O calor intenso que atinge boa parte do Brasil tem sido assunto constante nos últimos dias. Pudera: na terça-feira, o Rio de Janeiro registrou, às 9h15, uma sensação térmica de 58,5 °C, a maior desde 2014. Em São Paulo, já são cinco dias com temperaturas acima de 34 °C – e a capital paulista deve encarar o pico de calor entre esta quinta e sexta-feira, de acordo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), da Prefeitura. Temperaturas altas assim podem, entre outros males à saúde, causar hipotensão arterial – a popular “pressão baixa”. “A hipotensão é tão perigosa quanto a hipertensão”, alerta Luis Cuadrado Martin, diretor da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH). “Se o indivíduo não tomar cuidado, pode levar à morte”.
Segundo critérios internacionais, a pressão arterial é considerada alta quando os valores da máxima (sístole) e da mínima (diástole) são iguais ou superiores a 140/90 mmHg (o popular “14 por 9″). E baixa quando são iguais ou inferiores a 120/80 mmHg (”12 por 8″). São muitos os fatores que podem levar à pressão baixa: de jejum e gravidez a diabetes e hipotireoidismo. Mas, quando a temperatura está lá nas alturas, se resumem a basicamente dois: vasodilatação e desidratação.
Vasodilatação, como o nome já diz, é a dilatação dos vasos – ou aumento do diâmetro dos vasos sanguíneos. Por que isso acontece? Segundo Eduardo Lima, head de cardiologistas do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, no inverno, quando a temperatura está baixa, o organismo acumula calor. Para tanto, ocorre a vasoconstrição, ou diminuição do diâmetro dos vasos sanguíneos. Isso acontece para evitar a perda de calor e, assim, proteger o indivíduo do frio. No verão, quando a temperatura está alta, ocorre o processo inverso. “Os vasos dilatam, para dissipar o calor, e a pressão cai”, explica o cardiologista do H9J.
A desidratação também pode causar queda da pressão arterial em dias muito quentes. Desidratação nada mais é do que a perda de água no organismo. Como isso se dá? Através de vômitos, diarreias, sangramentos e, principalmente, sudorese – ou transpiração excessiva, no bom português.
Quer saber se você está desidratado? Simples: observe a cor de sua urina. Se ela estiver clarinha, sinal de que está tudo certo. Agora, se estiver um pouco mais escura ou, ainda, se você estiver urinando pouco, menos que o habitual, beba mais água. “No calor, a quantidade de suor aumenta e perdemos água pela superfície do corpo”, explica Lucélia Magalhães, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Outro sinal de falta de água no organismo? “Boca seca e saliva grossa”, avisa Luis Cuadrado, da SBH.
Na pior das hipóteses, hipotensão arterial atinge três órgãos vitais para o bom funcionamento do corpo humano: o cérebro, o coração e os rins. Com a pressão lá embaixo, os rins podem parar de funcionar, o cérebro pode sofrer um acidente vascular cerebral (o tão temido AVC) e o coração pode ser vítima de um infarto agudo do miocárdio.
Quando a pressão arterial cai, a capacidade de o coração de bombear sangue para outras partes do corpo e, por tabela, levar oxigênio e nutrientes para as células também despenca. “Altas temperaturas também podem desencadear ataques e arritmias cardíacas”, adverte Marcelo Franken, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e gerente de cardiologia do Hospital Israelita Albert Einstein. “O coração precisa trabalhar mais para manter a temperatura corporal sob controle”.
Para evitar o pior dos mundos, não há escapatória: o único jeito é beber bastante água. E, quando os médicos dizem água, eles querem dizer exatamente isso: água. Ou derivados, como água de coco, suco de fruta e chá gelado. Não querem dizer refrigerante ou cerveja, por exemplo.
“Bebida alcoólica colabora para a desidratação”, explica Hélio Castello, coordenador de hemodinâmica do centro especializado em cardiologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. A exceção da regra é isotônico. E só. “Bebidas isotônicas têm eletrólitos, como sódio, potássio, cálcio, magnésio e fosfato”, acrescenta Marcelo Franken, da Socesp.
Assim como são incontáveis os fatores que causam a hipotensão arterial, são inúmeros os sintomas da pressão baixa. Alguns são mais recorrentes: tontura, fraqueza, sudorese, visão turva, mal-estar, dor de cabeça, respiração ofegante, confusão mental, falta de ar... Ufa! O mais preocupante deles é, sem dúvida, a sensação de desmaio. Já imaginou? Perder a consciência em casa ou, pior, na rua? Para evitar esse sufoco, muita gente acredita que basta colocar uma pitada de sal debaixo da língua.
É que a sabedoria popular parte do pressuposto de que a pressão está baixa por falta de sódio no organismo. Mas não é bem assim. Dependendo da quantidade de sal ingerida, a pressão pode subir rapidamente e causar outros revertérios. Então, é melhor evitar essa prática.
Há estratégias mais eficazes para lidar com a fraqueza e impressão de desmaio iminente. Se estiver em casa, por exemplo, sente-se e cruze as pernas. Melhor ainda: deite-se, com as pernas apoiadas sobre almofadas ou travesseiros. Se estiver na rua, procure se apoiar em algum lugar seguro para não cair e, mesmo em pé, tente cruzar as pernas e os braços, apoiar uma das pernas sobre uma superfície plana ou, ainda, agachar-se. A dica é do cardiologista Eduardo Lima, do H9J. “Essas manobras ajudam o sangue a voltar para o coração e aumentam a pressão arterial”, explica o médico.
Outro truque para aumentar o fluxo sanguíneo, acrescenta Hélio Castello, do Oswaldo Cruz, é usar meias elásticas. “Praticar exercício físico ao ar livre entre 10 e 16h também deve ser evitado”, diz. Os melhores horários são no início da manhã ou no final do dia, quando o calor forte dá uma trégua.
Ninguém está livre de sofrer com a onda de calor. Mas crianças e idosos são as maiores vítimas porque quase não sentem sede. “Por um lado, eles perdem muita água. Por outro, ingerem pouca água. Por essas razões, podem se desidratar mais facilmente”, alerta Alexandre Rouge, coordenador do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), do Ministério da Saúde.
E, como vômitos e diarreias também podem levar à desidratação, todo cuidado é pouco com a higiene alimentar. No caso de idosos que fazem uso de remédio para controlar a hipertensão, a pressão baixa causada pelo sol forte pode dar a falsa impressão de que não é preciso mais continuar com a medicação. Nada mais perigoso. “Paciente não deve ingerir sal e suspender remédio por conta própria”, avisa Eduardo Lima, do H9J. Na dúvida, procure seu médico ou vá ao posto mais próximo.
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