Experiência de quase morte
O terceiro campo de estudo dos parapsicólogos é a sobrevivência da consciência sem o corpo. Uma das principais fontes de estudo dessa hipótese são as experiências de quase morte, ou seja, aqueles relatos em que o sujeito, quando em grande risco de morrer, vê a vida passar em retrospecto, encontra-se com parentes mortos e sente-se como se saísse do próprio corpo. Não é uma experiência assim tão rara. Uma pesquisa de opinião do Instituto Gallup, nos Estados Unidos, em 1982, revelou que um em cada sete adultos já viveu uma situação assim.
É claro que não se podem testar essas experiências em laboratório. Há dois anos, o cardiologista holandês Pim Van Lommel publicou um estudo polêmico com entrevistas com pacientes que foram considerados clinicamente mortos por um exame de eletroencefalograma, e que ressuscitaram. A ausência de sinal em um eletroencefalograma significa que os neurônios do paciente não estavam se comunicando. Segundo o conhecimento médico atual, a consciência é um produto da transmissão de impulsos cerebrais entre neurônios. Sem eles, não deveria haver consciência.
A parte que despertou polêmica no estudo de Lommel foram os depoimentos de 62 pacientes que disseram lembrar-se do que ocorreu durante o período em que estiveram mortos. Há vários tipos de relatos, mas chama a atenção a repetição de alguns padrões, como enxergar o próprio corpo, ver um túnel de luz, rever toda a vida em retrospecto e encontrar-se com pessoas mortas. O estudo levou Lommel a cogitar a hipótese de a consciência sobreviver fora do corpo.
Na edição 16, de 1991, da revista Skeptical Inquirer (em português, "inquisidor cético"), considerada a bíblia dos céticos, a britânica Susan Blackmore, professora de Psicologia, analisou esse tipo de relato e tem boas explicações para eles. Em primeiro lugar, diz ela, essas experiências não ocorrem somente em situações de extremo perigo para a vida. Há relatos parecidos em situações cotidianas. Outra coisa: não dá para dizer, com certeza, que a memória das pessoas se refere ao tempo em que estavam clinicamente mortas. Para ela, essas sensações se referem ao momento que antecede a inatividade cerebral.
Uma de suas explicações mais engenhosas é para o túnel de luz que muitas pessoas relatam ver. Segundo ela, quando falta oxigênio no cérebro, as primeiras células a entrar em colapso são um grupo cuja tarefa é inibir o excesso de atividade do córtex cerebral. Sem essa inibição, o cérebro produz uma chuva de impulsos nervosos na área cerebral que comanda a visão. Uma simulação disso em computador mostra que essa interferência começa no centro do campo visual e, à medida que o oxigênio acaba, estende-se para o resto do campo. O efeito é o de um ponto de luz que cresce, dando a impressão de um túnel.
A parapsicologia já desfrutou de grande prestígio. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, integrou uma sociedade de parapsicólogos. Hoje ela está carente de atenção e credibilidade.
Para Robert Morris, essa situação está prestes a mudar. O pesquisador acredita que, com a introdução de novas técnicas para monitorar o estado mental das cobaias, uma série de distorções hoje cometidas pelos pesquisadores vão desaparecer. E a parapsicologia vai mostrar resultados mais expressivos. Enquanto isso não acontece, não custa nada ir torcendo para que não chova no próximo fim de semana. Tem gente que diz que isso ajuda.
A mente pode enxergar?
As experiências de percepção extra-sensorial parecem um teste de adivinhação. Os pesquisadores pedem a uma pessoa que descubra como é um local ou uma imagem, sem usar nenhum meio físico conhecido. Em alguns casos, para ajudar na visualização, os cientistas pedem que o sujeito desenhe o que visualizou. Entre centenas de testes, é esperado, até por coincidência, que algumas descrições fiquem bem próximas do alvo. Mas alguns desenhos impressionam pela semelhança, como mostram os exemplos abaixo. Os céticos lembram que a maioria das descrições não têm nada a ver com o alvo.
Para saber mais
Na livraria
Conscious Universe, Dea Radin. HarperCollins, 1997
Parapsychology - The Controversial Science, Richard S. Broughton. Ballantine, 1992
Varieties of Anomalous Experiences, Etzel Cardeña, Stanley Krippner, Steve Jay Lynn (orgs). American Psychological Association, 2000
Science or Pseudoscience? Magnetic Healing, Psychic Phenomena, and Other Heterodoxies, Henry H. Bauer. University of Illinois Press, 2001
Margins of Reality, Robert G. Jahne Brenda J. Dunne. Harcout Brace Jovanovich, Publishers, 1987
Does Psi Exist? - Replicable Evidence for an Anomalous Process of Information Transfer, Daryl Bem e Charles Honorton. Pasychological Bulletin, 1994. Vol. 115. No.1
What Can the Paranormal Teach Us About Consciousness?, Susan Blackmore. Skeptical Inquirer, março/abril de 2001
Na internet
www.parapsych.org
www.ifr.org/csl/index.html
www.icrl.org
www.csicop.org
O terceiro campo de estudo dos parapsicólogos é a sobrevivência da consciência sem o corpo. Uma das principais fontes de estudo dessa hipótese são as experiências de quase morte, ou seja, aqueles relatos em que o sujeito, quando em grande risco de morrer, vê a vida passar em retrospecto, encontra-se com parentes mortos e sente-se como se saísse do próprio corpo. Não é uma experiência assim tão rara. Uma pesquisa de opinião do Instituto Gallup, nos Estados Unidos, em 1982, revelou que um em cada sete adultos já viveu uma situação assim.
