Debbie Israel, rabina em Watsonville, Califórnia, costumava se descrever como viciada em livros. Isso antes de a pandemia chegar e, junto com uma sensação de inércia que permeou todos os aspectos de sua vida, torpedear seu amor pela leitura. De repente, ela demorava semanas para terminar até mesmo um livro mais leve.
“E nem venha me falar dos audiolivros”, escreveu ela quando perguntamos aos nossos leitores sobre suas experiências com crises de leitura. Quando ela saía de casa para o trabalho, os audiolivros “eram um modo de vida. Agora, ouvi-los é uma tarefa árdua”.
Para sair da rotina, Israel está relendo, pela quarta ou quinta vez, seu livro favorito de todos os tempos, As a Driven Leaf, de Milton Steinberg.
Retornar a um livro amado é uma das muitas estratégias para combater crises de leitura. Se você está se vendo em uma situação parecida, se seu amor pelos livros foi declinando por causa da pandemia, do ciclo de notícias, de uma perda pessoal ou de algo mais nebuloso, uma dessas técnicas – selecionadas a partir das respostas de leitores – pode ajudar você a reacender sua relação com a leitura.
Releia um velho favorito
No início de 2021, Mary Reed, de St. Paul, Minnesota, estava vivendo uma experiência de “muitos sapos e muito poucos príncipes” com os livros novos que tentava ler. Então ela decidiu revisitar a série Inspetor Gamache, de Louise Penny, os livros Monkeewrench, de P.J. Tracy, e a série Expanse, de James S.A. Corey. “Demorou cinco meses”, escreveu ela, “mas essas séries me ajudaram nos tempos difíceis de tentar vários livros novos e jogá-los de lado depois de alguns capítulos”.
Mergulhar de novo em velhos favoritos a levou a pegar – e curtir – novos livros. “Acho que durante aquele segundo ano de pandemia, eu só precisava passar um tempo com alguns velhos amigos literários”, escreveu ela. “Foi reconfortante”.
Para Elisabeth Wooster, de Salem, Virgínia, foi The Age of Innocence, de Edith Wharton, que resolveu tudo. “Ler algo ótimo me deixa ansiosa para ler algo novo”, escreveu ela.
Alterne os gêneros
Alyssa Neumann, do Brooklyn, passou a maior parte de 2022 em crise com as leituras. “O que me ajudou foi mudar completamente os gêneros que eu tinha devorado até então (romance e ficção científica) e pegar mangá pela primeira vez desde os 13 anos”, escreveu ela. Depois de devorar a série Spy x Family, de Tatsuya Endo, ela finalmente conseguiu pegar um romance: Black Sun, de Rebecca Roanhorse, “uma fantasia com o melhor capítulo de abertura que já li”.
A solução para David Richards, de Deep River, Connecticut, é “deixar de lado o livro em que estou empacado e começar um livro de algum gênero muito diferente”. Mudar de não ficção para romance, por exemplo, “reacende meu desejo de ler e, quando termino o romance, volto para o livro de não ficção”.
Mude de formatos
Marguerite Katchen, de Cincinnati, tinha o hábito de ouvir audiolivros, terminava um livro por semana enquanto cuidava do jardim ou fazia faxina. “Mas perdi o interesse por todos eles”, escreveu ela. Aí ela começou a ler livros físicos antes de dormir, o que pareceu funcionar: “Agora, o último audiolivro que tentei começar parece novo de novo”, escreveu ela.
Hannah Boardman, de Chicago, faz o oposto. “Quando não tenho vontade de ler, pego um audiolivro na biblioteca e ouço enquanto trabalho”, escreveu ela. “Isso me lembra por que eu amo ler e muitas vezes, quando o livro acaba, estou pronta para pegar um livro físico de novo”.
Defina metas
Você se lembra daqueles quadros de leitura da escola? Alguns leitores ainda encontram valor em acumular estrelas douradas (metafóricas). Barbara Lariviere, de Haddonfield, Nova Jersey, se obriga a ler dez páginas por dia até terminar o livro que a faz se sentir “desanimada” e, em seguida, se recompensa com “alguma coisa divertida”. “Também tem o método ‘dez minutos por dia’, que me levou a enfrentar Guerra e Paz, Dom Quixote e Quarteto de Alexandria.”
