Em um tema de tanto interesse do público, seria de esperar que outros cientistas, de outras áreas, viessem em socorro do conhecimento científico, apontando os possíveis erros e ajudando a construir experiências à prova de falhas, para finalmente descobrirmos se os fenômenos psi existem ou não. Mas isso não acontece. A esmagadora maioria da comunidade científica contenta-se em ridicularizar a parapsicologia sem nem conhecer seus trabalhos acadêmicos.
A minoria que se dispõe a analisar as pesquisas parapsicológicas está encastelada em associações de céticos que dizem que parapsicologia não é ciência e muitas vezes criticam as pesquisas com argumentos tão fantasiosos quanto os dos maus parapsicólogos. As revistas editadas por esses grupos estão cheias desses casos. E já houve casos de céticos famosos acusados de sabotagem. Um dos céticos mais respeitados pelos parapsicólogos é o psicólogo Ray Hyman, da Universidade de Oregon, hoje aposentado. Hyman revisou várias pesquisas dos parapsicólogos e as conhece bem. Mas mesmo ele exibe, às vezes, um ceticismo pouco saudável. Em pelo menos duas ocasiões, Hyman deparou-se com pesquisas cujo resultado, embora inexplicável pelas leis aceitas pela física, não podia ser atribuído a nenhuma falha. Bastaria dizer que não achou falha. Mas ele fez questão de acrescentar uma dúvida sobre a pesquisa. "Não pude encontrar nenhuma falha, se há alguma presente.
Mas também é impossível, em princípio, dizer que qualquer experimento em particular ou série experimental é completamente livre de possíveis falhas", escreveu.
Ele não reavaliou a pesquisa. Ou seja, os resultados do estudo permanecem válidos. Mas, hoje, Hyman é categórico: "Os efeitos encontrados pelos parapsicólogos devem-se a falhas de método ou de procedimento. Eu nunca vi nenhum efeito autêntico à prova de falhas", disse ele, em entrevista de sua casa no Oregon.
Em busca de uma opinião isenta para esta postagem, falei com vários cientistas que estudam o método e a evolução do conhecimento científico. Todos desmereceram as pesquisas dos parapsicólogos. O detalhe é que nenhum deles estava atualizado com as pesquisas que criticavam. Um deles não conhecia um método utilizado há 20 anos, mas não hesitou em dizer que a ciência havia "provado" que os fenômenos psi não existem. E nenhum deles jamais fez um experimento sobre fenômenos psi.
Com esse tipo de opinião sobre a parapsicologia, não é de admirar que os livros didáticos tenham uma visão tão distorcida sobre essa ciência. Em uma pesquisa feita em 1991, o psicólogo americano Miguel Roig descobriu que, entre 64 livros de introdução à psicologia utilizados nos Estados Unidos, um terço nem citava os termos psi ou percepção extra-sensorial. E, entre os que citavam, só oito estavam atualizados sobre as pesquisas, embora não entrassem em detalhes.
Não deixa de ser estranho. Uma das razões pelas quais a ciência tornou-se, por excelência, a doutrina pela qual a humanidade acumula conhecimento, é seu caráter progressista. "A ciência tem características de autocorreção que operam como a seleção natural", diz o psicólogo americano Michael Shermer, presidente da Skeptics Society (em português, sociedade cética), uma espécie de ONG que combate superstições, crendices e tudo o que não pode ser comprovado cientificamente. "Para avançar, a ciência se livra de erros e teorias obsoletas com enorme facilidade. Como a natureza, é capaz de preservar os ganhos e erradicar os erros para continuar a existir", afirma.
Mas não é isso que se vê na comunidade dos céticos, da qual Shermer faz parte. Sua opinião sobre a acupuntura é um exemplo. Em 1997, um comitê dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos reconheceu que a eficácia da acupuntura supera o efeito placebo para alguns problemas de saúde, embora seja nula para outros. Mas, ignorando essas evidências, Shermer é categórico em seu diagnóstico dos efeitos da acupuntura. "Eles não existem. São simplesmente efeito placebo."
Isso pode ser simplesmente preconceito. Mas pode ser uma pista de que o pensamento analítico, que divide o mundo em partes e examina cada uma delas separadamente, tem limitações. Por seus inegáveis méritos, esse modelo moldou a ciência nos últimos 300 anos. Devemos a ele o desenvolvimento de quase todas as novas tecnologias, da saúde à aeronáutica. Por outro lado, alguns cientistas que não têm nada a ver com parapsicologia começam a questionar se essa maneira de ver as coisas é mesmo infalível. Na medicina, por exemplo, a interação entre mente e corpo é cada dia mais aceita, e não é mais uma heresia dizer que relaxamento, crença religiosa e outros fatores de equilíbrio mental afetam sinais vitais mensuráveis, como pressão arterial. O entendimento do processo do estresse, por exemplo, vem dessa mudança. O que a parapsicologia quer saber é se não haveria uma interação parecida entre consciência e matéria (alguns físicos admitem essa hipótese.
