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Entrevista concedida a Veja (22/11/1995), a Eurípedes Alcântara, no momento em que o governo americano movia processo de formação de monopólio contra

Veja - O senhor acredita que a internet pode contribuir para diminuir o fosso entre os países pobres e ricos?
GATES - O surgimento da internet é uma notícia boa para todas as pessoas em qualquer lugar do mundo. Ela permite compartilhar instantaneamente resultados de testes com novos remédios, pesquisas e ajuda tremendamente o desenvolvimento da ciência. Além disso, ela alarga as fronteiras do próprio capitalismo, dando um poder inusitado aos consumidores. Isso torna a economia dramaticamente mais eficiente. O mundo como
um todo está se beneficiando da internet. Os países em desenvolvimento que mais investiram em educação e comunicação serão os maiores beneficiados. O caso da Índia é interessante. O cidadão indiano médio não tem acesso a um sistema educacional maravilhoso, mas tem o legado britânico que privilegia a qualidade. O resultado disso é que atualmente há cerca de 1 milhão de pessoas trabalhando na indústria de software na
Índia. Graças à internet eles estão próximos dos consumidores de seus produtos. Isso tem um efeito equalizador. Por causa da internet, o salário de um criador de software na Índia, que costumava ser um décimo do que se paga nos Estados Unidos, hoje é quase equiparado ao que pagamos.

Veja - Que conselhos o senhor daria a um jovem empreendedor brasileiro?
GATES - É preciso querer fazer algo novo, inédito, grandioso. Nos Estados Unidos há a sensação agora de que qualquer coisa relacionada à internet vai gerar uma empresa da noite para o dia que logo estará com ações na bolsa, deixando seus fundadores ricos. Essa situação não vai durar. Logo vão prosperar apenas as empresas que realizarem coisas únicas e valiosas. As cópias, as imitações, não vão durar muito, em benefício do
consumidor. A internet dá muito mais poder aos consumidores do que às empresas. Obviamente, isso significa que a competição tende a aumentar e as margens de lucro, a cair neste novo ambiente de negócios. Por outro lado, é uma época fascinante para pessoas com queda para estratégia empresarial. A internet é onde todo jovem empreendedor deve estar. É o lugar certo para encontrar outras pessoas, um emprego ou para construir uma empresa. A verdadeira revolução está apenas no começo. Mas é um erro achar que a internet vai pulverizar os negócios estabelecidos e transformar o mundo num lugar onde só existam pequenas empresas. Uma das situações mais interessantes agora pode ser fazer parte de uma grande empresa que ensaia seus primeiros passos na internet. Ser o agente de mudança de uma grande empresa, ajudá-la a entender o real impacto da internet e se reinventar pode ser excitante e menos arriscado do que se aventurar de peito aberto num negócio próprio com a ilusão de que, por estar na internet, vai ser um sucesso imediato. Talvez para muitos jovens possa ser mais vantajoso aproveitar os recursos financeiros e materiais de uma grande empresa para explorar as grandes possibilidades abertas pela internet.

Veja - Como o senhor encara o processo por monopólio que o governo americano move contra a Microsoft?
GATES - Não existe liderança duradoura no mundo da tecnologia. Mesmo uma empresa dona de larga fatia do mercado por muitos anos pode rapidamente ser varrida do mapa se não desenvolver vigorosamente o produto e baixar constantemente seu preço. Portanto, se nós não desenvolvermos o Windows algum de nossos competidores vai tomar o lugar no mercado. Obviamente, queremos manter nossa posição de liderança e, por isso, investimos em pesquisa básica mais do que qualquer outro produtor de software. Mas nosso negócio não pode ser comparado aos monopólios tradicionais. Fabricar um produto líder como o Windows não é a mesma coisa que ser dono, por exemplo, de todas as minas de cobre do mundo. Nesse caso, seu poder é inabalável. Não vai aparecer da noite para o dia outra pessoa com outra montanha de cobre para competir com a sua. Com o Windows é diferente. Nosso mercado é o mais dinâmico da história do capitalismo. Por isso o fato de termos liderado o mercado por mais de vinte anos diz muito sobre nossas qualidades, mas não é uma garantia de
futuro. Temos de nos reinventar todos os dias.

Veja - Quem o senhor escolheria como o maior homem de negócios do século: Gates, Thomas Watson Jr, da IBM, ou Henry Ford?
GATES - Por mais simplista que pareça escolher um único nome, na minha opinião o empreendedor do século é, provavelmente, Alfred Sloan Jr. Ele pegou a General Motors quando a empresa não passava de um amontoado de unidades que haviam sido adquiridas desorganizadamente por seus antecessores. Sloan encarnou as melhores idéias nascentes em sua época: o senso de medida das coisas, de contato íntimo com o
consumidor, o gerenciamento de grandes organizações, a necessidade de redes de apoio financeiro. Ele criou uma organização que, pela primeira vez, entendeu como é vital ser sensível às preferências do mercado.

Veja - O senhor já doou 17 bilhões de dólares para as fundações que levam seu nome. Planeja alguma grande doação para países como o Brasil no futuro próximo?
GATES - Sim. Estou muito interessado em incentivar a pesquisa de vacinas que ajudem a debelar doenças em países não tão afortunados quanto os Estados Unidos. Essas novas vacinas podem salvar 1 milhão de vidas no mundo a cada ano. Quero incentivar a pesquisa de vacinas contra a Aids e contra a malária. Estamos contribuindo consideravelmente para uma equipe da Universidade Colúmbia que trabalha com a erradicação da mortalidade infantil em diversos partes do mundo. Eventualmente vamos investir fora dos Estados Unidos em fornecer meios de acesso à internet para pessoas que não têm como custear um provedor. Mas, por enquanto, quero manter o foco de minhas doações em atividades ligadas à saúde. Frases O medo das pessoas com
relação ao bug do milênio foi exagerado. É um erro achar que a internet vai transformar o mundo num lugar onde só existam pequenas empresas Alfred Sloan foi o maior empresário deste século. O primeiro a entender a importância de ouvir o consumidor

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