O dinheiro, sozinho, pode trazer felicidade? Para alcançar esse estado cobiçado por todos, ele é mais importante do que fazer o que se gosta ou ter amigos? Novas pesquisas tentam resolver essas questões
É algo que todo mundo quer, mas ninguém tem a receita. Não por acaso, a felicidade é um dos temas mais explorados pelo mercado de auto-ajuda, em livros que acenam com fórmulas supostamente capazes de fazer qualquer um atingir esse estado e em palestras ministradas por "gurus" cheios de promessas. Mas, afinal, o que traz felicidade? O dinheiro, como prega muita gente? É essa questão que novas pesquisas algumas conduzidas por economistas, em vez de psicólogos tentam desvendar.
Vários dos estudos mais recentes estão reunidos no livro "Happiness, Lessons from a New Science" (Felicidade, Lições de uma Nova Ciência), lançado este ano nos Estados Unidos e ainda não publicado no Brasil. Seu autor, o economista inglês Richard Layard, constata que o desenvolvimento econômico de um país não leva à felicidade. "Há um paradoxo no cerne de nossa civilização. Nossa sociedade ficou mais rica nos últimos 50 anos, mas as pessoas não se tornaram mais felizes", escreve Layard. Ainda assim, outras pesquisas recentes mostram que, até certo ponto, o dinheiro traz, sim, felicidade. "Em média, pessoas mais ricas relatam maior bem-estar subjetivo. Estatisticamente, nesse sentido, o dinheiro compra a felicidade", diz o economista suíço Bruno S. Frey, da Universidade de Zurich. "É que uma boa renda garante mais saúde e os direitos humanos básicos." Segundo ele, dizer que as pessoas nos países pobres são mais felizes porque vivem em condições mais "naturais" e menos estressantes é um equívoco.
No entanto, uma vez atendidas as necessidades básicas, dinheiro adicional não aumenta a felicidade na mesma proporção. Levantamentos realizados em todo o mundo mostram que o valor da renda per capita influi no nível de satisfação com a vida até o limite de ganhos de 15 mil dólares ao ano e faz pouca diferença acima disso. Ou seja, depois de ter atingido um nível razoável de conforto, ninguém se torna mais feliz se passar a ganhar mais. Um estudo feito no Brasil pelo instituto Target Group Index - Ibope Media comprova a tese internacional. Os brasileiros mais ricos têm os menores índices de satisfação, enquanto a renda familiar média mensal das pessoas que se declararam totalmente satisfeitas é de R$ 1.694.
Os pesquisadores ainda tentam achar explicações para isso. Um estudo sugere que indivíduos que prezam muito os bens materiais tendem a ser substancialmente menos felizes. O mesmo vale para os que buscam apenas sucesso financeiro ou aprovação social. Para o psicólogo social americano Jonathan Haidt, da Universidade da Virgínia, os mais ricos não são mais felizes porque, para ganhar bem, sacrificam o tempo com a família e os amigos. E não é só: "Se bem gasto, o dinheiro pode nos livrar de problemas e preocupações. Mas se mal gasto, apenas em símbolos de status, pode nos afastar dos outros", diz Haidt, autor de "The Happiness Hypothesis" (A Hipótese da Felicidade), não publicado no Brasil.
A cabeleireira Luciana Alvarez, de 37 anos, diz que sentiu na pele o impacto que o enriquecimento pode ter sobre as relações pessoais. Há cinco anos, ligar para um serviço delivery para pedir comida era considerado um luxo para Luciana, que morava em uma casa emprestada pela sogra, com o marido e dois filhos. Seu padrão de vida mudou radicalmente quando ela conseguiu a representação no Brasil de um método italiano de alongamento capilar. "Eu não tinha dinheiro para viajar, fazer o curso e muito menos para a máquina. Então, vendi o serviço para meus clientes antes mesmo de ter", conta. Hoje, é ela quem alonga os cabelos de atrizes para novelas da Globo e da Record. Comprou a casa dos sonhos, com cinco quartos e piscina, o primeiro carro zero (um Renault Scénic) e realizou um desejo de infância em sua lua-de-mel: viajar para a Disney. "Foi incrível. Já voltei quatro vezes e vou de novo com meus filhos este ano", diz. Nada disso garantiu felicidade. Nos primeiros anos, ela perdeu contato com os amigos e a vida familiar. Até uma amizade de 14 anos acabou. "Eu trocaria tudo o que tenho hoje pela minha vida de antes. A gente perde a pureza, se torna mais fria, mais individualista."
