Para entender melhor como funciona esse mercado, o ideal é imaginar uma negociação entre duas empresas, segundo o professor de economia internacional do Ibmec, Reginaldo Nogueira.
No mercado à vista, por exemplo, uma empresa A tem uma dívida de US$ 1 milhão com a empresa B. Para pagar essa dívida, a empresa A vai comprar US$ 1 milhão pela taxa de câmbio do dia e acertar a conta em reais.
Já no mercado futuro a empresa A está preocupada com uma dívida que terá que pagar em quatro meses. A empresa A não sabe se o dólar vai subir muito e tem medo de não conseguir honrar o compromisso. Uma solução encontrada é fechar um acordo com a empresa B, comprometendo-se a comprar US$ 1 milhão daqui a quatro meses por um valor determinado hoje em reais.
Nesse caso, a empresa B aposta que o dólar vai cair e que ela vai conseguir lucrar mais com a venda no futuro, pois lá na frente vai poder ganhar com a valorização da moeda (vai precisar de menos reais para comprar e revender a mesma quantidade de dólares).
Já a empresa A quer evitar essa alta para sua dívida não subir. Para se proteger de variações muito grandes no câmbio, as empresas fazem uma espécie de seguro, que é chamado de "hedge".
O hedge é uma forma de proteção que as empresas têm contra a variação do câmbio. Por exemplo, se uma companhia possui uma dívida de US$ 1 milhão e, hoje, a cotação do dólar está em R$ 1,54, a dívida é de R$ 1,54 milhão.
Caso não pague à vista e tenha um prazo de quatro meses para quitar o débito, a cotação do dólar pode variar até lá. Se subir para R$ 2,00 no final dos quatro meses, a dívida aumentaria de R$ 1,54 milhão para R$ 2 milhões.
Empresas usam truques para especular com seguro
Existem "truques" que podem fazer os lucros das empresas se multiplicarem nessas operações de hedge. Essa aposta no futuro é classificada como especulação.
Voltando ao exemplo das duas empresas: a empresa A fechou um acordo com a empresa B em que irá comprar US$ 1 milhão em quatro meses. Porém, a empresa B não precisa ter esses dólares agora, porque só vai vendê-los lá na frente.
Para tentar lucrar ainda mais com a negociação, a empresa B fecha o negócio sem ter esse dinheiro no cofre. Com isso, ela aposta que a cotação da moeda vai cair nesse intervalo de tempo e poderá lucrar ainda mais no acordo com a empresa A, pois precisaria de menos reais para comprar e revender a mesma quantidade de dólares.
Quando uma empresa faz isso, ela acredita nas previsões dos analistas. Porém nem sempre as previsões são certeiras.
Se muitas empresas resolvem acreditar nas previsões e acontece algum problema no meio do caminho, elas poderão até mesmo quebrar, trazendo grandes problemas para a economia.
Tirando a pressão do dólar futuro
Para o professor Reginaldo Nogueira, a medida do governo busca tirar a pressão sobre o dólar futuro, diminuindo a especulação e, com isso, ajudando a desvalorizar o real.
"O governo quer taxar com IOF exatamente as empresas que estão especulando para ver se isso aumenta a demanda por dólares no câmbio à vista, desvalorizando a moeda brasileira", disse.
Na opinião de Nogueira, para a medida funcionar realmente, o governo precisa estar atento às "manobras" do mercado e também aos juros.
"São dois problemas: o primeiro é que o mercado sempre encontra uma forma de fugir da tributação; o segundo ponto são os altos juros praticados no país, que continuam atraindo volumes obscenos de dólares", afirmou.
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