Richard Lewontin é pesquisador do Museu de Zoologia Comparada da Universidade Harvard e um expoente da pesquisa genética. Mas ele não está contente com o modo de pensar analítico. Em seu livro A Tripla Hélice (Companhia das Letras, 2002), Lewontin faz uma analogia interessante. Segundo ele, estamos acostumados a ver o pensamento analítico como uma onda que varre os campos do conhecimento por onde passa, uma onda que só não alcança aqueles que fogem dela para refugiar-se em raciocínios bizarros. Mas, segundo o pesquisador, esse modelo científico é mais como os exércitos medievais, que sitiavam as cidades por algum tempo, deixando incólumes as mais resistentes. "A ciência, como a praticamos, resolve os problemas para os quais seus métodos e conceitos são adequados. E os cientistas bem-sucedidos logo aprendem a formular somente problemas que apresentam boa probabilidade de ser resolvidos."
O tiroteio entre céticos e parapsicólogos vitimou boa parte das pesquisas dos fenômenos psi, que não resistiu às críticas e tombou, para o bem da boa ciência. Mas há sobreviventes. E eles têm histórias impressionantes para contar. O psicólogo Robert Morris, que dirige o curso de Parapsicologia da Universidade de Edimburgo, na Escócia, é um deles. Respeitado até entre as fileiras do exército inimigo, Morris reconhece as fraquezas das pesquisas dos fenômenos psi. "Para conhecer o mecanismo de um fenômeno é preciso manter constantes as variáveis envolvidas. Só assim é que se consegue reproduzi-lo, o que é fundamental para provar sua existência. O problema é que não conhecemos todas as variáveis envolvidas nos fenômenos psi", diz Morris. "Parte do problema é que estudar pessoas é difícil, como bem sabem os psicólogos. O ser humano é complexo e dificilmente se consegue repetir o resultado de um estudo."
Apesar de tudo isso, o pesquisador está convencido da existência dos fenômenos psi, mas diz isso com o rigor de um cientista. "Eu estou 95% persuadido de que pelo menos alguns dos efeitos em parapsicologia indicam que novos e genuínos princípios da natureza estão operando. Mas não posso afirmar isso categoricamente. Eu acho que uma certa dose de incerteza é muito saudável para a ciência." O efeito detectado, diz ele, ainda é fraco. Mas, após milhares de repetições de experiências quase idênticas, ele acha que esse pequeno efeito é consistente.
A minoria que se dispõe a analisar as pesquisas parapsicológicas está encastelada em associações de céticos que dizem que parapsicologia não é ciência e muitas vezes criticam as pesquisas com argumentos tão fantasiosos quanto os dos maus parapsicólogos. As revistas editadas por esses grupos estão cheias desses casos. E já houve casos de céticos famosos acusados de sabotagem. Um dos céticos mais respeitados pelos parapsicólogos é o psicólogo Ray Hyman, da Universidade de Oregon, hoje aposentado. Hyman revisou várias pesquisas dos parapsicólogos e as conhece bem. Mas mesmo ele exibe, às vezes, um ceticismo pouco saudável. Em pelo menos duas ocasiões, Hyman deparou-se com pesquisas cujo resultado, embora inexplicável pelas leis aceitas pela física, não podia ser atribuído a nenhuma falha. Bastaria dizer que não achou falha. Mas ele fez questão de acrescentar uma dúvida sobre a pesquisa. "Não pude encontrar nenhuma falha, se há alguma presente.
Mas também é impossível, em princípio, dizer que qualquer experimento em particular ou série experimental é completamente livre de possíveis falhas", escreveu.
Ele não reavaliou a pesquisa. Ou seja, os resultados do estudo permanecem válidos. Mas, hoje, Hyman é categórico: "Os efeitos encontrados pelos parapsicólogos devem-se a falhas de método ou de procedimento. Eu nunca vi nenhum efeito autêntico à prova de falhas", disse ele, em entrevista de sua casa no Oregon.
Em busca de uma opinião isenta para esta postagem, falei com vários cientistas que estudam o método e a evolução do conhecimento científico. Todos desmereceram as pesquisas dos parapsicólogos. O detalhe é que nenhum deles estava atualizado com as pesquisas que criticavam. Um deles não conhecia um método utilizado há 20 anos, mas não hesitou em dizer que a ciência havia "provado" que os fenômenos psi não existem. E nenhum deles jamais fez um experimento sobre fenômenos psi.
