Lodo correnteza abaixo
Eu gostaria mesmo era de usar o tempo que temos para falar sobre algumas coisas que me ocorreram. Andamos sempre correndo que não temos muitas oportunidades para conversar. Daí aquela eterna superficialidade do cotidiano, aquela que faz com que, anos mais tarde, se fique imaginando o que foi feito do tempo, chateados porque tudo já passou. Como temos algum tempo agora, e sabemos disso, eu gostaria de me aprofundar em aspectos que me parecem importantes.
O que tenho em mente é uma espécie de chautauqua - é o único nome que tenho para isso -, à semelhança dos espetáculos itinerantes realizados no interior de tendas, as chautauquas, que atravessavam os Estados Unidos, este mesmo país onde hoje vivemos. As chautauquas eram séries de palestras populares, muito em voga no século XIX, que visavam edificar, divertir, aprimorar o raciocínio e fornecer cultura e informação ao espectador. Com o advento do rádio, do cinema e da televisão, que são meios de comunicação mais rápidos, as chautauquas foram extintas; só que, a meu ver, a troca não foi muito vantajosa.
Talvez por causa desses progressos, a corrente da consciência nacional flui agora com maior velocidade e é mais caudalosa; entretanto, parece estar ficando cada vez menos profunda. Os velhos canais não conseguem mais contê-la e ela, na sua busca de novos caminhos, semeia a devastação e a ruína ao longo de suas margens. Nesta chautauqua eu gostaria não de eliminar os novos canais de consciência, mas simplesmente de aprofundar os canais antigos, que ficaram entupidos do lodo formado pelos escombros das idéias rançosas e dos chavões.
"Quais são as novidades?" é a eterna pergunta, interessante, abrangente; mas, se só perguntarmos isso, obteremos uma série de banalidades e modismos, o lodo do futuro. Prefiro me preocupar em perguntar: "o que é melhor?" É um questionamento mais profundo do que abrangente, cujas respostas tendem a lançar o lodo correnteza abaixo.
Houve épocas na história da humanidade em que os canais de pensamento eram muito superficiais, mas não havia remédio. Nada de novo acontecia e o "melhor" era apenas uma questão de dogma. Hoje não é mais assim. Agora, a corrente da nossa consciência comum parece estar obliterando suas próprias margens, perdendo a direção e o propósito principal, inundando baixios, isolando planaltos, sem outro objetivo senão o de realimentar-se prodigamente.
Empacando a conversa
Parece-me natural fazer uso dos pequenos estojos de ferramentas e manuais de instrução que vêm com a máquina, regulando-a e ajustando-a eu mesmo. Meu amigo John, porém, não concorda. Prefere entregar a moto a um mecânico competente. São pontos de vista bastante generalizados e essa diferença nunca teria aumentado de proporções se não viajássemos tanto juntos, parando nos bares de beira de estrada para beber cerveja e falar o que nos vem à cabeça.
Em geral, o que nos vem à cabeça é o que estivemos pensando na meia hora ou nos 45 minutos que se passaram desde a última vez que nos falamos. Quando conversamos sobre estradas, condições climáticas, gente, recordações ou notícias, a conversa se torna naturalmente agradável. Mas quando penso no desempenho da motocicleta e trago o assunto à baila, a conversa empaca, não progride mais. Ficamos quietos, interrompendo a seqüência da conversação. É como se fôssemos dois velhos amigos, um católico e outro protestante, tomando cerveja, gozando a vida e, de repente, começássemos a falar sobre o controle de natalidade. Um gelo total.
Eu gostaria mesmo era de usar o tempo que temos para falar sobre algumas coisas que me ocorreram. Andamos sempre correndo que não temos muitas oportunidades para conversar. Daí aquela eterna superficialidade do cotidiano, aquela que faz com que, anos mais tarde, se fique imaginando o que foi feito do tempo, chateados porque tudo já passou. Como temos algum tempo agora, e sabemos disso, eu gostaria de me aprofundar em aspectos que me parecem importantes.
O que tenho em mente é uma espécie de chautauqua - é o único nome que tenho para isso -, à semelhança dos espetáculos itinerantes realizados no interior de tendas, as chautauquas, que atravessavam os Estados Unidos, este mesmo país onde hoje vivemos. As chautauquas eram séries de palestras populares, muito em voga no século XIX, que visavam edificar, divertir, aprimorar o raciocínio e fornecer cultura e informação ao espectador. Com o advento do rádio, do cinema e da televisão, que são meios de comunicação mais rápidos, as chautauquas foram extintas; só que, a meu ver, a troca não foi muito vantajosa.
Talvez por causa desses progressos, a corrente da consciência nacional flui agora com maior velocidade e é mais caudalosa; entretanto, parece estar ficando cada vez menos profunda. Os velhos canais não conseguem mais contê-la e ela, na sua busca de novos caminhos, semeia a devastação e a ruína ao longo de suas margens. Nesta chautauqua eu gostaria não de eliminar os novos canais de consciência, mas simplesmente de aprofundar os canais antigos, que ficaram entupidos do lodo formado pelos escombros das idéias rançosas e dos chavões.
"Quais são as novidades?" é a eterna pergunta, interessante, abrangente; mas, se só perguntarmos isso, obteremos uma série de banalidades e modismos, o lodo do futuro. Prefiro me preocupar em perguntar: "o que é melhor?" É um questionamento mais profundo do que abrangente, cujas respostas tendem a lançar o lodo correnteza abaixo.
Houve épocas na história da humanidade em que os canais de pensamento eram muito superficiais, mas não havia remédio. Nada de novo acontecia e o "melhor" era apenas uma questão de dogma. Hoje não é mais assim. Agora, a corrente da nossa consciência comum parece estar obliterando suas próprias margens, perdendo a direção e o propósito principal, inundando baixios, isolando planaltos, sem outro objetivo senão o de realimentar-se prodigamente.
Empacando a conversa
Parece-me natural fazer uso dos pequenos estojos de ferramentas e manuais de instrução que vêm com a máquina, regulando-a e ajustando-a eu mesmo. Meu amigo John, porém, não concorda. Prefere entregar a moto a um mecânico competente. São pontos de vista bastante generalizados e essa diferença nunca teria aumentado de proporções se não viajássemos tanto juntos, parando nos bares de beira de estrada para beber cerveja e falar o que nos vem à cabeça.
Em geral, o que nos vem à cabeça é o que estivemos pensando na meia hora ou nos 45 minutos que se passaram desde a última vez que nos falamos. Quando conversamos sobre estradas, condições climáticas, gente, recordações ou notícias, a conversa se torna naturalmente agradável. Mas quando penso no desempenho da motocicleta e trago o assunto à baila, a conversa empaca, não progride mais. Ficamos quietos, interrompendo a seqüência da conversação. É como se fôssemos dois velhos amigos, um católico e outro protestante, tomando cerveja, gozando a vida e, de repente, começássemos a falar sobre o controle de natalidade. Um gelo total.
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