O El Faro, um dos maiores jornais de El Salvador, anunciou na quinta-feira, 13, em um comunicado que decidiu mudar a sua estrutura administrativa e jurídica para a Costa Rica, alegando que não existem condições para a permanência no país. O governo do presidente de El Salvador, Nayib Bukele é acusado de silenciar a imprensa e perseguir jornalistas independentes.
A nova sede do jornal foi registrada em San Jose, capital da Costa Rica, no inicio do mês de abril. A redação do jornal segue em El Salvador. “Não deixaremos de fazer jornalismo em El Salvador”, afirmou o El Faro em comunicado.
“O desmantelamento da nossa democracia, os ataques à liberdade de imprensa e o fechamento de todos os mecanismos de transparência e prestação de contas em El Salvador ameaçam gravemente o direito do cidadão de ser informado”, acrescentou o jornal.
O El Faro apontou que a sua cobertura foi alvo de diversos ataques de Bukele, que chegou a acusar o jornal de lavagem de dinheiro. “Continuamos respondendo a acusações forjadas e apelando em todas as instancias administrativas, apesar de saber que em El Salvador não há divisão de poderes”.
O jornal aponta que foi alvo de espionagem por meio do programa de espionagem Pegasus, que ficou conhecido em 2021 por ter sido usado para espionagem de jornalistas, grupos de ativistas e partido de oposição de 50 países.
Com a ferramenta, é possível ligar a câmera e o microfone do celular, além de acessar dados do dispositivo.
“Antes mesmo de sabermos sobre o uso generalizado do Pegasus para interceptar nossos telefones, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos decidiu em fevereiro de 2021 conceder medidas cautelares a 34 membros de El Faro”, acrescentou o jornal.
Em abril de 2022, o El Faro suspendeu a publicação de conteúdo como um protesto em relação a uma lei que foi proposta pelo presidente de El Salvador e aprovada pelo Legislativo que estabeleceu uma pena de 10 a 15 anos de prisão para a divulgação de mensagens envolvendo gangues na mídia.
O jornal avaliou que a lei limitava a atividade jornalística e ameaçava a liberdade de imprensa. Bukele apontou que o principal objetivo da lei era conter a atividade criminosa.
O presidente de El Salvador está no poder desde 2019 e se destacou por ter conseguido reduzir a criminalidade no país, que era considerado um dos mais violentos do mundo.
Em março de 2022, 87 pessoas foram mortas em 48 horas numa escalada da violência urbana em El Salvador. Em resposta, Bukele decretou estado de exceção e anunciou uma nova política de segurança para conter os grupos criminosos. Atualmente, 62.975 pessoas estão presas sem nenhuma ordem judicial, num país com 6,3 milhões de habitantes.
Com o novo modelo de segurança, o governo de El Salvador construiu em tempo recorde uma prisão para 40 mil pessoas. Além disso, a administração de Bukele tem feito diversas detenções sem nenhuma ordem judicial, despertando fortes críticas de organizações de direitos humanos.
Apesar disso, o presidente se tornou extremamente popular por conta do sucesso de seu plano e é apoiado por 90% da população, segundo pesquisas de opinião.
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