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Entevista: Evair

 UOL Esporte: Você não treina nenhum time há mais de um ano. Isso é por uma opção sua ou pela falta de convites?

Evair: Foi algumas vezes por opção, outras porque não tive proposta interessante. Na maioria das vezes, não tive proposta interessante. Mas o objetivo é esse mesmo, continuar como treinador.

UOL: Mas você teve resultados bons com os times que treinou, embora tenham sido equipes de expressão mediana. Por que acha que não teve boas propostas?

Evair: É difícil pra mim dizer se tem alguma coisa bem concreta de não ter propostas. Antes de mais nada, eu não tenho empresários, e hoje em dia, quando você não tem empresários que possam estar te oferecendo como uma pessoa que possa mudar uma estrutura ou ajudar, vai continuar sendo assim.

UOL: Nós ouvimos muito falar sobre a influência de empresários no mercado de jogadores. Isso acontece muito também com os técnicos?

Evair: Sim. Acho até que tem muitos treinadores que têm empresários que são melhores que eles. Por isso vivem bem empregados. Caso algum me procurar e eu achar que vale a pena... Do contrário, vai ficar desse jeito. Eu acredito que uma hora ou outra Deus vai abrir uma porta. Prefiro ficar dependente de Deus do que dependente de determinadas situações.

  • Juntar um punhado de astros e achar que isso será suficiente para conquistar títulos já se mostrou uma tática furada no futebol. Os ‘galácticos’ do Real Madrid, o ‘melhor ataque do mundo’ do Flamengo, a seleção brasileira de 2006 são algumas provas disso. Mas houve uma equipe repleta de grandes jogadores que conseguiu contrariar esta regra e fez história em uma das fases mais gloriosas do Palmeiras. Cléber, o gigante ex-zagueiro Clebão, estava lá, conquistou quase tudo que podia nos times da década de 90.

    Mas hoje, com a mesma calma que demonstrava em campo, o agora técnico lembra: aquele grupo tinha tudo para dar errado, não fosse o pulso forte de Vanderlei Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari.

UOL: E o que você tem feito neste período em que não está treinando nenhum clube?

Evair: Eu faço eventos, faço jogos com os amigos, jogos de eventos. Quando tenho algum convite interessante pra fazer, eu faço. Não tenho muita disposição, mas quando aparece...

UOL: Por que não tem muita disposição?

Evair: Meu joelho dói, as costas doem...

UOL: E você costuma receber algum valor nesses eventos, algum tipo de cachê?

Evair: Às vezes de algumas pessoas sim, às vezes não. Mas quando é beneficente, eu mesmo faço questão de não receber.

UOL: Você aparece com alguma frequência em eventos do Palmeiras. O último deles foi no lançamento das novas camisas [no final de maio]. Você costuma receber muitos convites por parte do clube?

Evair: Aquilo ali foi um convite feito para eu participar. Mas nada oficial ou para determinadas situações. Foi só porque houve um convite da parte de um amigo, que insistiu muito para que eu fosse. Mas normalmente eu fico muito distante. Eu quase nunca mais voltei ao Palmeiras ou a algum outro clube que eu tenha tido alguma relação.

UOL: Mas isso parte das diretorias ou é uma decisão sua de não aparecer?

Evair: Parte das diretorias. Eu nunca tive tantos convites, as vezes que tive foi para dar entrevista ou algo assim. Mas não fico nem um pouco chateado. Aliás, as vezes que eu fui foi porque insistiram muito, porque eu vejo que a torcida do Palmeiras tem um respeito por mim. Do contrário, eu não iria. Mas não tenho nada contra.

UOL: Falando em torcida, você passou apenas quatro anos no Palmeiras, período que não era considerado tão grande no passado, mas ainda assim é um dos maiores ídolos dos torcedores. Por que você acha que eles criaram essa identificação com você?

Evair: Porque ganhei títulos, porque viram que quando eu vesti a camisa do Palmeiras, eu procurava ter compromisso com ela, procurava honrá-la. Isso fez com que o torcedor do Palmeiras entendesse e me respeitasse.

