Esse foi um final de semana e tanto para a OpenAI, startup de inteligência artificial que desenvolveu o ChatGPT e DALL-E 2. Uma série de reviravoltas tornou incerto o futuro da empresa de tecnologia mais influente de 2023.
Na sexta-feira passada, 17, a companhia anunciou a demissão do presidente executivo e fundador, Sam Altman. A decisão chocou o mundo da tecnologia, não só pela demissão abrupta em si, mas por Altman ter se tornado um dos rostos mais conhecidos do Vale do Silício no que se refere à inteligência artificial (IA).
Durante o final de semana, após protestos de funcionários e da indústria de tecnologia, a OpenAI considerou readmitir Altman, que exigia que o conselho de diretores da companhia (responsável por demiti-lo na sexta-feira) abandonasse o cargo. As negociações falharam.
Pouco depois, na noite de domingo, a Microsoft, na figura de Satya Nadella, anunciou a contratação de Sam Altman como o novo presidente executivo de uma subsidiária de inteligência artificial dentro da própria empresa. Junto com ele, haveria espaço para admitir todos os 700 funcionários da OpenAI, se assim quisessem os trabalhadores.
Na manhã desta segunda-feira, 20, quase 700 funcionários da OpenAI ameaçaram, em carta aberta, abandonar a startup e se juntar à Microsoft, se o conselho continuasse em seu cargo. Se saírem, a companhia perde quase a totalidade do seu pessoal de uma só vez.
Ainda, informações do site Verge publicadas na noite de segunda-feira, 20, afirmam que Altman ainda não desistiu da OpenAI e que o fundador pretende recuperar a empresa. A condição é que o conselho atual seja demitido.
“A equipe de liderança da OpenAI, especialmente Mira, Brad e Jason, mas, na verdade, todos eles, têm feito um trabalho incrível durante esse período que ficará nos livros de História. Estou incrivelmente orgulhoso deles”, escreveu Altman no X.
Abaixo, leia um resumão para entender todos os detalhes da história da expulsão de Sam Altman da OpenAI.
Na tarde de sexta-feira, a OpenAI anunciou a destituição do fundador e então presidente executivo da companhia, Sam Altman. A notícia pegou todos de surpresa e, mais ainda, a declaração dada pela empresa para justificar a demissão:
“O conselho (da OpenAI) não tem confiança na habilidade de Sam Altman de continuar liderando”, disse a startup em comunicado. “Agradecemos as muitas contribuições de Altman para a fundação e crescimento da OpenAI”.
Segundo a startup, o motivo da saída de Altman ocorreu porque o CEO não era “consistentemente claro em suas comunicações com o conselho, minando suas responsabilidades”.
Nos bastidores, porém, especula-se que dois motivos levaram à expulsão de Altman: discordâncias sobre o braço de negócio da organização e medo dos avanços acelerados da inteligência artificial.
Segundo reportagem do New York Times, o CEO buscava com frequência mais fontes de financiamento para continuar a expansão da OpenAI, que, ao contrário de outras companhias, é uma organização sem fins lucrativos criada para promover os avanços da inteligência artificial de maneira responsável e ética. Em 2018, a entidade criou um braço lucrativo para desenvolver sua tecnologia para o grande público, respeitando uma série de normas de governança que limitassem seu crescimento — era essa a divisão comandada por Altman até semana passada.
O outro motivo tem a ver com os movimentos Racionalista e Altruísta Eficaz, comunidade de pensadores que acredita que, em um futuro próximo, a inteligência artificial vai dominar a Humanidade e que, por isso, seus avanços precisam ser desacelerados ou até mesmo interrompidos. Segundo o jornal New York Times, diversos funcionários da OpenAI estão ligados a essa comunidade.
No último ano, Sam Altman declarou diversas vezes em entrevistas e conferências que a OpenAI procura uma maneira responsável de desenvolver a inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês), uma tecnologia que seria capaz de realizar as mesmas tarefas que um cérebro humano.
Desde a saída de Altman, duas pessoas assumiram a companhia.
Na sexta-feira, o nome anunciado interinamente pela OpenAI foi Mira Murati, então chefe de tecnologia (CTO, na sigla em inglês) da firma. No mundo das startups, esse posto costuma ser o segundo mais importante na hierarquia da empresa. Saiba mais quem é Mira Murati.
Ao longo do final de semana, Mira manifestou diversas vezes apoio a Sam Altman em publicações no X.
