Numa manhã de verão, uma moradora de Nova York acordou impressionada com o sonho que teve. Em seu sono, ela viu um avião pequeno cair em uma praia à beira de um lago. Havia três chalés no local, mas apenas um foi atingido. Os bombeiros, ao tentar alcançar os destroços, pegaram a estrada errada e demoraram muito a chegar. Quando, finalmente, puderam combater o fogo, era tarde demais. O piloto da aeronave havia morrido queimado. Na manhã do dia seguinte, ela comentou o sonho em duas cartas que escreveu a amigos. E, no final da tarde, quando ouviu um ruído de avião, teve um pressentimento. Gritou para o marido que avisasse os bombeiros, porque aquele avião iria cair. Segundos depois, a aeronave se espatifou na praia de um lago próximo, atingindo, na queda, um dos chalés que ficavam na margem. Os bombeiros pegaram a estrada errada e o piloto morreu queimado. A mulher entrou em depressão, achando que ela poderia ter salvo a vida do sujeito.
Há várias maneiras de interpretar esse caso. Uma delas é atribuir os fatos a uma incrível coincidência. Mas há quem enxergue aí um episódio de premonição, como fez a pesquisadora americana Louisa Rhine. O sonho da mulher de Nova York, na verdade, faz parte de uma compilação de casos de fenômenos paranormais publicado por hine na década de 70. Ou seja, para ela, a mulher previu o futuro em seu sonho.
Em outras épocas, em outras culturas, essa explicação seria prontamente aceita. Afinal, durante muito tempo, as pessoas interpretavam o mundo por meio das idéias de xamãs, bruxos e profetas. Na Grécia antiga, os pais do pensamento clássico recorriam a oráculos que previam o futuro. Na França medieval, acreditava-se que alguns reis, chamados de taumaturgos, eram capazes de curar com o toque. Em alguns lugares, isso acontece até hoje. Em muitas comunidades indígenas, os xamãs são líderes tribais.
Mas na sociedade ocidental racionalista atual o juiz supremo do conhecimento humano é a ciência. É ela que atesta o que é o mundo e como ele funciona. É ela que diz o que é realidade e o que é ilusão. Ou seja, para que uma idéia seja levada a sério, conquiste um espaço nos livros escolares e se torne conhecida e respeitada por todos, ela precisa ser sancionada pela ciência.
A boa notícia é que há, sim, pesquisa científica sobre alguns fenômenos paranormais. Essa ciência chama-se parapsicologia e não estuda todos os acontecimentos estranhos, só três tipos. O primeiro é a percepção extra-sensorial, que é o nome dado para a transmissão de informação que não use nenhum meio físico conhecido, nenhum dos sentidos humanos. Isso inclui três tipos de fenômenos: a premonição, ou seja, receber uma informação do futuro, como a moça de Nova York; a telepatia, que significa a comunicação direta entre duas mentes; e a clarividência, que é a percepção de uma informação sem uso dos sentidos e sem que haja outra pessoa envolvida.
Outro fenômeno estudado pela parapsicologia é a telecinese, ou seja, a influência direta da mente sobre a matéria. Mover objetos sem tocá-los, influenciar máquinas à distância ou curar só com o toque de mãos são considerados fenômenos telecinéticos.
O terceiro fenômeno pesquisado pela parapsicologia é a sobrevivência da consciência sem o corpo, o que envolve o estudo de coisas como reencarnação e experiências de quase morte (os relatos de quem foi considerado clinicamente morto e ressuscitou). Ou seja, como você percebeu, a parapsicologia estuda a influência da consciência sobre o mundo real. Espíritos e ETs não fazem parte de seus estudos.
Para boa parte dos cientistas, entrar em um laboratório para fazer testes de telepatia é uma heresia que faria o cadáver de Newton revirar-se na sepultura. Mas a parapsicologia é, sim, uma ciência. Os parapsicólogos controlam as condições das experiências, fazem previsões e procuram reproduzir os resultados, como nas outras ciências. A Associação Parapsicológica, que reúne os parapsicólogos americanos, é afiliada, desde a década de 70, à prestigiada Associação Americana para o Avanço da Ciência. Como outros ramos da ciência, a parapsicologia tem jornais especializados para publicar seus estudos. E, também como em outras ciências, os parapsicólogos prestam serviços para governos e recebem financiamento público para pesquisas, se bem que o dinheiro para esse pessoal esteja bastante curto.