É claro que não se podem testar essas experiências em laboratório. Há dois anos, o cardiologista holandês Pim Van Lommel publicou um estudo polêmico com entrevistas com pacientes que foram considerados clinicamente mortos por um exame de eletroencefalograma, e que ressuscitaram. A ausência de sinal em um eletroencefalograma significa que os neurônios do paciente não estavam se comunicando. Segundo o conhecimento médico atual, a consciência é um produto da transmissão de impulsos cerebrais entre neurônios. Sem eles, não deveria haver consciência.
A parte que despertou polêmica no estudo de Lommel foram os depoimentos de 62 pacientes que disseram lembrar-se do que ocorreu durante o período em que estiveram mortos. Há vários tipos de relatos, mas chama a atenção a repetição de alguns padrões, como enxergar o próprio corpo, ver um túnel de luz, rever toda a vida em retrospecto e encontrar-se com pessoas mortas. O estudo levou Lommel a cogitar a hipótese de a consciência sobreviver fora do corpo.
Na edição 16, de 1991, da revista Skeptical Inquirer (em português, "inquisidor cético"), considerada a bíblia dos céticos, a britânica Susan Blackmore, professora de Psicologia, analisou esse tipo de relato e tem boas explicações para eles. Em primeiro lugar, diz ela, essas experiências não ocorrem somente em situações de extremo perigo para a vida. Há relatos parecidos em situações cotidianas. Outra coisa: não dá para dizer, com certeza, que a memória das pessoas se refere ao tempo em que estavam clinicamente mortas. Para ela, essas sensações se referem ao momento que antecede a inatividade cerebral.
Uma de suas explicações mais engenhosas é para o túnel de luz que muitas pessoas relatam ver. Segundo ela, quando falta oxigênio no cérebro, as primeiras células a entrar em colapso são um grupo cuja tarefa é inibir o excesso de atividade do córtex cerebral. Sem essa inibição, o cérebro produz uma chuva de impulsos nervosos na área cerebral que comanda a visão. Uma simulação disso em computador mostra que essa interferência começa no centro do campo visual e, à medida que o oxigênio acaba, estende-se para o resto do campo. O efeito é o de um ponto de luz que cresce, dando a impressão de um túnel.
A parapsicologia já desfrutou de grande prestígio. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, integrou uma sociedade de parapsicólogos. Hoje ela está carente de atenção e credibilidade.
Para Robert Morris, essa situação está prestes a mudar. O pesquisador acredita que, com a introdução de novas técnicas para monitorar o estado mental das cobaias, uma série de distorções hoje cometidas pelos pesquisadores vão desaparecer. E a parapsicologia vai mostrar resultados mais expressivos. Enquanto isso não acontece, não custa nada ir torcendo para que não chova no próximo fim de semana. Tem gente que diz que isso ajuda.
A mente pode enxergar?
As experiências de percepção extra-sensorial parecem um teste de adivinhação. Os pesquisadores pedem a uma pessoa que descubra como é um local ou uma imagem, sem usar nenhum meio físico conhecido. Em alguns casos, para ajudar na visualização, os cientistas pedem que o sujeito desenhe o que visualizou. Entre centenas de testes, é esperado, até por coincidência, que algumas descrições fiquem bem próximas do alvo. Mas alguns desenhos impressionam pela semelhança, como mostram os exemplos abaixo. Os céticos lembram que a maioria das descrições não têm nada a ver com o alvo.
Para saber mais
Na livraria
Conscious Universe, Dea Radin. HarperCollins, 1997
Parapsychology - The Controversial Science, Richard S. Broughton. Ballantine, 1992
Varieties of Anomalous Experiences, Etzel Cardeña, Stanley Krippner, Steve Jay Lynn (orgs). American Psychological Association, 2000
Science or Pseudoscience? Magnetic Healing, Psychic Phenomena, and Other Heterodoxies, Henry H. Bauer. University of Illinois Press, 2001
Margins of Reality, Robert G. Jahne Brenda J. Dunne. Harcout Brace Jovanovich, Publishers, 1987
Does Psi Exist? - Replicable Evidence for an Anomalous Process of Information Transfer, Daryl Bem e Charles Honorton. Pasychological Bulletin, 1994. Vol. 115. No.1
What Can the Paranormal Teach Us About Consciousness?, Susan Blackmore. Skeptical Inquirer, março/abril de 2001
Na internet
www.parapsych.org
www.ifr.org/csl/index.html
www.icrl.org
www.csicop.org
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