Para muitos de nós, ouvir a própria voz numa gravação é um choque. “Será possível que é assim que minha voz soa?” (Sim, mas vamos falar sobre isso mais adiante). Em uma pesquisa recente com 1.500 pessoas, metade afirmou que ouvir a própria voz gravada era tão prejudicial para seu bem-estar mental que a mudaria se pudesse.
Quando pesquisadores do Mass Eye and Ear, um hospital universitário de Harvard, pediram às pessoas que ouvissem suas próprias vozes numa gravação, 58% dos entrevistados disseram que não gostavam de ouvir a si mesmos; 39% também achavam o som de suas vozes perturbador em conversas normais – não gravadas.
Então, por que tantos de nós ficamos surpresos com o som de nossas próprias vozes e o que pode ser feito para alterá-las? Leia as opiniões dos especialistas.
“Existem duas maneiras pelas quais o som é conduzido quando você fala”, diz Tricia Ashby-Scabis, diretora sênior de práticas de audiologia da Associação Americana de Fala-Linguagem-Audição em Rockville, Maryland.
“Você se ouve tanto pela condução aérea quanto pela condução óssea”, diz Ashby-Scabis. “Como resultado, você ouve um som mais profundo, completo e agradável na sua voz. Mas, quando ouve uma gravação da sua voz, você está ouvindo só pela condução aérea, então perde a qualidade interna do som profundo”.
condução aérea usa o pavilhão auricular (a parte externa do ouvido), o canal auditivo, a membrana timpânica (tímpano) e os ossículos (pequenos ossos dentro do ouvido) para amplificar sua voz, enquanto a condução óssea transmite a vibração do som da sua voz para o ouvido interno e de um ouvido ao outro.
Internamente, sua voz tem um tom mais baixo. Mas numa gravação, onde apenas o ar transporta o som, sua voz pode ganhar uma frequência mais elevada – uma frequência mais precisa, no que diz respeito às outras pessoas.
“Se você ouve uma gravação da sua voz, sim, é isso que o resto do mundo ouve”, diz Matthew R. Naunheim, médico e cirurgião do Massachusetts Eye and Ear e professor assistente de otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço na Harvard Medical School. Naunheim foi um dos autores do estudo de Harvard sobre as impressões que as pessoas têm sobre suas vozes.
Quando você se ouve como as outras pessoas ouvem, isso pode atrapalhar suas expectativas internas e, consequentemente, sua autoconfiança. O conceito é chamado de confronto de voz e foi estudado pela primeira vez pelos psicólogos Philip Holzman e Clyde Rousey na década de 1960.
Holzman e Rousey descobriram que, quando apresentadas à maneira como realmente soam, as pessoas tendem a se concentrar nos aspectos negativos de suas vozes nas gravações, a ponto de ficarem na defensiva sobre como elas soam.
“Na psicologia, existe o eu ideal e existe o eu real”, diz Chloe Carmichael, psicóloga clínica em Nova York. “O eu ideal é um pouco mais aspiracional, e isso não é uma coisa ruim. Precisamos ter uma mentalidade aspiracional para nos mantermos saudáveis e funcionais. No entanto, quando as pessoas são confrontadas com a realidade... percebemos que na verdade nossa voz não soa como nós a ouvimos. Isso pode ser chocante e produzir insegurança”.
Várias intervenções são possíveis, como injeções nas cordas vocais com colágeno, preenchimentos de gel ou Botox, diz Naunheim. “As cordas vocais também podem costuradas, um tratamento que foi desenvolvido para paralisia, mas pode atuar como um ‘elevador de voz’. É uma modificação de tom”, acrescenta Naunheim. “Pacientes transgêneros e não binários têm usado esse tipo de cirurgia para mudar o tom de suas vozes”.
Mas entre os riscos da cirurgia das cordas vocais estão sangramento, infecção, rouquidão, problemas respiratórios, dentes lascados durante o procedimento e resultados indesejáveis. “No entanto, se alguém está insatisfeito com a própria voz sem motivo médico – se alguém diz: ‘Minha voz não é ruim, mas não gosto dela’ – recomendo uma abordagem mais conservadora”, diz Naunheim. “Para esses pacientes, geralmente desencorajo procedimentos para encurtar, afiar ou alongar suas cordas vocais”.
A terapia de voz usando exercícios de fluxo de ar pode ser uma alternativa útil e segura, de acordo com dados do Centro Médico da Universidade do Mississippi. Aumentar o fluxo de ar por meio de técnicas simples – como soprar pelos lábios ou gargarejar – ajuda a relaxar os músculos vocais e a desenvolver mais ressonância na voz. Um coach vocal pode dar orientação nesses exercícios, que funcionam melhor quando praticados de forma consistente.
A terapia de reposição hormonal também pode alterar as características vocais. É comumente usada em cuidados de afirmação de gênero para pacientes trans e não binários e pode ser utilizada junto com a terapia de voz.
Consultar um fonoaudiólogo ou um coach de voz ou de canto pode ser uma boa maneira de fazer uma análise da sua voz. Mas, “se você consultar um especialista, é importante se dispor a ouvir seu feedback objetivo”, diz Carmichael. “Faça essa pergunta: tem mais alguma coisa em mim que eu costumo criticar? Nesse caso, talvez seja mais útil trabalhar sua autoestima e autoaceitação do que sua voz”.
Se decidir trabalhar com um profissional, você vai aprender técnicas simples para melhorar o som da sua voz. Jessica Doyle-Mekkes, coach vocal que ensina voz aplicada na Escola de Teatro e Dança da East Carolina University em Greenville, Carolina do Norte, obteve benefícios pessoais com as habilidades que agora ensina.
“Trabalhando como jovem atriz, muitas vezes recebia críticas de que minha voz soava muito anasalada”, diz ela. “Trabalhei com um professor de canto que me disse que a chave para perder o traço nasal da minha voz era relaxar mais a língua e soltar a mandíbula. Acusticamente, a regra é ‘mais espaço é igual a mais graves’. O ouvido humano considera atraente o som quente e grave do baixo”.
Ler uma notícia todos os dias no seu telefone e depois analisar onde sua voz precisa de melhorias é um ótimo primeiro passo, diz Carmichael. Quanto mais você fizer isso, mais insensível ficará às falhas que pensa ter ouvido e mais fácil será melhorá-las.
Também é importante cuidar bem da sua voz. Isso significa:
Resumindo: “Uma boa higiene vocal e trabalhar sua técnica vocal são muito melhores do que um procedimento arriscado”, diz Naunheim.
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