em dar opinião e, para entrar no debate, recorrem à simplificação.
O caso da meta fiscal é um exemplo claro das dinâmicas simplificadoras das redes. Após o presidente da República contrapor o ministro da Fazenda, ao afirmar que dificilmente o país atingirá o déficit fiscal zero este ano, a imprensa passou a explorar as contradições dentro da própria equipe do governo e a tentar explicar a lógica que levou Lula a fazer tal declaração, se antagonizando a Fernando Haddad.
Mas esse universo explorado pela mídia é diferente do metaverso digital. No ambiente online, apoiadores do governo não veem desarmonia entre as ideias de Lula e Haddad. Nos posts que mencionam o presidente e o ministro da Fazenda, a confiança é a emoção mais presente, atingindo 20,2% das publicações. O medo, alardeado pela direita, vem em segundo, marcando 10,1%, e a alegria está em terceiro, com 7,9%.
Os números deixam claro que há um entusiasmo que movimenta as análises dos que veem o governo por lentes bastante otimistas. Para essas pessoas, a meta fiscal é apenas um detalhe. A narrativa que circula entre eles é que o governo Lula se elegeu para ajudar o povo brasileiro e não para colocar a meta fiscal acima dos programas sociais. Muitos enxergam a austeridade fiscal mais rígida como um entrave para o combate à fome e à desigualdade.
É um público que vê os dados positivos da economia como resultados justamente do trabalho da dupla Lula-Haddad, que estaria resultando na queda dos preços dos alimentos e na geração de emprego. Números negativos são ignorados nessa grande bolha, onde a mídia, ao buscar entender a visão do governo sobre a questão fiscal, é acusada de tentar criar um clima de insegurança econômica.
Por outro lado, há a oposição política, que critica fortemente a condução da economia do país e diz que Lula jogou fora a ideia de equilíbrio fiscal, em nome do populismo. Para esse público, Fernando Haddad não possui méritos para ocupar a Fazenda e supostos desacordos do ministro com o presidente são amplamente comemorados.
É uma bolha que prega o caos e que saúda o ex-ministro Paulo Guedes como um grande artífice do crescimento do Brasil, mas que também peca pelo não aprofundamento do debate. Até porque as vozes econômicas dessa direita que se ergueu a partir de 2018 são tímidas e pouco propositivas, se movimentando mais a reboque de deslizes do governo do que pela apresentação de alternativas.
Em meio à dicotomia de visões sobre a meta fiscal e à superficialidade dos debates, que, inclusive, parece avançar também sobre o Congresso, é essencial reconhecer a importância da busca por um equilíbrio que promova o crescimento econômico e também o bem-estar social. Esses dois lados da mesma moeda não podem andar separados, até porque a realidade se impõe às versões narrativas das redes e reflete na qualidade de vida dos brasileiros.
Mas, como podemos falar de equilíbrio quando há uma profunda divisão política, que se recusa a enxergar os fatos e observa os acontecimentos por ângulos embaçados resultantes da simplificação do debate? A resposta a essa pergunta no Brasil de hoje parece uma utopia, mas é o que se esperaria das lideranças políticas. Pena que a grande maioria delas ainda não percebeu isso.
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