Nem havia tanta gente na pista de dança, mas uma exuberante pessoa loira já estava de joelhos, movimentando-se amiúde enquanto mamava um homem, num cantinho discreto da balada.
Loura era a longa peruca que cobria parte de um rosto barbudo. Longa também era sua empolgação, facilmente perceptível para quem passava a seu lado, pelos gemidos que soltava.
Outro rapaz, animado com aquela brincadeira, quis ver mais de perto e se aproximou, excitado. Levou um tapinha na bunda e tascou de volta um beijo no chupado. Foi assim que o que eram dois virou três e uma profusão de mãos e beijos.
Ao redor, quase tudo também era bunda, peito, pau e vagina de fora. Uma brisa de tesão pairava sobre as pessoas na Balada Nudista, uma festa que acontece em uma casa liberal em Moema, na zona sul de São Paulo.
"Isso aqui é pura diversidade. É o melhor exemplo da diversidade", dizia um senhor, vestido apenas com um paletó e uma gravata borboleta, admirado com a desenvoltura do público.
'Amo mostrar os peitos'
A ideia de uma festa com todo mundo nu partiu de Roberto Passero, 58, adepto do nudismo há mais de três décadas. Em junho de 2022, ele achou por bem juntar uns peladões numa tardezinha na Spicy, casa da qual é sócio, conhecida entre praticantes de swing. Dali vieram outras edições da matinê, e depois a primeira versão à noite, em janeiro deste ano.
O espaço com dois andares foi dividido para a festa. Na primeira área, chamada por Passero de "areia", estão a pista de dança, o lounge de entrada e o fumódromo — é onde acontecem o flerte e o papo mais "social" de quem está se conhecendo. A segunda é a "trilha", o caminho se o negócio esquenta, quando as pessoas sobem as escadas para um segundo ambiente, um labirinto escurinho, com cabines, salas e camas, onde tudo é permitido.
"Aqui, o saquinho para você colocar suas coisas", abordava um funcionário da casa, logo na recepção, entregando um saco plástico transparente a cada pessoa que chegava. O homem magro, de tímido topete e uma das poucas pessoas vestidas na festa, conduzia o público até uma sala nos fundos, para se despirem. Quem não quisesse ficar totalmente nu podia recorrer a uma toalha para se enrolar.
Fernanda*, 37, tirou tudo, exceto a calcinha. "Amo mostrar meus peitos", contou. Fartos, eles balançavam livres da restrição do sutiã. Preferia provocar os olhares aos poucos, disse. "Guardei o restante para um momento mais íntimo", emendou, rindo.
A enfermeira é casada com o administrador Gustavo*, 39, e frequenta eventos liberais há sete anos. "Estou acostumada com swing, mas essa é a festa mais diversa que já vi. Eu amei." Os dois são bissexuais e procuravam "novos amigos", como ela diz, para se divertir. "Geralmente nos conhecemos na festa, transamos, e depois a gente estica a noite em casa. Moramos em Moema, então é ótimo."
A empolgação de Fernanda estava em se exibir nua em uma balada. "Curtimos exibicionismo, e essa é uma festa para dançar e trepar", explica. "Sem preocupação alguma. Todo mundo se respeita, ninguém invade o espaço de ninguém."
Naquela noite, ela e o marido encontram Mário* e Marcela*, um jovem casal de 20 e poucos anos que estavam indo pela primeira vez a uma casa liberal. Os quatro se conheceram num aplicativo para casais e combinaram de ir à festa. "Eles também são bissexuais, então curtimos bastante os quatro", Fernanda diria dias depois, por telefone.
Na trilha do sexo
Ao contrário do que é praxe em casa de swing, frequentada por um público majoritariamente heterossexual, a balada nudista misturava também bissexuais, gays e lésbicas que se divertiam na noite diferentona. Um casal com mais de 50 anos dançava agarradinho, como num baile, enquanto jovens com metade da idade deles se aglomeravam em pequenos grupos de paquera.
"A nudez é uma liberdade", afirmava Bruna Fortuna, uma mulher alta, de seios fartos e pernas grossas, com seus 30 e poucos anos. Simpática e falante, ela conversava com as pessoas no fumódromo, poucas horas antes de subir ao palco e se apresentar: ela é stripper e foi contratada para animar a noite.
Bruna começou o show por volta das 2h da manhã. Depois de rebolar e se pendurar num ferro de pole dance, assumiu uma garrafa de tequila e, em cima do balcão, derramava a bebida na boca das pessoas que se voluntariaram em uma fila. Depois do gole generoso no gargalo da garrafa, a stripper enfiava a cabeça de homens e mulheres entre seus peitos e chacoalhava-os, ativando um êxtase inexplicável em cada um deles. Dali, já saíam afoitos, à caça.
Um rapaz magro, com uma tatuagem no braço, assim que bebeu da tequila e sentiu o cheiro do corpo de Bruna, atravessou a pista excitado. O pênis grande, brilhante, chamava a atenção. Uma mulher não pensou duas vezes vendo aquilo avantajado, e o alisou. Beijaram-se e sumiram num corredor em direção ao banheiro.
Bem no pé da escada, um homem alto, sozinho, observava atento a cena. Caçava uma oportunidade para arranjar também uma companhia. Com uma mão, segurava uma garrafinha de cerveja; com a outra, massageava-se.
Passava das 3h da manhã quando, enfim, a Spicy abriu o segundo piso da casa. O público já estava atiçado a fim de desbravar a "trilha" escura. A pista começou a ficar mais vazia, enquanto as pessoas se enfurnavam em cabines e corredores labirínticos ou se jogavam, em coletivo, nas grandes camas de sexo grupal.
Era o que faltava para o homem solitário sumir na escuridão.
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