UOL: E hoje você ainda tem assédio de torcedores pedindo autógrafos, fotos?

Evair: Sim, bastante, mas é tranquilo hoje. Antigamente era mais agitado.

UOL: O que foi mais relevante pra você: ser campeão da Libertadores num período em que você não estava mais no auge ou conquistar o bicampeonato brasileiro sendo um dos destaques do time?

Evair: O mais importante foi ter sido campeão quando quebrou o tabu [o título do Paulista de 1993 encerrou um jejum de 17 anos do Palmeiras]. Aquele foi o momento mais marcante da minha vida como profissional, quando o palmeirense passou a ter respeito pelos seus jogadores, pelo orgulho de vestir a camisa. Foi o resgate da autoestima. Foi o mais importante e o mais emocionante também. Passei um sufoco danado na Libertadores, mas aquele foi mais importante.

UOL: Na final da Libertadores de 1999, você foi expulso. Apesar de ter feito um gol no tempo normal, você acha que seria o mais crucificado se o Palmeiras não tivesse sido o campeão?

Evair: Não sei te dizer se seria, mas minha consciência ia doer.

UOL: E como foi acompanhar a cobrança de pênaltis dentro do vestiário, só ouvindo as reações da torcida?

Evair: Era eu de um lado ajoelhado e do outro o padre [que costumava acompanhar os times comandados por Felipão]. Foi muito pior [ficar no vestiário].

UOL: Como foi a comemoração de vocês dentro do vestiário?

Evair: Não tem como explicar, não tem como distinguir.

UOL: Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-zagueiro Clebão afirmou que até hoje, quando encontra o goleiro Marcos, agradece a ele pelos pênaltis defendidos na Libertadores. Você também?

Evair: Se eu pudesse agradecer ao Marcos, teria agradecido a ele por aquele jogo contra o River Plate na semifinal. Ele foi muito bem na Argentina, e naquele jogo ele foi crucial.

UOL: Clebão também disse que, naquela Libertadores, a vitória sobre o Corinthians nas quartas de final foi até mais emocionante do que a vitória na final. Você concorda com ele?

Evair: Não concordo, aquela foi uma etapa difícil, um momento difícil pra nós. Acho que o time passou por méritos, mas se ficasse ali, seria muito ruim, mas ganhar o título foi mais emocionante.

UOL: Ainda em 1999, você foi reserva na final do Mundial [derrota por 1 a 0 para o Manchester United]. Acha que o resultado poderia ser diferente se você tivesse entrado em campo desde o início?

Evair: Eu entrei em campo...

UOL: Sim, mas começou o jogo na reserva [entrou no início do segundo tempo]...

Evair: Acho que eu poderia ter resolvido, mas não tive a capacidade pra isso. Não fiquei chateado com o Felipão, fiquei chateado de não ver virado os gols.

UOL: Ainda falando sobre o Palmeiras, em 1992 houve um episódio com o técnico Nelsinho Batista...

Evair: Moça, você pode concluir a entrevista, por favor?

UOL: Sim, já estamos terminando. O que aconteceu naquela época para ele te afastar do time por cinco meses? Foi apenas uma opção técnica? [nota da redação: segundo o Almanaque do Palmeiras, Evair foi afastado por indisciplina]

Evair: Foi só opção técnica. Moça, estou pedindo para você terminar, já faz duas horas que estamos conversando [nota da redação: a entrevista toda durou exatos 14 minutos].

UOL: E vocês tornaram a se encontrar depois daquilo?

Evair: Sim, ele foi meu treinador no Goiás e eu fui auxiliar dele na Ponte Preta.

UOL:

Evair: Moça, eu já disse que preciso terminar a entrevista, que você está sendo indelicada, que tenho um compromisso.

UOL: Certo, vou fazer uma última pergunta para finalizar a entrevista então.

Evair: Não, eu não vou responder mais nada.

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