Tudo como está
E quando se descobre uma coisa dessas, é como se se descobrisse um dente sem obturação. A gente nunca esquece o assunto. Põe-se a investigar, a desencavar, a revolver, a pensar sobre ele, não para distrair, mas porque ele não sai mais da cabeça. E quanto mais eu penso e remexo nesse negócio de manutenção das motos, mais irritado fica o John, o que, por sua vez, aumenta ainda mais a minha vontade de investigar o caso. Não de propósito, para aborrecê-lo, mas porque aquela irritação me parece um sinal de algo mais profundo, algo oculto, que não se percebe de imediato.
Quando se fala sobre controle de natalidade, o que faz com que a conversa esfrie não é uma questão de nascerem mais ou menos bebês. Isso é só aparente. Por baixo está um conflito de fé, um choque entre o planejamento social empírico e a fé na autoridade de Deus, revelada pelos ensinamentos da Igreja Católica. Você pode apresentar as vantagens da paternidade planejada até se acabar, que não vai adiantar nada, porque seu oponente não parte do pressuposto de que tudo o que seja prático em termos sociais é automaticamente bom. A bondade, para ele, provém de outras origens, que ele valoriza tanto quanto a conveniência social, ou até mais.
Com o John é a mesma coisa. Eu poderia provar o valor prático e a importância da manutenção das motocicletas até ficar rouco, que ele não se impressionaria. É só eu tocar nisso que seus olhos ficam vidrados e ele ou muda de assunto ou olha para o outro lado. Simplesmente não quer falar a respeito. E quanto mais tento compreender o que me faz gostar tanto de mecânica, e o que os faz odiá-la tanto, mais difícil se torna a coisa. A razão fundamental dessa diferença de opiniões, em princípio pequena, parece estar localizada num nível muito mais profundo.
Falta de capacidade deles não é. Os dois são bem inteligentes. Poderiam aprender a regular uma moto em uma hora e meia, se quisessem, e assim poupar tempo, dinheiro e preocupação. E eles sabem disso. Ou talvez não saibam, sei lá. Nunca os encosto contra a parede. É melhor deixar tudo como está.
E quando se descobre uma coisa dessas, é como se se descobrisse um dente sem obturação. A gente nunca esquece o assunto. Põe-se a investigar, a desencavar, a revolver, a pensar sobre ele, não para distrair, mas porque ele não sai mais da cabeça. E quanto mais eu penso e remexo nesse negócio de manutenção das motos, mais irritado fica o John, o que, por sua vez, aumenta ainda mais a minha vontade de investigar o caso. Não de propósito, para aborrecê-lo, mas porque aquela irritação me parece um sinal de algo mais profundo, algo oculto, que não se percebe de imediato.
Quando se fala sobre controle de natalidade, o que faz com que a conversa esfrie não é uma questão de nascerem mais ou menos bebês. Isso é só aparente. Por baixo está um conflito de fé, um choque entre o planejamento social empírico e a fé na autoridade de Deus, revelada pelos ensinamentos da Igreja Católica. Você pode apresentar as vantagens da paternidade planejada até se acabar, que não vai adiantar nada, porque seu oponente não parte do pressuposto de que tudo o que seja prático em termos sociais é automaticamente bom. A bondade, para ele, provém de outras origens, que ele valoriza tanto quanto a conveniência social, ou até mais.
Com o John é a mesma coisa. Eu poderia provar o valor prático e a importância da manutenção das motocicletas até ficar rouco, que ele não se impressionaria. É só eu tocar nisso que seus olhos ficam vidrados e ele ou muda de assunto ou olha para o outro lado. Simplesmente não quer falar a respeito. E quanto mais tento compreender o que me faz gostar tanto de mecânica, e o que os faz odiá-la tanto, mais difícil se torna a coisa. A razão fundamental dessa diferença de opiniões, em princípio pequena, parece estar localizada num nível muito mais profundo.
Falta de capacidade deles não é. Os dois são bem inteligentes. Poderiam aprender a regular uma moto em uma hora e meia, se quisessem, e assim poupar tempo, dinheiro e preocupação. E eles sabem disso. Ou talvez não saibam, sei lá. Nunca os encosto contra a parede. É melhor deixar tudo como está.
Comentários