No domingo 19, quem assumiu o posto de CEO da OpenAI foi o fundador da plataforma de streaming Twitch, Emmet Shear. Na segunda-feira, como primeira decisão no cargo, o executivo declarou que vai abrir uma investigação interna para averiguar a saída de Sam Altman.
A saída de Sam Altman chocou o mundo da tecnologia.
A primeira reação veio de Greg Brockman, fundador e ex-presidente do conselho da OpenAI. Ao saber da demissão do colega, o executivo publicou uma nota informando que estava se demitindo da startup.
Além disso, o ex-presidente do Google, Eric Schmidt, manifestou apoio a Altman: “Sam Altman é um herói para mim. Ele construiu uma empresa do nada a US$ 90 bilhões em valor e mudou nosso mundo coletivo para sempre”, escreveu no X. “Mal posso esperar para ver o que ele fará em seguida. Eu e bilhões de pessoas nos beneficiaremos de seu trabalho futuro - será simplesmente incrível.”
Como parceira e investidora da OpenAI, a Microsoft é parte diretamente interessada nos rumos da empresa e de seu principal nome no mercado — o cofundador Sam Altman. A gigante de software tem aumentado seus investimentos na empresa desde que anunciou um aporte que pode chegar a US$ 10 bilhões, em janeiro desde ano.
A empresa também usa as IAs da OpenAI em vários produtos populares, como o pacote de ferramentas Microsoft 365 (que contém aplicativos como o Word e o Excel). Além disso, a Microsoft repaginou seu site de pesquisas, o Bing, com a IA do ChatGPT, permitindo que o buscador pudesse gerar respostas a partir de conteúdos na internet, além de criar imagens e textos com a ajuda do GPT-4.
Após a demissão de Altman, a Microsoft agiu com um movimento ainda mais incisivo sobre sua parceria com a OpenAI: Satya Nadella, presidente da gigante de tecnologia, anunciou a contratação do ex-CEO para liderar uma nova divisão de pesquisa em IA.
Pelo X, Altman afirmou que, junto com Nadella, quer garantir que a OpenAI continue a receber recursos e operando para atender seus clientes e parceiros. De acordo com o empresário, a “parceria entre OpenAI e Microsoft permite que isso seja viável”.
Embora as informações sobre se a decisão partiu de uma ou mais pessoas sejam ainda confusas, funcionários acreditam que todo o conselho da OpenAI pode ser responsabilizado pela demissão de Altman.
O empresário e cofundador Ilya Sutskever foi apontado como uma das principais peças da diretoria a tomar parte na decisão. O executivo, no entanto, parece ter mudado de ideia desde então.
Em sua conta no X, Sutskever chegou a afirmar que se arrependia de sua participação nas decisões tomadas pelo conselho da companhia. Altman respondeu a publicação com corações.
A empresa segue com suas atividades, mas enfrenta um grande desafio com seus funcionários a partir de agora. Em uma carta revelada pela revista americana Wired, quase 700 funcionários afirmaram que, caso os diretores responsáveis pela decisão de expulsar Altman da empresa não renunciem, um pedido de demissão em massa será apresentado.
Os funcionários afirmam que vão se demitir e se juntar à Microsoft, que “nos garantiu que há vagas para todos os funcionários da OpenAI em sua nova subsidiária caso escolhemos nos juntar”. Ao todo, a startup possui pouco mais de 700 trabalhadores.
Revelada na manhã desta segunda-feira, 20, a carta acusa o conselho de boicotar a empresa, colocar em risco a missão da OpenAI e de falhar com seus deveres de supervisionar a startup. Com isso, o futuro da empresa pode estar em risco ou nas mãos de um mercado ávido para adquirir uma companhia já consolidada em produtos de IA.
Em menos de um ano, a OpenAI tornou-se uma das startups mais importantes do mundo. Isso aconteceu graças ao lançamento do ChatGPT, de novembro de 2022, que marcou uma nova era para a inteligência artificial no mundo.
Além disso, investimentos bilionários na startup podem levantar a avaliação de mercado para mais de US$ 80 bilhões, tornando a OpenAI a terceira empresa mais valiosa do mundo não-listada em Bolsa — atrás da ByteDance (dona do TikTok) e Space X.
Eventual fracasso da OpenAI em continuar no mercado pode significar o respiro para muitas das grandes companhias de tecnologia, como Google, Amazon e Meta. Nos últimos meses, serviços dessas empresas replicaram novidades já vistas no ChatGPT, provando a influência da OpenAI e Altman ao promover inovações no campo da inteligência artificial.
Além disso, fracasso da OpenAI pode impulsionar outras empresas do setor, como a rival Anthropic, fundada por ex-OpenAI em 2021.
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