Foi num desses estudos patrocinados pelo governo americano que despontou Joe McMoneagle, um vidente que tinha as mais altas taxas de acerto entre as cobaias utilizadas nas pesquisas militares. Em seu livro Conscious Universe ("Universo consciente", inédito no Brasil), o físico e parapsicólogo Dean Radin, que testou McMoneagle várias vezes, relata alguns episódios impressionantes. Em 1979, os militares americanos queriam saber o que havia dentro de um prédio na Rússia. Primeiro, deram a McMoneagle as coordenadas (latitude e longitude) do local. O vidente descreveu o prédio e fez um desenho bastante semelhante ao edifício. Os militares então lhe entregaram uma foto do prédio feita de um satélite e lhe pediram que dissesse o que havia lá dentro. McMoneagle disse que os russos estavam construindo um enorme submarino no prédio. A previsão parecia estranha: submarinos são construídos à beira da água e a água mais próxima do prédio russo ficava a centenas de metros.
O vidente disse que, em quatro meses, os soviéticos escavariam um canal para o submarino sair. De fato, quatro meses depois, havia um canal ligando o prédio à água, e um enorme submarino, classe Tufão, saiu da construção. De 1970 a 1994, o Exército, a Marinha e até a Nasa gastaram cerca de 20 milhões de dólares com esse tipo de pesquisa de visão remota, ou seja, clarividência.
A má notícia é que, apesar do dinheiro e de mais de 130 anos empregados em pesquisas, ainda não é possível afirmar que existem fenômenos parapsicológicos (ou fenômenos psi, como costumam dizer os parapsicólogos). O pior é que também não dá para dizer que eles não existem.
Parte da culpa por essa situação é dos próprios parapsicólogos. É incontestável que há pouca pesquisa científica sobre o assunto. Das que existem, boa parte é descartada no primeiro escrutínio por problemas metodológicos ou por negligência na conduta da experiência. Outra parte acaba desacreditada por análises estatísticas. Por fim, das pesquisas que sobram, uma fatia está impregnada de conceitos esotéricos, que não podem ser analisados pelo método científico. E é comum ler artigos de parapsicólogos tentando salvar do naufrágio pesquisas com sérios problemas metodológicos.
Há várias maneiras de interpretar esse caso. Uma delas é atribuir os fatos a uma incrível coincidência. Mas há quem enxergue aí um episódio de premonição, como fez a pesquisadora americana Louisa Rhine. O sonho da mulher de Nova York, na verdade, faz parte de uma compilação de casos de fenômenos paranormais publicado por hine na década de 70. Ou seja, para ela, a mulher previu o futuro em seu sonho.
Em outras épocas, em outras culturas, essa explicação seria prontamente aceita. Afinal, durante muito tempo, as pessoas interpretavam o mundo por meio das idéias de xamãs, bruxos e profetas. Na Grécia antiga, os pais do pensamento clássico recorriam a oráculos que previam o futuro. Na França medieval, acreditava-se que alguns reis, chamados de taumaturgos, eram capazes de curar com o toque. Em alguns lugares, isso acontece até hoje. Em muitas comunidades indígenas, os xamãs são líderes tribais.
Mas na sociedade ocidental racionalista atual o juiz supremo do conhecimento humano é a ciência. É ela que atesta o que é o mundo e como ele funciona. É ela que diz o que é realidade e o que é ilusão. Ou seja, para que uma idéia seja levada a sério, conquiste um espaço nos livros escolares e se torne conhecida e respeitada por todos, ela precisa ser sancionada pela ciência.