Comece pelos pequenos
Ellen Fowler Hummel, de Wilmette, Illinois, teve uma crise de leitura inesperada em abril, quando contraiu covid e sua atenção desapareceu. “Achei que teria dias de leitura enquanto me recuperava, mas meus olhos e minha cabeça doíam, e ler era a última coisa que eu sentia vontade de fazer”, escreveu ela. “Certa manhã, peguei The Best American Short Stories 2011, que estava na estante dos não lidos. Procurei o conto mais curto no índice e disse a mim mesma que iria ler só esse. E foi o que fiz. No dia seguinte, li outro. E, no dia seguinte, li um conto de Runaway, de Alice Munro, que também estava nas minhas prateleiras. As histórias eram tão diferentes umas das outras que me lembraram novamente por que gosto de ler.”
Kris Motyka, de Naples, Flórida, tem uma tática semelhante: abre um livro de poesia e lê alguns poemas aleatórios. “Abro livros de Thoreau e Emerson em qualquer página e passo cinco minutos imersa nas palavras”, escreveu Motyka. “Depois de alguns dias ou semanas, estou pronta para recomeçar a ler livros inteiros.”
Navegue pela estante de livros infantis
Tracy Kephart, de Ohio Township, Pensilvânia, parou de ler para seu filho há alguns anos, mas, quando ela se vê em crise de leitura, pega um livro infantil ou infanto-juvenil para retomar ritmo. “Reconheci que, mesmo nos piores bloqueios de leitura, sempre adorei ler para meu filho, e parte disso era a magia da leitura fácil dos livros escolares de que estávamos gostando na época”, escreveu ela. “Eu sei que poderia ler um conto, por exemplo, mas os livros infantis geralmente são escritos para inspirar o amor pela leitura, e isso sempre funciona para mim.”
Janet Reid, do Brooklyn, procura uma prosa ainda mais simples. “Vivi momentos em que tudo tinha gosto de cinza”, escreveu ela. “E a ÚNICA coisa que me salvou foram os livros ilustrados. Cores brilhantes, histórias visuais e de texto – e sempre, sempre, sempre uma sensação de maravilhamento pelo mundo.”
Deixe se guiar pela sorte
Às vezes, sair da crise é simplesmente uma questão de encontrar o livro certo. Lori Michalec, de Arlington, Washington, vai à biblioteca, pega um livro com um título interessante e lê o primeiro parágrafo. “Se me sinto atraída, leio o livro todo”, escreveu ela. “Foi assim que encontrei alguns dos meus livros favoritos.”
Laraine Wright, de Carbondale, Illinois, tem uma abordagem semelhante. “Uma das minhas estratégias é vagar pelos corredores da minha biblioteca pública e ‘surfar’ nas prateleiras”, escreveu ela. “Fico muito sobrecarregada com as listas de best-sellers e muitas vezes abandono esses livros, acabo perdendo meu tempo. Mas a biblioteca e a livraria, nos fundos e nos corredores empoeirados, guardam grandes joias que me trazem de volta à leitura ávida.”
Procure ajuda profissional
É claro que bibliotecários e funcionários de livrarias têm muita sabedoria para compartilhar. Patricia Constantine, de Frederick, Maryland, costuma entrar na livraria e pedir ao funcionário que recomende três livros. “Quase sempre compro os três, mesmo tendo dúvidas”, escreveu ela. “Raramente me decepciono e com certeza já li livros que de outra forma não leria.”
Entre para um clube do livro
Para alguns leitores, o compromisso é a chave para sair das crises de leitura. Mas, para Diane Plesha, de Bellingham, Washington, ingressar em um clube do livro trouxe muitos outros benefícios. Depois que se aposentou como professora do ensino fundamental, ela não tinha vontade de pegar nenhum livro para ler, embora pensasse na leitura como seu “tempo livre pessoal”. Quatro anos atrás, ela viu um post no Facebook que a levou a um clube do livro local – e de volta ao seu amor pelos livros.