Com esse tipo de opinião sobre a parapsicologia, não é de admirar que os livros didáticos tenham uma visão tão distorcida sobre essa ciência. Em uma pesquisa feita em 1991, o psicólogo americano Miguel Roig descobriu que, entre 64 livros de introdução à psicologia utilizados nos Estados Unidos, um terço nem citava os termos psi ou percepção extra-sensorial. E, entre os que citavam, só oito estavam atualizados sobre as pesquisas, embora não entrassem em detalhes.
Não deixa de ser estranho. Uma das razões pelas quais a ciência tornou-se, por excelência, a doutrina pela qual a humanidade acumula conhecimento, é seu caráter progressista. "A ciência tem características de autocorreção que operam como a seleção natural", diz o psicólogo americano Michael Shermer, presidente da Skeptics Society (em português, sociedade cética), uma espécie de ONG que combate superstições, crendices e tudo o que não pode ser comprovado cientificamente. "Para avançar, a ciência se livra de erros e teorias obsoletas com enorme facilidade. Como a natureza, é capaz de preservar os ganhos e erradicar os erros para continuar a existir", afirma.
Mas não é isso que se vê na comunidade dos céticos, da qual Shermer faz parte. Sua opinião sobre a acupuntura é um exemplo. Em 1997, um comitê dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos reconheceu que a eficácia da acupuntura supera o efeito placebo para alguns problemas de saúde, embora seja nula para outros. Mas, ignorando essas evidências, Shermer é categórico em seu diagnóstico dos efeitos da acupuntura. "Eles não existem. São simplesmente efeito placebo."
Isso pode ser simplesmente preconceito. Mas pode ser uma pista de que o pensamento analítico, que divide o mundo em partes e examina cada uma delas separadamente, tem limitações. Por seus inegáveis méritos, esse modelo moldou a ciência nos últimos 300 anos. Devemos a ele o desenvolvimento de quase todas as novas tecnologias, da saúde à aeronáutica. Por outro lado, alguns cientistas que não têm nada a ver com parapsicologia começam a questionar se essa maneira de ver as coisas é mesmo infalível. Na medicina, por exemplo, a interação entre mente e corpo é cada dia mais aceita, e não é mais uma heresia dizer que relaxamento, crença religiosa e outros fatores de equilíbrio mental afetam sinais vitais mensuráveis, como pressão arterial. O entendimento do processo do estresse, por exemplo, vem dessa mudança. O que a parapsicologia quer saber é se não haveria uma interação parecida entre consciência e matéria (alguns físicos admitem essa hipótese.
Richard Lewontin é pesquisador do Museu de Zoologia Comparada da Universidade Harvard e um expoente da pesquisa genética. Mas ele não está contente com o modo de pensar analítico. Em seu livro A Tripla Hélice (Companhia das Letras, 2002), Lewontin faz uma analogia interessante. Segundo ele, estamos acostumados a ver o pensamento analítico como uma onda que varre os campos do conhecimento por onde passa, uma onda que só não alcança aqueles que fogem dela para refugiar-se em raciocínios bizarros. Mas, segundo o pesquisador, esse modelo científico é mais como os exércitos medievais, que sitiavam as cidades por algum tempo, deixando incólumes as mais resistentes. "A ciência, como a praticamos, resolve os problemas para os quais seus métodos e conceitos são adequados. E os cientistas bem-sucedidos logo aprendem a formular somente problemas que apresentam boa probabilidade de ser resolvidos."
O tiroteio entre céticos e parapsicólogos vitimou boa parte das pesquisas dos fenômenos psi, que não resistiu às críticas e tombou, para o bem da boa ciência. Mas há sobreviventes. E eles têm histórias impressionantes para contar. O psicólogo Robert Morris, que dirige o curso de Parapsicologia da Universidade de Edimburgo, na Escócia, é um deles. Respeitado até entre as fileiras do exército inimigo, Morris reconhece as fraquezas das pesquisas dos fenômenos psi. "Para conhecer o mecanismo de um fenômeno é preciso manter constantes as variáveis envolvidas. Só assim é que se consegue reproduzi-lo, o que é fundamental para provar sua existência. O problema é que não conhecemos todas as variáveis envolvidas nos fenômenos psi", diz Morris. "Parte do problema é que estudar pessoas é difícil, como bem sabem os psicólogos. O ser humano é complexo e dificilmente se consegue repetir o resultado de um estudo."
Apesar de tudo isso, o pesquisador está convencido da existência dos fenômenos psi, mas diz isso com o rigor de um cientista. "Eu estou 95% persuadido de que pelo menos alguns dos efeitos em parapsicologia indicam que novos e genuínos princípios da natureza estão operando. Mas não posso afirmar isso categoricamente. Eu acho que uma certa dose de incerteza é muito saudável para a ciência." O efeito detectado, diz ele, ainda é fraco. Mas, após milhares de repetições de experiências quase idênticas, ele acha que esse pequeno efeito é consistente.
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