A boa notícia é que há, sim, pesquisa científica sobre alguns fenômenos paranormais. Essa ciência chama-se parapsicologia e não estuda todos os acontecimentos estranhos, só três tipos. O primeiro é a percepção extra-sensorial, que é o nome dado para a transmissão de informação que não use nenhum meio físico conhecido, nenhum dos sentidos humanos. Isso inclui três tipos de fenômenos: a premonição, ou seja, receber uma informação do futuro, como a moça de Nova York; a telepatia, que significa a comunicação direta entre duas mentes; e a clarividência, que é a percepção de uma informação sem uso dos sentidos e sem que haja outra pessoa envolvida.
Outro fenômeno estudado pela parapsicologia é a telecinese, ou seja, a influência direta da mente sobre a matéria. Mover objetos sem tocá-los, influenciar máquinas à distância ou curar só com o toque de mãos são considerados fenômenos telecinéticos.
O terceiro fenômeno pesquisado pela parapsicologia é a sobrevivência da consciência sem o corpo, o que envolve o estudo de coisas como reencarnação e experiências de quase morte (os relatos de quem foi considerado clinicamente morto e ressuscitou). Ou seja, como você percebeu, a parapsicologia estuda a influência da consciência sobre o mundo real. Espíritos e ETs não fazem parte de seus estudos.
Para boa parte dos cientistas, entrar em um laboratório para fazer testes de telepatia é uma heresia que faria o cadáver de Newton revirar-se na sepultura. Mas a parapsicologia é, sim, uma ciência. Os parapsicólogos controlam as condições das experiências, fazem previsões e procuram reproduzir os resultados, como nas outras ciências. A Associação Parapsicológica, que reúne os parapsicólogos americanos, é afiliada, desde a década de 70, à prestigiada Associação Americana para o Avanço da Ciência. Como outros ramos da ciência, a parapsicologia tem jornais especializados para publicar seus estudos. E, também como em outras ciências, os parapsicólogos prestam serviços para governos e recebem financiamento público para pesquisas, se bem que o dinheiro para esse pessoal esteja bastante curto.
Foi num desses estudos patrocinados pelo governo americano que despontou Joe McMoneagle, um vidente que tinha as mais altas taxas de acerto entre as cobaias utilizadas nas pesquisas militares. Em seu livro Conscious Universe ("Universo consciente", inédito no Brasil), o físico e parapsicólogo Dean Radin, que testou McMoneagle várias vezes, relata alguns episódios impressionantes. Em 1979, os militares americanos queriam saber o que havia dentro de um prédio na Rússia. Primeiro, deram a McMoneagle as coordenadas (latitude e longitude) do local. O vidente descreveu o prédio e fez um desenho bastante semelhante ao edifício. Os militares então lhe entregaram uma foto do prédio feita de um satélite e lhe pediram que dissesse o que havia lá dentro. McMoneagle disse que os russos estavam construindo um enorme submarino no prédio. A previsão parecia estranha: submarinos são construídos à beira da água e a água mais próxima do prédio russo ficava a centenas de metros.
O vidente disse que, em quatro meses, os soviéticos escavariam um canal para o submarino sair. De fato, quatro meses depois, havia um canal ligando o prédio à água, e um enorme submarino, classe Tufão, saiu da construção. De 1970 a 1994, o Exército, a Marinha e até a Nasa gastaram cerca de 20 milhões de dólares com esse tipo de pesquisa de visão remota, ou seja, clarividência.
A má notícia é que, apesar do dinheiro e de mais de 130 anos empregados em pesquisas, ainda não é possível afirmar que existem fenômenos parapsicológicos (ou fenômenos psi, como costumam dizer os parapsicólogos). O pior é que também não dá para dizer que eles não existem.
Parte da culpa por essa situação é dos próprios parapsicólogos. É incontestável que há pouca pesquisa científica sobre o assunto. Das que existem, boa parte é descartada no primeiro escrutínio por problemas metodológicos ou por negligência na conduta da experiência. Outra parte acaba desacreditada por análises estatísticas. Por fim, das pesquisas que sobram, uma fatia está impregnada de conceitos esotéricos, que não podem ser analisados pelo método científico. E é comum ler artigos de parapsicólogos tentando salvar do naufrágio pesquisas com sérios problemas metodológicos.
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