Enquanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), planejava abolir os livros didáticos impressos para alunos de parte da rede estadual de ensino, adotando apenas conteúdo digital, a Suécia – cuja rede de ensino é das mais avançadas da Europa – oficializou em maio um projeto na direção contrária: após 15 anos migrando progressivamente do material didático impresso para o digital, neste ano vai investir o equivalente a R$ 315 milhões em livros.
“Nossos filhos já estão navegando em telas nas horas vagas. Acho que as escolas deveriam trabalhar para limitar o uso da tela”, justificou, em entrevista ao Estadão, a ministra da Educação da Suécia, Lotta Edholm.
A afirmação dela reflete a realidade daquele país europeu, onde o acesso à internet é praticamente universal: a preocupação é com o excesso de horas que os jovens passam diante da tela do computador ou do celular. No Brasil, onde o acesso à internet é mais restrito, o principal risco de oferecer material didático apenas digital é que o aluno não tenha como acessá-lo regularmente para estudar.
A decisão do governo sueco de incentivar a utilização de cadernos e canetas pelos alunos nas escolas se baseou em estudos feitos em vários países que chegaram à mesma conclusão: quem lê um texto impresso consegue compreendê-lo melhor do que aqueles que leem o mesmo texto no computador.
“Novas descobertas na ciência cognitiva mostram que os alunos aprendem mais quando leem em um livro do que em um tablet”, afirmou a ministra ao Estadão. “E o livro não possui notificações que distraem”, ressaltou ela, referindo-se à dispersão que a tela do computador propicia.
Segundo Lotta, tanto professores como alunos gostaram da decisão de retomar os livros impressos, que são valorizados: “Em geral, as respostas são muito positivas. Ter livros é quase visto como um luxo e, mais do que tudo, muitos pais aceitam a mudança”, disse a ministra.
Em 2024 e 2025, o governo do Suécia investirá mais 44 milhões de euros por ano (o equivalente a cerca de R$ 220 milhões) para que os livros em papel voltem à sala de aula - cada criança receberá um impresso para cada disciplina.
Dados divulgados em maio da avaliação global Pirls (sigla em inglês de Progress in International Reading Literacy Study), um ranking que analisou em 57 países a capacidade de alunos do 4º ano do ensino fundamental de leitura e compreensão de textos, colocaram a Suécia na 13.ª posição. Já o Brasil ficou à frente somente de Irã, Jordânia, Egito e África do Sul.
O plano de Tarcísio e do secretário estadual de Educação, Renato Feder, era trocar livros impressos por digitais do 6º ao 9º anos do ensino fundamental. Por isso, o governo paulista recusou 10 milhões de livros didáticos oferecidos de graça pelo Ministério da Educação aos alunos da rede estadual.
Essa oferta faz parte do Programa Nacional do Livro Didático (PNDL), que tem esse nome desde 1985, mas existe desde 1937. Há décadas, esses livros didáticos atendem um edital rigoroso e são avaliados por professores de universidades federais.
Após a repercussão negativa da medida, o governo do Estado mudou de ideia quanto ao uso de livros impressos: decidiu imprimir apostilas do Currículo em Ação, material didático complementar produzido pelo próprio estado de São Paulo. A recusa dos livros oferecidos pelo Ministério da Educação foi mantida.
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