“Nós lemos uma ampla seleção eclética de livros, alguns temas pesados, alguns intrigantes, algumas aventuras, alguns mistérios mais leves, e a lista continua”, escreveu ela. O clube também foi uma tábua de salvação durante a pandemia. “O resultado mais maravilhoso de ler e discutir livros com esse grupo diverso de mulheres é a amizade e o apoio que evoluíram naturalmente ao longo do tempo.”
Abandone os livros que não trazem alegria
A vida já é estressante o suficiente sem a pressão de terminar cada livro que você começa. Kim Valeika, de Layton, Utah, tem uma regra: “Se o livro não me fisga até um terço do caminho, ele volta para a biblioteca!”.
Às vezes, Victoria Bowles, de Fort Myers, Flórida, retorna a um livro que abandonou. “A pior parte da minha crise de leitura foi no ano passado, quando eu simplesmente não conseguia entender quase nada que começava a ler”, escreveu ela. “Eu odiei Hamnet e desisti – mas depois tentei de novo no inverno passado e gostei. Isso me fez perceber que tempo, lugar e humor são fundamentais para o prazer da leitura. Agora não hesito em parar de ler um livro se não estiver curtindo.”
Faça algo completamente diferente
Tom Jerome, de Bend, Oregon, foge para as montanhas, por assim dizer. “Simplesmente faço uma pausa para dar uma volta pelo jardim ou sair para caminhar”, escreveu ele. “Isso me reconecta com a realidade fora da minha cabeça e os pensamentos das outras pessoas.”
Heather Riley, de San Diego, recorre às revistas, “que satisfazem a necessidade básica, mas geralmente exigem menos atenção e cobrem mais tópicos”. Ela também assiste mais TV durante os bloqueios de leitura. “E, depois de alguns dias de mais TV e menos livros, acabo gravitando de volta aos livros”, escreveu ela.
Pense no que você quer extrair dos livros
Aqui vai uma pergunta filosófica para você: por que, exatamente, você está lendo? Para Anne Houston, de Easton, Pensilvânia, a resposta é escapar da rotina. “Demorei um tempo para perceber que as crises de leitura acontecem porque aquilo que estou tentando ler não tem a ver com o que estou sentindo naquele momento”, escreveu ela. “Talvez seja muito focado no enredo em um momento em que estou me sentindo mais meditativa, ou muito sério em um momento em que só preciso de uma pausa e um pouco de leveza. A leitura serve a muitos propósitos para mim, nem sempre são os mesmos.”
Tente se esforçar um pouco
Leah Carey, de Chester, Vermont, foi uma das poucas entrevistadas que sugeriu um regime estrito das histórias que você mais quer evitar – mas ela tem um argumento interessante. “Para mim, a melhor maneira de sair de uma crise de leitura é enfrentar algo que vai ser emocionalmente difícil”, escreveu ela.
“Sei que estou evitando algo mais difícil quando fico procurando outro livro de mistério ou uma leitura de praia em vez do livro que terá cenas indeléveis de trauma ou perda, o livro que vai me fazer chorar e vai ficar comigo para toda a vida. Meu último desse tipo: Shuggie Bain, de Douglas Stuart. E quando sobrevivi à sua gloriosa humanidade, li Young Mungo de uma vez só. Depois de livros assim, me sinto transformada. E não estou mais em crise de leitura – sou capaz de enfrentar qualquer autor que apareça no caminho.”
Tenha fé
Para muitos entrevistados, a conclusão foi: os bloqueios de leitura não duram para sempre. Se não forem tratados, geralmente desaparecem por conta própria.
Holly Vestal, de Kalamazoo, Michigan, mantém uma lista dos livros que lê todos os anos desde 1995. “Olhando para trás, posso ver que tive crises de leitura (embora não soubesse que tinham esse nome) todo mês de janeiro”, escreveu ela. “Só mais recentemente consegui identificar que janeiro é quando costumo passar minhas noites conversando com amigos e assistindo TV. Então decidi me dar permissão para não me estressar com isso. Sempre tenho uma pilha de bons livros à minha espera. Talvez não seja exatamente uma estratégia – mas aprendi a não me preocupar com as coisas pequenas e ter em mente que sou uma leitora ávida para a vida toda!”.
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