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Algumas coisas não têm preço - Final

O enriquecimento rápido, dizem pesquisas, traz apenas um estado de euforia passageiro. Um estudo dos anos 70, por exemplo, mostra que a felicidade que vem com um bilhete premiado de loteria não dura mais do que alguns meses. É a chamada esteira hedonista. Segundo essa teoria, bens e serviços adicionais dão um prazer extra, mas transitório, pois a pessoa logo se adapta ao novo padrão e não dá mais tanto valor a isso. "É o que faz com que se queira sempre mais", diz Frey. Para a professora de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Dulce Critelli, o que acontece é que confundimos felicidade com satisfação, e isso traz frustração. "Dinheiro traz saciedade, e ela é tão viciante quanto as drogas", diz. "Mas a felicidade mesmo tem a ver com realização pessoal", diz Dulce, também coordenadora do Existentia Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana.

A empresária Doris Barg, de 48 anos, percebeu essa diferença quando largou um emprego que lhe pagava o equivalente a um carro popular por mês para montar o próprio negócio, bem menos lucrativo. "Eu trabalhava tanto que me apegava à idéia do 'eu mereço' e comprava recompensas para mim. Era frustrante, porque eu tinha que 'merecer' sempre mais", conta. Doris viveu por dois anos com o salário do marido enquanto seu negócio, um espaço para gestantes, não engrenava. Engrenou, mas ainda não rende tanto quanto o antigo emprego. "Tenho certeza de que estou no caminho certo", diz ela. "Hoje me sinto mais tranqüila e muito mais realizada. Posso dizer que sou realmente feliz, mesmo sem alguns luxos."

"Uma vida feliz não depende somente da prosperidade material, mas sim do nosso pensamento", disse o líder budista Dalai Lama, autor do livro "A Arte da Felicidade", com mais de 220 mil exemplares vendidos no Brasil.. "Tenho alguns amigos muito ricos, bilionários, mas, como pessoas, são muito infelizes, não têm paz interior." Aos 21 anos, a estudante de psicologia Marília Motta, concorda que paz interior tem mais a ver com felicidade do que com qualquer outra coisa e foi por isso que, há dois anos, ela começou a praticar meditação. "Estou numa fase da vida em que a insegurança é grande. Não temos certeza se estamos no caminho certo ou como que vai ser o futuro", diz. "São tantas preoupações que só a serenidade e o equilíbrio que vêm com a técnica já deixam a vida muito mais fácil e feliz."

O neurocientista americano Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin-Madison, pesquisou os efeitos dessa prática comparando o cérebro de um monge que já havia meditado por mais de 10 mil horas com o de 150 pessoas comuns. O lado do cérebro predominante nos otimistas era também muito mais ativo no monge. Outros estudos, como o do americano David Lykken com pares de gêmeos criados em famílias diferentes, indicam que algumas pessoas já nascem com o cérebro mais preparado para a felicidade. Mas a verdade é que não existe uma receita garantida para alcançar esse estado. "A felicidade é um sentimento de que a vida que eu levo é a que mais tem a ver comigo. Cada um vai encontrar o seu caminho", diz a filósofa Dulce.

Segundo o historiador americano Darrin McMahon, autor de "Happiness: a History" (Felicidade: uma História), livro que chega ao Brasil mês que vem pela Editora Globo, a felicidade virou um direito natural de todos somente no século 18. Antes, o quadro era outro: "As pessoas não esperavam ser felizes. Se fossem, eram consideradas sortudas, abençoadas por Deus ou extremamente virtuosas. Eram a exceção", diz. Hoje, é o contrário: todo mundo espera, deseja e busca ser feliz - o que pode se tornar uma fonte de frustração. "Quando se busca demais a felicidade, ela acaba minada", diz o historiador. "Felicidade é aprender a se deixar levar pela vida."

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