Menos de dois meses depois de ter as relações com o sócio francês Casino estremecidas, por causa do vazamento de conversas sigilosas que o empresário Abilio Diniz vinha mantendo com o Carrefour, o grupo Pão de Açúcar fez ontem uma oferta formal para a fusão de suas operações com as do Carrefour no Brasil. Oficialmente, a proposta de fusão foi apresentada à matriz do Carrefour em Paris pelo banco BTG Pactual, que entraria no negócio como investidor. Juntos, Pão de Açúcar e Carrefour formariam uma nova gigante do varejo brasileiro, com faturamento de mais de R$ 65 bilhões anuais e participação de 32% nas vendas totais do varejo brasileiro. Mas, para avançar, a operação dependerá da aprovação dos Conselhos de Administração de Carrefour e Casino, arquirrivais na França. A união das empresas também terá que passar pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Em nota divulgada ontem, porém, o Casino, que já havia recorrido à Câmara Internacional de Comércio (ICC) contra o sócio Pão de Açúcar, reafirmou que considera o passo dado por Diniz ilegal e que fará valer seu poder de veto. Do lado do Carrefour, a fusão já teria recebido sinal verde do corpo executivo, restando sua aprovação no Conselho de acionistas. No fim do ano passado, a matriz da rede francesa descobriu um rombo de R$ 1,2 bilhão na filial brasileira, e desde então enfrenta pressão dos acionistas para se desfazer do negócio no Brasil.
A operação estruturada pelo BTG Pactual, junto com a Estáter, uma butique de investimentos que há anos trabalha com o Pão de Açúcar, prevê o aporte de dinheiro público, via BNDESpar, o braço de equity do banco de fomento, que entraria com R$ 3,91 bilhões por uma fatia de 18% no capital do Novo Pão de Açúcar (NPA), nome da holding que comandaria os negócios integrados das duas redes de varejo.
Caso o negócio seja aprovado, a consultoria Austin Asis concluiu que a união do Pão de Açúcar com o Carrefour criará o terceiro maior grupo do país em faturamento (R$ 65 bilhões), superado só por Petrobras e Vale. Com isso, vai ultrapassar gigantes como JBS, Odebrecht e AmBev. Para o economista-chefe da Austin Asis, Alex Agostini, a fusão poderá ser um passo do Pão de Açúcar na internacionalização.
De acordo com o fato relevante enviado pelo Pão de Açúcar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o banco comandado por André Esteves entraria no negócio com um aporte direto de R$ 690 milhões e ficaria com 3,2% das ações da NPA, além de um empréstimo de R$ 1,15 bilhão para financiar o processo de fusão. Esse aporte teria como contrapartida a emissão de dívida (debêntures ou outro título) por parte da NPA.
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