É algo que todo mundo quer, mas ninguém tem a receita. Não por acaso, a felicidade é um dos temas mais explorados pelo mercado de auto-ajuda, em livros que acenam com fórmulas supostamente capazes de fazer qualquer um atingir esse estado e em palestras ministradas por "gurus" cheios de promessas. Mas, afinal, o que traz felicidade? O dinheiro, como prega muita gente? É essa questão que novas pesquisas algumas conduzidas por economistas, em vez de psicólogos tentam desvendar.
Vários dos estudos mais recentes estão reunidos no livro "Happiness, Lessons from a New Science" (Felicidade, Lições de uma Nova Ciência), lançado este ano nos Estados Unidos e ainda não publicado no Brasil. Seu autor, o economista inglês Richard Layard, constata que o desenvolvimento econômico de um país não leva à felicidade. "Há um paradoxo no cerne de nossa civilização. Nossa sociedade ficou mais rica nos últimos 50 anos, mas as pessoas não se tornaram mais felizes", escreve Layard. Ainda assim, outras pesquisas recentes mostram que, até certo ponto, o dinheiro traz, sim, felicidade. "Em média, pessoas mais ricas relatam maior bem-estar subjetivo. Estatisticamente, nesse sentido, o dinheiro compra a felicidade", diz o economista suíço Bruno S. Frey, da Universidade de Zurich. "É que uma boa renda garante mais saúde e os direitos humanos básicos." Segundo ele, dizer que as pessoas nos países pobres são mais felizes porque vivem em condições mais "naturais" e menos estressantes é um equívoco.
No entanto, uma vez atendidas as necessidades básicas, dinheiro adicional não aumenta a felicidade na mesma proporção. Levantamentos realizados em todo o mundo mostram que o valor da renda per capita influi no nível de satisfação com a vida até o limite de ganhos de 15 mil dólares ao ano e faz pouca diferença acima disso. Ou seja, depois de ter atingido um nível razoável de conforto, ninguém se torna mais feliz se passar a ganhar mais. Um estudo feito no Brasil pelo instituto Target Group Index - Ibope Media comprova a tese internacional. Os brasileiros mais ricos têm os menores índices de satisfação, enquanto a renda familiar média mensal das pessoas que se declararam totalmente satisfeitas é de R$ 1.694.
Os pesquisadores ainda tentam achar explicações para isso. Um estudo sugere que indivíduos que prezam muito os bens materiais tendem a ser substancialmente menos felizes. O mesmo vale para os que buscam apenas sucesso financeiro ou aprovação social. Para o psicólogo social americano Jonathan Haidt, da Universidade da Virgínia, os mais ricos não são mais felizes porque, para ganhar bem, sacrificam o tempo com a família e os amigos. E não é só: "Se bem gasto, o dinheiro pode nos livrar de problemas e preocupações. Mas se mal gasto, apenas em símbolos de status, pode nos afastar dos outros", diz Haidt, autor de "The Happiness Hypothesis" (A Hipótese da Felicidade), não publicado no Brasil.
A cabeleireira Luciana Alvarez, de 37 anos, diz que sentiu na pele o impacto que o enriquecimento pode ter sobre as relações pessoais. Há cinco anos, ligar para um serviço delivery para pedir comida era considerado um luxo para Luciana, que morava em uma casa emprestada pela sogra, com o marido e dois filhos. Seu padrão de vida mudou radicalmente quando ela conseguiu a representação no Brasil de um método italiano de alongamento capilar. "Eu não tinha dinheiro para viajar, fazer o curso e muito menos para a máquina. Então, vendi o serviço para meus clientes antes mesmo de ter", conta. Hoje, é ela quem alonga os cabelos de atrizes para novelas da Globo e da Record. Comprou a casa dos sonhos, com cinco quartos e piscina, o primeiro carro zero (um Renault Scénic) e realizou um desejo de infância em sua lua-de-mel: viajar para a Disney. "Foi incrível. Já voltei quatro vezes e vou de novo com meus filhos este ano", diz. Nada disso garantiu felicidade. Nos primeiros anos, ela perdeu contato com os amigos e a vida familiar. Até uma amizade de 14 anos acabou. "Eu trocaria tudo o que tenho hoje pela minha vida de antes. A gente perde a pureza, se torna mais fria, mais individualista."
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